sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Para o ano de 2010

Teremos Pipoca, Carnaval, Copa do Mundo e Urna. Que sejamos sábios, ou pelo menos, ....

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Enquanto houver presente, haverá amanhã?

Mudança do clima. O clima na maioria dos lugares se tornará mais quente; em alguns, no entanto, a temperatura será mais fria. No Canadá, na Rússia e na Escandinávia, por exemplo, devem ocorrer processos mais rápidos de aquecimento. Isso se deve, em parte, ao feedback positivo causado pelo degelo, que será mais intenso. A boa notícia é que plantações e árvores crescerão melhor. A má é que grande parte das áreas da superfície, da mais quente à mais fria, devem se aquecer mais do que a média. O aquecimento será mais intenso no interior dos continentes, porque a circulação dos oceanos terá influência moderadora sobre as áreas costeiras.
Costa fria: Os oceanos vão retirar o calor da superfície nas áreas costeiras ou, pelo menos, daquelas que restarem depois que o nível dos mares subir
O quente fica mais quenteAlgumas das regiões mais quentes devem sofrer algumas das maiores elevações de temperatura. Grande parte da Ásia do oeste da China até a Arábia Saudita, que regularmente enfrenta temperaturas acima de 40ºC, deve sofrer elevações de 7ºC até o ano 2100. O norte da África e o sul da Europa também devem passar por grande aquecimento. Países com forte influência do mar e clima equilibrado hoje como Irlanda, Nova Zelândia e Chile sofrerão menores mudanças. Outras tendências no planeta, muitas já evidentes, apontam aquecimento maior à noite durante o inverno. Isso sugere menos neve e mais chuva, além de estações de cultivo sem geadas prolongadas nas latitudes medianas.
Europa resfriadaA Corrente do Golfo, parte de um sistema de circulação do oceano no Atlântico Norte, é movida pela formação de gelo no Ártico. Banha o oeste da Europa com águas quentes, especialmente no inverno, e mantém as temperaturas mais altas do que em outros pontos da mesma latitude. Cientistas do Instituto para Pesquisa do Impacto Climático em Potsdam, na Alemanha, prevêem o possível colapso da Corrente do Golfo por causa do aquecimento global. Como resultado, boa parte da Europa irá esfriar.
Fluxo de água quenteA imagem do oceano mostra que a água congelada deixa para trás água salina densa, que desce até o fundo e abre espaço para um fluxo de água quente dos trópicos
Mudanças de rotaEstudos científicos revelam que menos gelo irá se formar por causa do aquecimento do mundo. Essa previsão, associada ao maior fluxo de água doce no Ártico, poderia encerrar o mecanismo de formação de água profunda, que cria a Corrente do Golfo. No início de 2001, pesquisas norueguesas forneceram evidências de que as correntes da região na direção norte diminuíram em 20% desde 1950.
Diferenças na hidrologiaA temperatura não será a única mudança no próximo século. Em muitos lugares, haverá alterações no ciclo hidrológico a circulação de água entre o mar, a atmosfera e a superfície da Terra e, portanto, nos padrões de chuva, enchentes e seca, no fluxo dos rios e na vegetação.
A água irá desaparecer de lugares onde é esperada e necessária e reaparecerá onde é inesperada, ou simplesmente se tornar imprevisível. Como o aquecimento torna a atmosfera mais energética, as taxas de evaporação e formação de nuvens e tempestades deverão aumentar, embora os efeitos dessas mudanças possam variar conforme a localização.
Nem uma gotaA falta de chuva está esvaziando as torneiras e os canais de irrigação do norte da África e Ásia Central até o sul da Europa
Mais secaA maior evaporação poderá secar o interior dos continentes durante o próximo século. Desertos irão aumentar; oásis, morrer; e fluxo de rios, diminuir, algumas vezes com resultados catastróficos. Ninguém pode prever com precisão o futuro dos rios, mas um estudo sugere declínio de 40% no fluxo do rio Indo, a única fonte de água do Paquistão e um dos maiores sistemas de irrigação do mundo. A mesma pesquisa estima perda de 30% no fluxo do rio Niger, que banha cinco países áridos no oeste da África, e queda de 10% no Nilo, a água vital do Egito e do Sudão.
A Ásia Central pode esperar declínio ainda mais drástico nos rios que escoam no mar de Aral, que já está virtualmente secando por causa da irrigação. Outros mares em risco incluem o Cáspio, o Grande Lago Salgado, nos Estados Unidos, e os lagos Chade, Tanganica e Malauí, na África. Modelos climáticos indicam também a probabilidade de ocorrer mais secas na Europa, na América do Norte, no centro e no oeste da Austrália. Alguns rios australianos poderiam perder metade de seu fluxo, enquanto o outback (sertão australiano) se tornaria mais seco.
Atualmente, 1,7 bilhão de pessoas vive em países que os hidrologistas descrevem como sob estresse hídrico, porque usam mais de 1/5 de toda a água teoricamente disponível. Estima-se que esse número irá subir para 5 bilhões em 2025. Esse cenário aumenta o espectro da guerra pela obtenção de água. Os países lutariam para controlar o mais precioso de todos os recursos.
A areia se espalhaCom a diminuição da chuva na maior parte do oeste da África, o deserto do Saara está se expandindo
O deserto que era verdePinturas em rochas mostram que, no passado, o Saara foi uma região de criação de gado. Pólen fossilizado também revela que existiam florestas, rios e lagos. O Saara se transformou em deserto em poucas décadas, há cerca de 5.500 anos, e poderia voltar ao seu estado original rapidamente, segundo alguns pesquisadores. A região está em uma situação-limite, porque sua vegetação depende dos feedbacks de reforço entre a atmosfera e a vegetação. O estado atual, com pouca vegetação, produz chuvas escassas. Pequeno aumento na quantidade delas (causado pelo aquecimento global) e até na vegetação seria suficiente para fazer o Saara voltar a ser uma selva.
Como o Saara é hojeA paisagem atual é árida e contém pouca umidade. Há, portanto, pouca evaporação e nenhuma chuva. A maior parte dos modelos climáticos sugere que o Saara ficará ainda mais seco e acarretará a desertificação de áreas próximas.
Como seria amanhãCaso o Saara fosse coberto pela vegetação, a terra iria absorver mais umidade. Resultado: mais chuvas e maior evaporação.
Aumento das enchentesEvaporação mais rápida proporciona aumento da umidade no ar. O calor extra e a umidade irão gerar tempestades tropicais mais intensas. Haverá mais chuva nas regiões costeiras, particularmente, e ao longo das rotas das tempestades. A média anual de chuvas aumentou em 10% durante o século 20. Alguns modelos presumem que tempestades inesperadas na várzea do Mississippi, por exemplo, tendem a deixar esse rio ainda mais propenso a enchentes.
O Caribe, o sudeste da Ásia e outras regiões já suscetíveis a furacões e ciclones passam a ter ventos ainda mais fortes, chuvas mais pesadas e enchentes relâmpagos. Partes do sistema de monções da Ásia podem ser ainda mais intensas. Mas a monção também será menos previsível e até mais freqüente. Com maior quantidade de calor na atmosfera tropical e no oceano, o El Niño (ver à direita) tem condições de se tornar um evento quase permanente.
O mar encolheuO mar de Aral já foi o quarto maior mar interno do mundo. Mas sistemas de irrigação acabaram reduzindo-o imensamente. A salinidade triplicou, a pesca acabou. E o aquecimento global pode fazer esse cenário ficar ainda pior.
DoençasUm mundo mais quente permitirá que mosquitos levem doenças, como malária e dengue, a países fora dos trópicos.
O que é o El Niño?Fenômeno natural cuja existência foi rastreada durante milhares de anos, é a reversão periódica dos ventos e das correntes oceânicas na área tropical do oceano Pacífico, que dura entre nove meses e um ano. Esse processo drena os sistemas pluviais da Ásia e provoca secas em áreas úmidas, como Indonésia e Austrália. Enquanto isso, as ilhas dos Mares do Sul, normalmente plácidas, e a costa do Pacífico nas Américas, muito seca, sofrem com tempestades.
"O Aquecimento Global"Autor: Fred PearceEditora: PublifolhaPáginas: 72

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O hálito do amanhã.

O amanhã. Do lat., mannãa. Amanhã virá após a noite. A noite é o reino da indistinção. A turgidez da noite cinge todas as coisas singulares em um todo indistinto. Na noite o sono vem e a vigília cessa. No sono a negra noite torna igual, o diferente. Destrói as fronteiras que os humanos teimam em construir. Na noite o hálito do vento sul sopra, e ninguém o vê. Quando da aurora, a visão rompe e classifica, distingue. Hoje, aguardamos a aurora, pois o crepúsculo abateu-se sobre nós. Tudo é igual.
Por Marcos Vinícus - o que virá, já está entre nós.

sábado, 28 de novembro de 2009

Sobre o antes e o depois - ou o instante -

Do lat., ante; Do lat., depost. Do lat., hac hora; A referência do antes e do depois é o agora. O agora carrega o antes como condição de ser. O depois carrega a distancia entre o que é e o que no futuro lhe determina. O antes e o depois encontram-se no instante. A eternidade habita o instante. Expresso no que não mais é e o que ainda não. No instante encontra-se o estar. A convergência é a essência do tempo na instantaneidade da ocorrência. A condição do sentir é dar-se ao instante. Sentir é sucumbir-se ao instante. Não há morte no instante.

Por Marcos Vinícius.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Sobre o gosto.

Do lat. gustus. Imerso nas papilas gustativas. No gosto expressa-se a totalidade do sentir, pois no gosto apresenta-se a condição mesma do afetar-se. Para sentir o gosto é necessário estar disponível para sentir. Só há gosto quando há o sentir. Tocamos a insondabilidade do sentir no gosto de fruta, de picolé, de feijão, de maracujá, de sal, de açúcar, de gelo, de x.., No gosto pairo no mais puro sentir. A imposição de valores não invalida o sentir, apenas o proíbe de expressar-se, entretanto, o gosto permanece. No gosto sou boca. A boca abre-se, contrai-se, esfrega o intruso nas suas cavidades. O esfregar é a essência do gosto. No gosto, o algo que toca deixa o seu rastro. No gosto habita o vivo.
Por Marcos Vinícius.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sobre o limite da troca.

Pensava, outrora, se haveria alguma região em que o reino das trocas não invadiria. Estava enganado. Com a hegemonia do mercado de trocas, absolutamente, nada, tem valor em si. O capital compra tudo, da agulha ao foguete, do perdão ao amor. Afinal, em um mundo mediado pela troca, valor em si não há. Venceu o Visa, o Mastecard.

De Marcos para o Daniel.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Sobre os limites da linguagem.

Chove: verdadeiro ou falso;

Não chove: verdadeiro ou falso;

Chove ou não chove: sempre verdadeiro.

O solteiro está casado: sempre falso.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O que seria de nós sem as idiossincrasias - Para Marcos Eduardo

As construções aqui expressas não tocam o sentido do real, tentam, teimosamente, desmascarar os nossos desejos de sentido, sobretudo, aqueles fundados em idiossincrasias tomadas como verdades ou a verdade. Em momento algum trata-se do acesso à verdade e sim de expectativas fortes de sentido. Talvez as construções expressariam, apenas, problemas de linguagem, ou mera expectativa de sobrevivência. Exporei as criticas em proposições:

1 – A dor é um fenômeno real.
1.1 – A condição da dor é o sentir.
1.2 – A condição do sentir é o estar vivo.
1.3 – Faz parte da vida, então a dor.

2 – A dor é uma composição específica de sentido.
2.1 – A composição do sentido esgota-se na sua expressão.
2.2 – A organização da expressão funda-se em condições inerentes ao próprio sentir.
2.3 – O próprio do sentir é o viver.
2.4 - Faz parte do viver a composição específica que é a dor.

Deste modo, a dor é um fenômeno real do sentir e habita a condição mesma do vivo. Porém, nos humanos a organização do sentir enquanto dor é indagada. A presença da dor, como expressão de uma determinada possibilidade de sentir, é signo do quê? Se há dor, faz sentido a existência? Há dor por quê? Potencializando a pergunta: se há dor, e a dor pode incidir em qualquer um, em qualquer circunstância, poderia a sua incidência ser tomada como signo de um aprendizado, ou do resgate de um erro? Poderia a dor ser fruto de uma escolha, de um ato deliberado com fins ao aprendizado? Qual é o sentido da dor se incide sobre um inocente? A dor sobre o inocente pode ser fruto da escolha do mesmo, ou ser expressão de uma troca, com fins a um aprendizado? Neste momento entra em cena a noção de sofrimento, pois a dor passa a ser vista como uma ação que incide sobre alguém com fins a purificá-lo, puni-lo ou melhorá-lo, afinal, qual é a plausibilidade racional desta compreensão?

1 – O sofrimento é resultado da escolha deliberada da dor, realizada, antes mesmo da ocorrência da dor. Neste argumento tanto a incidência da dor como a sua realização seriam resultado da escolha do sujeito que se coloca no lugar do sofredor. Compreende-se este ato como resgate de um erro originário ou como ganho de compreensão frente ao fenômeno mesmo do sentir. Pois do ponto de vista desta análise, os sujeitos ou estão apreendendo, ou resgatando algum erro com fins ao aprendizado. O sofrimento seria um modo de aprender, de melhorar as condições da sua experiência. Neste caso específico o sofrimento seria parte de um sentido maior e se esvairia na interpretação final. A dor e o sofrimento seriam expiados pelo fim que é a evolução, como também, pulverizar-se-ia a ideia do mal, compreendido como um fim em si, sobretudo, a incidência do sofrimento sobre o inocente, pois não haveria um inocente em si, e muito menos alguém que deliberadamente faça alguém sofrer, pois se o fez, não sabia que o fazia, logo, a ignorância passa a ser a justificação do sofrimento sobre um inocente, sendo a recuperação, o receber, por escolha, o reenvio no sofrimento. A justiça, ou o equilíbrio entre a vítima e o carrasco dar-se-ia, quando, em um futuro plausível, viessem a comemorar o seu aprendizado em um estágio superior de compreensão.

Seria a dor signo do sofrimento? Ou o insondável da dor reside na sua eficácia em transtornar o sentido? Não seria a dor um indizível, expresso, apenas, em um grito. Deste modo, ou a dor é um modo de expressão ou não é. Penso que mesmo sendo sem sentido a dor é, e enquanto tal, justifica-se. Não é necessário, e nem tem de ser possível, que a dor seja compreendida com um sistema de signos, fundado em uma expectativa de recompensas e retribuições. Talvez, a necessidade de justiça ou moral não seja capaz de atribuir a dor desejos que lhe sejam extrínsecos, pois a dor é a expressão mesma do viver, sendo o viver condição última de avaliação, logo, para avaliá-la deveríamos saltar a nossa própria sombra. Sem mais delongas, a dor é, enquanto é, expressa o viver, na sua singularidade.

Marcos Vinícius.







quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sobre a delícia de se sentir.

Chaga. Do lat. plãga. Ferida, lesão. Invadido, submetido, marcado por intermédio de algo ou alguém. Purulento, amarelado na curvatura do osso, sangrado. Fétido, putrefato, apodrecido no e pelo tempo. Marca a exposição da carne ao que fere, revela o ferido. Habita na chaga o sentir.
Marcos Vinicius.

Sobre o Lula e a lula.

Invisível – quem nunca é visto não é lembrado. “Quem não se faz ver ou ouvir será esquecido”. Um velho adágio grego.

Rio - Lula comerá lula na abertura das Olimpíadas em 2016? Certamente. Eta nordestino esperto.
Marcos Vinícius.

sábado, 3 de outubro de 2009

Para Natália

Eu vi o rosto da Dor.
E ele tem nome.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sobre a gratidão

Do lat. Gratus. Grato é o estado de graça. A graça é um receber. Em todo receber existe o recebido, o doado e o ocorrido. O doado sustenta-se em um lá, um forasteiro que vem de longe. No doado vislumbra-se a face do doador. O doador vem ao encontro quando o doado encontra-se na graça do recebido. O encontro do doado dá-se no recebido. O recebido é um aqui, que em um modo dado, dispõe a graça. Na celebração da graça encontra-se o doador, o doado e o recebido. O nome deste é o ocorrido. No ocorrido celebra-se as saturnais do viver, quando na graça celebra-se a gratidão. A gratidão é o amor sereno e tranqüilo ao que brota no ocorrido. Enquanto houver sol, sempre haverá o abrigo da luz.

Por Marcos Vinícius.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Para o Hugo e o Francisco – amigos de debate.

Qual é a duração do êxtase do belo? Pode o belo durar além da beleza e na injustiça? O êxtase do belo emerge no encontro com a beleza. Se considerarmos que a duração vincula-se ao encontro, a retirada do sujeito do humor específico roubar-lhe-ia a duração do belo no vislumbre da beleza. Portanto, se o estado de afetação dos sujeitos é a condição para a plenitude do belo no seu encontro com a beleza, qualquer alteração que o suspenda, trará consigo a fuga do belo. Assim, caro amigo Hugo, quanto diante da beleza, resguarde-se do contato com outros modos de afetação, pois os mesmos lhe retiraram a experiência de espanto e gratificação inerente aos fenômenos da beleza. Assim, melhor seria, para a fruição do belo, que não estivéssemos sujeitos às injustiças, que a meu ver, são as maiores responsáveis pela cegueira que se instalou no meio de nós. Suspeito que no humor advindo da injustiça o belo tornar-se-ia impossível, a menos que a maior beleza seja a revolta?

Por Marcos Vinícius.

sábado, 19 de setembro de 2009

Sobre o deixar.


O deixar é um abandonar, um soltar, um desligar. Abandonar é demorar-se em. No abandono encontra-se o estar. O Abandonado entrelaça-se com a ocorrência, cavalga no seu dorso. A vivência da ocorrência dá-se na compreensão da exuberância. Na exuberância habita o aconchego do estar. Ao mesmo tempo em que o deixar retira, loca na exuberância da ocorrência a tensão do estar. Neste estado de humor reside o vivo. No deixar celebramos o estar junto com fins a abandonar. Pode o mundo das relações sociais, pode o jogo pueril cósmico, pode as nossas esperanças, pode a certeza da morte e do NADA invalidarem o estado de humor da vivência da ocorrência no estar? A filosofia do experimentar contraria a sentença racional de que só faz sentido se todo ocorrência o fizer, porém não é suficiente o deixar, o abandonar, o soltar? Na brutalidade do instante reside a essência do abandonar. Entreter-se na celebração da exuberância é o antídoto contra as exigências de sentido aneladas pela razão. Não seria a razão um impedimento para a fruição da ocorrência? Pode a razão deleitar-se com o sem sentido, ou deveríamos no reeducar para nele abandonarmo-nos?

Recolhido, alguém, já reparou o repolho – Brassica oleracea?

Por Marcos Vinícius.

sábado, 12 de setembro de 2009

Sobre ao mesmo tempo agora.

Ao mesmo tempo agora é o signo de uma crise, de uma dor. É um retrato da angústia que ronda o humano no momento da descoberta de si, no seu inalienável abandono, desamparo e desespero. Por signo compreende-se o esforço de se fazer representar as condições ontológicas nas quais nos encontramos. No espelho, nos descobrimos velhos, jovens, apressados ou ansiosos, nos vemos como somos no olhar objetificador do si mesmo. A ausência de sentido, de sustentação de si na e pela estrita solidão revela-nos a necessidade do encontro, da busca de um outro para estabelecer a nossa diferença. Nela encontro a minha subjetividade, lançada como um projeto em um presente sempre aberto e aterrador. Na descoberta do outro reside a possibilidade de encontrar a si mesmo e de sair da resposta vazia do si para si mesmo revelada na solidão, porém o encontro com o outro, seja no trabalho, seja no amor, revela-nos como reféns, como seres de acordos e contratos, que na sua rotineira presença, forçam-nos a fuga do si mesmo. A angústia acaba por se revelar não apenas na estreiteza da solidão, mas na busca de um outro. Afinal, estamos ininterruptamente submetidos ao sem sentido, que se revela na busca de se encontrar um eu, que estruturaria a fugacidade e nulidade do estar no mundo junto aos objetos, aos outros e as coisas. Enfim, somos supérfluos. As coisas mais banais têm mais plausibilidade, pois apenas permitem-se ser. A descoberta da nulidade choca-se com a constatação da liberdade. Por liberdade compreende-se a abertura mesma dos possíveis que nos rondam a todo instante. Acaba por ser compreendida como um pro-jeto, um lançar-se em direção, mesmo que não conscientemente deliberado. Jean, a personagem de Ao mesmo tempo, descobre-se, inalienavelmente, condenada à liberdade. Porém, a descoberta da liberdade não anula o vazio e a angústia mesma de habitar o SER o NADA. O trabalho de Jean, o seu esforço na sala de aula, o seu diálogo com seus alunos, com os seus amigos e com a sua quase namorada não consegue desfazer a sensação de nulidade, abandono e desespero. Na cena final, imerso na impossibilidade da afirmação plena de seu ser, na descoberta da nulidade de qualquer decisão diante da certeza da morte e do nada, emerge o choro, a expressão da dor e desespero do existir: afinal, tudo é vão. Não seria a morte a solução? A antecipação do destino, do fim para o qual caminha toda a vida, seria a derradeira saída? Para o autor, nos olhos da criança reside a esperança, pois “toda dor passa”. A cura é a descoberta da transitoriedade do humor, e da exuberante experiência do ser estar lançado e entrecruzado pelo que passa. A cura é ver-se no tempo, é ser tempo.

Para o amigo e filósofo, Fábio Luis de Almeida Leite, por ter tido a coragem de lutar, com os olhos abertos e a mente atenta, com o absurdo que nos ronda. Afinal, ser ou não ser? Eis a questão.

Por Marcos Vinícius.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O ver.

Sobre o ver. A metáfora grega predileta é a da visão. No ver distingui-se o que aparece do aparecido; o quem, uma espécie de para aonde o aparecer aparece, do quê, aquilo que se revela quando emerge aparecendo e a condição geral do aparecer das emergências singulares. Quatro são as questões presentes no ver: o que vem a superfície; o estatuto daquele que colhe a superfície e a condição mesma do emergir e colher, bem como, a diferença entre o aparecer e o colher de um aparecer específico. A palavra utilizada para esta relação foi alhéteia, traduzida, pelo vocábulo, abusivamente gasto, verdade. Caso tenhamos o interesse em vislumbrar a essência da verdade deveríamos navegar nas dobras e labirintos que cercam a condição que mantém a racionalidade do ver. Primeira distinção: aquilo que se revela, revela-se na sua totalidade, ou se oculta ao mesmo tempo em que se revela? A tensão derradeira reside na problemática do tempo, pois o revelar emerge em um dado espaço e tempo, que escapa e ininterruptamente foge. Penso que a metáfora ideal seria o relampejar. O relampejar emerge e foge. Um recolher-se, um retorno. O assombro reside aí. A precisão grega é tal que, para a compreensão deste evento, distinguiu-se o que ocorre daquilo que é a condição da ocorrência, mais não se confunde com a mesma, pois ultrapassa a singularidade específica do evento. A diferença entre a ocorrência é a sua condição fica latente no espaço de apreciação no qual dá-se o ver. Assim, o visto remete para algo que é a sua condição, porém mantém-se oculto. As nossas precisões soam pueris! Afinal, o que ocorre quando vejo? Que densidade revela-se. Embora, o dizer pretenda a verdade.

Marcos Vinícius.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A preguiça


Aversão ao trabalho. Do lat. Pigritia -ae. Voa preguiça, enche de ar os meus pulmões, com o seu hálito lento e bondoso. Me dê o tempo, me dê o instante, me faça fugir do amanhã e do ontem. Permita-me ser para poder ver a exuberância do acanhamento das dobras da aparência do real. Voa preguiça, enche de luz os meus olhos para que possam deslizar na bruma da ocorrência. Voa preguiça, para longe do sucesso e da rapidez da lógica, nos seus se e então. Voa preguiça, enche de amor o meu peito para que possa amar o distante e me deleitar no próximo. Voa preguiça, empurra com seu sopro a labuta do trabalho, a sua rotina, a sua mentira, que nos engana com o preencher das horas, no seu culto à eficiência e ao cronômetro. Preguiça, eis a minha amada, o meu porto seguro, a pátria dos lentos – dos que sofrem por não viverem o agora.

Aversão: contraposição a algo, em nome de um estado, ação ou ideia.

Marcos Vinícius.




domingo, 30 de agosto de 2009

Navegação

Navegar é preciso, viver não é preciso

Apesar de toda a poesia trazida para esta frase, depois que ela foi apropriada pela literatura, seu sentido original é: navegar é necessário.
Fernão de Magalhães que o diga!

insaciável

"A natureza em sua totalidade, assim como a história, é um reservatório inesgotável - um manancial de fatos, processos e acontecimentos com o quais se pode provar praticamente o que quer que seja ou seu contrário."

edson

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Sobre a saciedade.

Satisfação: saciar, do lat. satiare, de satis. Estar pleno em. A satisfação é conquistada no preenchimento. A condição do preenchimento é o anseio. O ansiar funda-se na expectativa de um virá. O virá assenta-se em uma direção dada, determinada anteriormente. A anterioridade da direção funda a dinâmica da satisfação, porém, a direção do ansiar é articulada a partir das relações sociais que instalam no âmago das subjetividades o seu anelo. A satisfação é o preenchimento de uma exigência, é a expressão do subjulgo. A satisfação supõe o cumprir de um mando. A questão derradeira é: é possível satisfazer-se sem o preenchimento de uma direção, ou o satisfeito apenas cumpre o esperado nele instaurado?

Marcos Vinícius.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O profeta

O profeta já dizia muitos anos antes.
"o dia em que a terra parou.
um dia em que todas as pessoas resolveram que niguém ia sair de casa" por causa da gripe suína
"a dona de casa não saiu pra comprar pão, pois sabia que o padeiro também não tava lá
e o ladrão não saiu para roubar, pois sabia que não ia ter onde gastar

O DIA EM QUE A TERRA PAROU" PORQUE A GRIPE SUINA CHEGOU

Raul Seixas...........o profeta

Lucas Ferrarezi

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Revisitando

Saint-Hilaire foi um botânico (naturalista?) francês que percorreu o Brasil entre 1816 e 1822. Fez várias observações de cunho antropológico e coletou espécies para estudos.
Hoje ele seria preso pelo Ibama, com direito a ser algemado pelo ministro Carlos Minc em horário nobre, como um perverso bio-pirata.
confesso que meu interesse por plantas se resume a brotos comestíveis e flores capazes de seduzir as nem tão donzelas e nem tão indefesas. As observações de Saint-Hilaire que revisito são sempre aquelas referentes a cultura brasileira.
Três me ocorreram:
1) A província do Espírito Santo é uma terra de preguiçosos e cachaceiros.
comentário: Esta prefiro não comentar;
2) Barbacena é uma cidade de ladrões e prostitutas.
comentário: hoje ser uma cidade de prostitutas já não é algo grave, costuma ser até uma medida para o sucesso, mas não sei se elas ainda compõem a força motriz daquela cidade. Os ladrões, com certeza ainda os há, nem que sejam os de bicicleta.
3) (após passar por Juiz de Fora em compania de Lagsdorff) Sua [das pessoas] felicidade é não fazer nada; seus prazeres são os sensuais.
comentário: atualizando esta observação, ela ficaria da seguinte forma - o prazer do juizforano é não fazer nada; sua felicidade e ludibriar alguém.

arthur barroso

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

No Brasil, equilíbrio, não só as grávidas precisam.


Sobre o burro: Um burro parado pensa a razão da pedra parada no chão: afinal,
role.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Para Cláudia e Cecília

Nas escrituras sagradas o espirito é descrito como um sopro. Pois eu tenho certeza
que Deus pensou na leveza ao criar o espírito. Se todos nós nos lembrarmos sempre disso, tenho a certeza que nossa existência seria mais leve. Acho, por exemplo, que
as mulheres grávidas só conseguem carregar aquele peso todo na barriga, porque na
verdade elas sabem que carregam o sopro. As mulheres grávidas nao precisam conhecer
a teologia do cuidado de Leonardo Boff, pois elas sao a expressao concreta disso,
basta ver uma mulher grávida andando, é um verdadeiro atentado ãs leis da física.
Mas o que valem as leis da física no mundo da metafísica. Uma última questao: você
prefere um vento forte ou uma aragem, um sopro?

Parodiando Drummond: este café deixa a gente um pouco doido

edson

sexta-feira, 31 de julho de 2009

tô com febre

Não quero dar azo a teorias conspiratórias, mas já que tá todo mundo opinando, também vou meter minha colher de pau nesse angu. É o seguinte:nesses 50 anos de minha vida
nunca vi tanto empenho da mídia (sic), do governo (sic),e outras instâncias no
combate a uma "pandemia" (sic). Porque nunca vi tanta mobilização em torno de
outros problemas que estão aí há mais tempo? Será que é devido ao medo que todos temos
da "inominável", da "indesejada das gentes"? Será que de repente todos demos para
nos preocupar com a saúde da sociedade de maneira geral? Será apenas mais uma falta
de notícias realmente relevantes? Não sei realmente... o que sei é que essa "revolução
asséptica" já tá me enchendo o saco. tô achando tudo muito mascarado e com vontade
de me mudar para a África, pois pelo menos dessa o continente esquecido (sic) está livre.

edson

O silêncio vale ouro

A sabedoria popular sempre acerta quando trata de nossos comportamentos cotidianos. O presidente do supremo tribunal federal tem esquecido constantemente do ditado que diz: “o silêncio vale ouro”. Por um lado o cargo exige que os juízes do supremo mantenham silêncio ou sejam econômicos em suas declarações.


O caso em questão é que o ministro Gilmar Mendes esquece que quem fala muito dá bom dia a cavalo, ou mostra ignorância sobre um tema que acabou de julgar. O julgamento do diploma para o exercício do jornalismo e seus desdobramentos mostra o despreparo de Gilmar Mendes com a liturgia do cargo que ocupa.


Caso o ministro tivesse mantido a discrição exigida não teria dado declarações mostrando sua ignorância sobro o tema das relações trabalhistas no mundo. Apesar do ministro, o Brasil ainda não tem defina qual posição adotar sobre a regulação das profissões.


Três caminhos podem ser seguidos: a total desregulamentação. A total regulamentação pelo poder legislativo. Ou, o caminho seguido pela maioria dos países, a regulação através das próprias categorias profissionais com algumas leis específicas e participação eventual do Estado.


Por isso o ministro deveria manter-se em silêncio. O Brasil ainda pensa qual caminho vai seguir, uma discussão que ainda não entrou na agenda do país. No entanto, não deveria demorar muito para tomar esta decisão, pois de pensar morreu um burro.


Arthur Barroso

terça-feira, 28 de julho de 2009

Postulado: a consciência é determinada pela estrutura da linguagem. Por linguagem compreende-se a condição estruturadora da Fala. A palavra é o instrumento da fala. Na palavra grafam-se condições de significado para os estados internos e estados externos. Na ausência de linguagem não há compreensão de ambos. A dinâmica da aquisição da linguagem passa pela esfera social. Na socialização da linguagem são transferidos conteúdos normativos, que são os valores veiculados na linguagem de um grupo específico. Os valores são sintomas de determinas estruturas vivas. A aquisição da linguagem é concomitante com a aquisição da consciência, que é concomitante com a interiorização das instâncias valorativas, logo a dinâmica da consciência é mediada pela relação com os sentidos dados pelos sujeitos anteriores. Assim, a consciência é determinada pela discursividade que nos é anterior, porém, como se institui a linguagem no recém-chegado, a sua consciência? Suspeito que dois são os sistemas de aquisição da consciência. Por ser derradeiramente relacional, a aquisição dá-se por recompensa. Tomamos por recompensa a satisfação do mando. 1) Pela dor; 2) Pelo desejo de ser reconhecido pelo sujeito desejado. A consciência do que é bom - Primeiro estágio, é disparado um conjunto de sensações que instalam o “estar sob o controle”. Estar sob o controle na relação com o outro é realizar o que mantém seguro a condição de satisfação. A palavra bom esconde os dois processos, o de ordem biológica e o de ordem social.
Marcos Vinicius.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Decrépito: ‘muito velho, gasto’. - decrepitus. Somente por comparação - acúmulo. Como é possível comparar? Na manutenção de uma identidade, uma foto, uma lembrança. A memória..., sempre a memória. Um conjunto de reações químicas fixadas por traumas: dar um significado especial para dada sensação: percepção de determinado estado, orientado por uma direção.
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M a r c o s e n d o .

sábado, 25 de julho de 2009

Sobre o definhar e o agradecer. Tornar magro, extenuar, enfraquecer. Do lat. definãre, de finis. Fim: termo, remate, acabamento. O definhar é intrínseco, ou extrínseco ao que há? Vincula-se ao tempo, ou é a propriedade daquilo que se dá no tempo? O definhar é uma ação que aponta para um aquém, ou dá-se constantemente no há do instante-lugar? O definhar é um fim para o há do aqui do instante-lugar, ou é o seu destino intrínseco? Por destino considera-se a condição mesma do vigir do que há. No definhar encontra-se a ação de definhar, o destino do definhar e o agente da ação do definhar, o definhado? Ou no definhar desvela-se o sentido do que há, no seu eterno escapar? Não seria o escapar um juízo fundado na memória? Mas o enfraquecer não aponta para um definhar e o destino não aponta para um acabar? O acabamento é o fim daquilo que há, o seu destino, porém, o destino é um lá? Não seria o definhar, como destino, uma ilusão? No definhar não habita um lá, apenas um aqui no instante-lugar. Deste modo, o definhar é o efetivar do que eleva e faz vigir o há do instante-lugar. A estaticidade é uma ilusão, porém, o movimento, no sentido de um para além como destino, também o é, pois a condição do definhar aponta para a realização imediata do definhado no cumprimento do seu destino. O destino do há é um revelar-se definhando, não em direção a, mas na realização mesma do seu vigir. O definhar, que é o fim da ação do vigir, é, como tudo que vige, o definhando. Ilusão da memória: o perder-se do que era em direção para um ainda-não como não-mais. Nesta ilusão paira a certeza do NADA como destino. Não é um assombro, supor o NADA como um depois? Haveria depois somente se houvesse um havido. Não reside aqui a contradição maior: o NADA supõe um havido no depois, que exige um há como lembrança, neste caso, não seria possível o NADA. Solução do enigma: o continuum é a essência do definhar – fundamento do vigir. Agradecer o simples é o antídoto contra a ilusão do definhar e do assombro do destino para o NADA. O SIMPLES É O RE-VELAR DO QUE VIGE E HABITA O HÁ DO INSTANTE-LUGAR. Agradecer: prostra-se alegremente no definhar do há;
Definhando, Marcosendo Viniciusendo.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Despojos: excessos de nada.

A falta aponta para um aquém, um lá? Ou é um desejo de estar não aqui, mas em lugar nenhum, onde o vento uive constantemente, onde o gozo esteja eternamente presente? A falta alça-se na fuga ou no desespero da transcendência. A abundância é a forma extremada da transcendência. O excesso é a busca da supressão da falta. A fuga é um perder-se na univocidade da multidão, no sem rosto da aceitação ou na aclamação extremada da diferença. Entre a negação e a aceitação encontra-se o EU. Na sua intraduzível complexidade, na sua incorruptível historicidade, reside, amargamente, só. O excesso expõe o desespero de ser intraduzível, em som, em imagem, em grito. A atomização social inviabilizará a ação e o pensamento. Bastam, agora, corpos belos, viris e eternos. A capilaridade da forma reduzirá a falta do EU? Ou é o caminho para a sua calmaria espúria, estúpida. Viva a Ferrari vermelha!!!

Marcos Vinícius.

O catador

Um homem catava pregos no chão.

Sempre os encontrava deitados de comprido

ou de lado,

ou de joelhos no chão.

Nunca de ponta.

Assim eles não furam mais – o homem pensava.

Eles não exercem mais a função de pregar.

São patrimônios inúteis da humanidade.

Ganharam o privilégio do abandono.

O homem passava o dia inteiro nessa função de catar

pregos enferrujados.

Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.

Estado de pessoas que se enfeitam a trapos

Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser

Garante a soberania de Ser mais do que Ter

BARROS, Manoel de. Tratado geral das grandezas do ínfimo


continuo acreditando que nosso maior problema não é a falta, mas o excesso...

edson

domingo, 19 de julho de 2009

nauseado ou o anti-sarney

"É preciso agir para servir aos sentidos e não às palavras" Sêneca

(ou, não usarás meu nome em vão)

edson nunes ferrarezi

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Por uma filosofia do acordar II.

Encontro:
estar diante dê, com fins a achar.
Achar:
o procurado com o intuito de tomá-lo junto a si.
Estar:
sentir a si mesmo em um instante-lugar.
Diante:
fixar-se em um para lá, intencionado como um fora, um não é daqui.
Em uma abertura deu-se o sorriso.
Sorrir é bendizer, saudar o forasteiro, o que não estava, mas era aguardado.
O ainda-não é o vigir do virá.
Quando se revelou,
se deu ao encontro:
um estar que compreende carinhosamente o que brota.
Carinho é o nome do afagar, do receber singelo.
Emerge do cuidado amoroso.
Amor: guardar e permitir que o próprio do outro surja.

O encontro supõe um lá? Não há um dirigir-se para o lá do encontro? Como se estrutura o lá do encontro, este supremo instante do evento encontrar? O encontrar supõe uma procura, uma estrutura, uma aguardar que indica o que brotará, ou o encontrar é uma abertura para um desconhecido, mas aguardado? Quando virá, avisará? Ou, sem avisar não chegará? Dá-se em um instante lugar, via atenção. Estar atento é abrir-se a.

Encontrar é amar o distante com fins a tratá-lo carinhosamente.

Por Marcos Vinícius.
Por uma filosofia do acordar.

Acordar. Descobrir-se em um dado instante e lugar. A via da experimentação dos sentidos é o caminho da plenitude – estar disposto em. A plenitude dos sentidos, a plenitude dos estados internos e a plenitude do fluxo de pensamentos. Exigência fundamental: suprimir a pergunta sobre o sentido do dado e vivenciar o dado dos sentidos. Experimentar supõe perceber-se no instante re-velado, em uma determinada significação. A condição do experimentar reside no deixar-se estar em um afeto específico. A condição do afetar é deixar-se levar pelo que afeta, tornando-se afetado. Afetar é a condição do vivo. O vivo dá-se no vigor do instante. No instante dá-se a plenitude do afetar. O ar afeta, o céu afeta, o mundo afeta, o outro afeta. Afetar é realizar-se no VIVO. Inúmeras tonalidades afetivas, inúmeros estados de afetação. Fruir o instante é prestar atenção ao vivo. O prestar atenção é um dispor na e pela afetação do instante. A fuga da densidade do instante rouba-nos a vida. O apelante no acordado é a vivência do estado circunstancial da afetação. Vã ansiedade - estar de prontidão para um depois, que retira de nós o habitar no estar acordado. Em um mundo regido por ‘um quando’ não se permite o afetar do estar.


Marcos Vinícius.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Citarei, também.

Sobre a completude. O que falta? Falta a permanência eterna? O que é a falta? A Falta é um sentimento. Um sentimento é um estado. O estado é um modo de sentir. O sentir do estar da falta é uma ausência. A ausência é um não estar, ou um retirar-se, ou um aguardar. Em um retirar-se algo que estava escapa. O escapado é a forma constante do retirar-se. Neste caso a ausência aponta para um era que não está mais. Por outro lado, é possível pensar a falta, não como uma antes que não está, mas como uma presença constante. Neste modo, o assombro vem, pois é a falta reveladora da angústia. Podemos vê-la como indicando um estar que aponta para a necessidade de preenchimento pelo futuro. O que virá, irá preencher. Porém, o advir e o antes não respondem adequadamente o sentido da ausência. A falta, derradeira, é percebida na permanência e pela permanência. Não se preenche a Falta com um era, ou com um virá, pois a falta revela-se no há, do aqui e do agora. A ausência, no aqui e no agora, dá-se no ultrapassar do que vige. No contínuo, falta-lhe o antes e o depois. Falta-lhe, sobretudo, o sentido, a meta. Porém, a experiência do fluir não é, em si mesmo, suficiente? Precisamos, peremptoriamente, ir além da experiência do estar pleno, no fruir do sendo? Prefiro abraçá-lo alegremente, a chorá-lo culposamente. Que os fragmentos que se seguem revelem a suave alegria dos equilibristas, ou os sôfregos lamentos dos amantes do sentido.

“Embora de início nos seja angustiante, essa meditação sobre nossa mortalidade acaba nos fortalecendo. Recolha-se em si mesmo, leitor, e imagine um lento desfazer-se em você mesmo, em que a luz se apague, as coisas emudeçam e não lhe dêem sons, envolvendo-o em silêncio, derretam entre as suas mãos os objetos que você segura, escorra sob seus pés o chão, desvaneçam como num desmaio as recordações, tudo se vá dissipando em nada, dissipando a você também, e em que nem mesmo a consciência do nada lhe reste, nem sequer como fantástica âncora de uma sombra”. Unamuno.

72 – “Desproporção do homem – Que o homem, voltado a si, considere aquilo que é diante do que existe; que se veja como um ser desencaminhado neste ponto afastado da natureza, e que, da pequena cela onde está preso, isto é, do universo, aprenda a avaliar em seu valor preciso a Terra, os reinos, as cidades e ele mesmo. Que é um homem dentro do infinito?

Que é o homem dentro da natureza, afinal? Nada em relação ao infinito; tudo em relação ao nada; um ponto intermediário entre tudo e nada. Infinitamente incapaz de compreender os extremos; tanto o fim das coisas como seu princípio mantêm-se ocultos num segredo impenetrável, e é-lhe igualmente impossível ver o nada de onde saiu e o infinito que o envolve.”

205 – “Quando reflito sobre a breve duração de minha vida, absorvida na eternidade anterior e na eternidade posterior, no pequeno espaço que ocupo, e mesmo no que vejo, fundido na imensidão dos espaços que ignoro e que me ignoram, aterro-me e assombro-me de ver-me aqui e não em outro parte, uma vez que não existe motivo algum para que eu esteja aqui e não alhures, neste momento e não em outro momento qualquer. Quem me colocou em tais condições? Por ordem e obra de quem me foram designados este lugar e este momento?”

206 – “O silêncio eterno desses espaços infinitos me apavora.” Pascal.

Liso gelo,
Paraíso
Para quem sabe dançar bem. Nietzsche.


Para o meu querido amigo Petrônio.
Marcos Vinícius.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Para um bom debate.

Em momento algum apelei para uma lógica da identidade, pois a convicção de base residia na impossibilidade de comparação, pois é impossível comparar algo que em si mesmo é pleno, neste caso, a permanência em si mesma é refutada pela necessidade. Quanto ao argumento materialista, não defendo uma essencialidade da matéria, nem muito menos uma imaterialismo ingênuo. Talvez, a discussão sobre a necessidade de habitarmos na esperança seja a via a ser adotada. Historicamente existiram alternativas que não apelaram para o dualismo. A via da imaterialidade da razão, inclusive, já foi demonstrada em seus fundamentos. Nunca se tratou da verdade, pois a mesma é apenas uma sintoma. Quanto à perfeição ou à imperfeição soam-me demasiado humano, lembram-me os ataques, os lamentos culposos de ser corpo, as concupiscências medievais. A ilusão da memória é um outro problema. Talvez, seria uma condição para pensarmos a permanência, neste caso, quem está apelando para uma identidade não sou eu. Quanto ao inacabamento, concordo com a posição do Decano, porém, sem a ilusão finalista, a menos que estejamos tratando do acabamento da condição humana: a morte. Acabamento neste caso remeteria para o Fim da vida. Prefiro adotar a noção de continuidade, soa-me mais honesta, menos humana: - somos a cada instante a mudança permanente, na ilusão da sua constância. Não se pode confundir as condições de vida com as necessidades humanas. O humano para ser ausentou-se da vida. A vida é um sendo, um bocado de necessidade e destino.

Marcos.

domingo, 5 de julho de 2009

de um ocioso professor de português

Concordo com o Petrônio: em bom latim perfectum = pronto, acabado, concluído
imperfectum = aquilo que ainda está em andamento, não concluído.
Portanto, "amando o imperfeito" é quase um pleonasmo, já que o gerúndio (amando) indica processo contínuo. Só não concordo com adjetivo "eterno", muito religioso.

edson

sábado, 4 de julho de 2009

Ao caro amigo Marcos.

"Mas, isso provém do fato de eu não ter estima por mim. Pode, porém, um homem que se conhece a si mesmo, estimar-se, mesmo um pouco que seja?" (Dostoievsky).

Não penso que o princípio da identidade dê conta da complexidade do fenômeno da vida. Eu o vejo (o princípio) muito fundamentado em um pressuposto de materialidade. Um determinado prédio será sempre esse prédio (e, mesmo assim, sofre as ações da chuva, do sol, do vento...). Entretanto, nós, humanos, todos os dias, nos tornamos seres diferentes e, simultaneamente, somos os mesmos. Seria possível nos compararmos a nós mesmos?
Além disso, penso que existe algo em você que também existe em mim. Esse algo é o que nos está permitindo dialogar (razão?). Poderíamos pensar que estamos nos movimentando em um mesmo plano e que, em algumas circunstâncias de espaço e tempo, nos cruzamos. Seria esse diálogo uma comparação?
Quanto à questão da falta, concordo com você, mas não vejo como um problema. O fato de um ser ver-se como inacabado não significa, obrigatoriamente, demérito. Para mim, é possível amar o imperfeito. Amando o imperfeito, é possível pensar em um processo eterno de auto-construção, sem culpa ou ansiedade?
O ser humano que não admite que lhe falta algo julga-se perfeito?

Petrônio.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A imagem do blog

Em 2 de julho de 1816 a fragata francesa "A Medusa" encalhou próximo à costa do Marrocos e naufragou. Não havia número suficiente de botes salva-vidas. Os restos do navio foram transformados em balsa para tentar manter 149 pessoas vivas.

Uma tempestade arrastou a balsa para mar aberto. Os sobreviventes ficaram à deriva por mais de 27 dias.

A experiência dos sobreviventes impressionou muito o pintor, Theodore Gericault. Ele realizou um estudo profundo dos detalhes do naufrágio para produzir a pintura. Entrevistou os sobreviventes e viu os mortos. Criou vários estudos e desenhos para tentar reproduzir a íntima realidade humana nesta situação. O resultado é o quadro definitivo “Le Radeau de la Méduse”.

Esse quadro é a pintura de um acontecimento que comoveu a França.

Para o nucleado Pet. – homenagem póstuma.

Como é possível comparar? – considerar duas coisas sob a mesma medida, ou a partir de condições opostas. Se duas coisas são diferentes não faz sentido compará-las, talvez, apenas por exclusão, pois se A é A, A não é B. A comparação neste caso é por exclusão, por outro lado, como posso comparar duas coisas que sejam idênticas, pois se são idênticas A = A? O último ponto é a única via possível. Comparar coisas que não são iguais, porém não são totalmente diferentes. Neste caso, a comparação soa-me como impossível, pois a diferença que faz cada uma das coisas como diferentes exclui a possibilidade da sua comparação. Neste caso só é possível imaginar uma comparação que mantenha como constante algo a ser comparado, neste caso não faz sentido algum, pois voltamos ao caso anterior, aquele da igualdade. Não há progresso, apenas sucessão de eventos, pois a condição de afirmá-lo exige a comparação dos estados anteriores com os estados posteriores. A noção de progresso funda-se no desejo de suprimir a falta. O fundamento da falta é a experiência de afastar-se de si. A noção de progresso pretende recuperar a falta. Considerada como desvio, a falta tem como fundamento a incompreensão do sentido, desvelado apenas no futuro. Neste tipo de compreensão o significado do presente dá-se no futuro, por comparação. Voltamos ao ponto inicial, como é possível a comparação?

A arbitrariedade da linguagem não lhe retira a função de delegar o sentido, de ser o móvel da moralidade e da designação do mundo exterior e interior.”

Marcos Vinícius.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

apelo - petrônio granato

Apelo
Vem menino!
Me dá a garupa do teu pangaré
nascido de um cabo de vassoura.
Me dá abrigo em tua capa
de uma velha toalha de banho.
Decepa, com tua espada
feita de caixote de frutas,
as cabeças de todos os males que nos rondam.
Vem menino!
Traz de volta a esperança.
Traz de volta a coragem.
Traz de volta a pureza.
Vem menino!
Me deixa ser seu fiel escudeiro
e seguir contigo, para sempre, em tuas infinitas aventuras.

terça-feira, 30 de junho de 2009

metáforas da vida ou crise de identidade, por edson nunes ferrarezi

Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra deriva do latim metaphòra (metáfora), por sua vez trazido do grego metaphorá ("mudança, transposição"). O prefixo met(a)-tem sentido de "no meio de, entre; atrás, em seguida, depois". O sufixo -fora (em grego phorá) designa 'ação de levar, de carregar à frente'.

Metáfora é o emprego da palavra, fora do seu sentido normal.


Catacrese é a figura de linguagem que consiste na utilização de uma palavra ou expressão que não descreve com exatidão o que se quer expressar, mas é adotada por não haver palavra apropriada - ou a palavra apropriada não ser de uso comum; são como gírias do dia-a-dia, expressões usadas para facilitar a comunicação. Estabelecem comparação às situações em que são atribuídas, qualidades de seres vivos, a seres inanimados. Exemplos comuns são: "os pés da mesa", "marmelada de laranja", "vinagre de maçã", "embarcar no avião", "cabeça doalfinete", "braço de rio", "dente de alho" etc. Consiste assim em uma metáfora de uso comum, deixando de ser considerada como tal.Consiste também em dar à palavra uma significação que ela não tem, por falta de termo próprio.


Catacrese:é o emprego de palavras fora do seu significado real; entanto, devido ao uso contínuo, não mais percebe que estão sendo empregadas no sentido figurado:


e eu que pensava que era uma metáfora descubro que sou uma catacrese

Para o Márcio. Sobre o coincidir.

Coincidência – incidir. Co-incidir. Incidir é o acontecer de algo em algum lugar, ou o acontecer de algo em algum lugar junto a alguém, ou com alguém. A incidência é o re-velar do que é, porém o re-velar-se do que é dá-se para um alguém, pois o re-velar-se é uma visibilidade. Na visibilidade do re-velar é dado um abrir-se. Há uma grande dificuldade para precisar a condição mesma do re-velar. Em nossa história reflexiva, ora privilegiou-se o sujeito frente ao que se revela como sendo o que é, ora pensou-se o re-velar-se como condicionado pelo sujeito que permite a re-velação. Hoje, pensa-se que o re-velar está fundado em uma anterioridade que o permite, ou que não há distinção entre o re-velar, e as operações que o permitem, supondo que o processo mesmo da re-velação assenta-se em condições que propõem o significado daquilo que se re-vela. Deste modo, o re-velar é tributário das condições objetivas que o permitem, ou da anterioridade que apresente estas condições como próprias para aquele específico re-velar. Porém, se a questão da incidência é de difícil acesso, pois supõe uma série de condições para a sua determinação, imaginem os transtornos, ainda maiores, para a definição da coincidência. Derradeiro é o espanto que surge nas coincidências, pois há neste espanto a suposição tácita que o re-velar mesmo esteja já explicado, pois a noção de coincidência supõe explicado o incidir, não colocando a questão mesma do re-velar. Deste modo, sem a explicação do re-velar, o sentido da coincidência fica sub-repticiamente comprometido. Porém, vamos perseguir as suas condições fenomênicas. A coincidência funda-se em um espanto. O que vige no espanto da coincidência é o assombro do absurdo. O absurdo é o coincidir, uma espécie de impropriedade, uma corrupção da legalidade do re-velar. Na coincidência o re-velar mesmo é assombroso. O assombroso é o pavoroso. O pavoroso é a tradução significativa do medo. O medo é o traço de significação da carência. A carência maior é a morte. Na morte vige o sem sentido mesmo do re-velar no humano. O assombro da coincidência é a re-lembrança da morte. O sentido dado à coincidência é um antídoto para o re-velar do sem sentido, do NADA. Deste modo, não é possível que haja coincidência sem que uma lei que a regule não tenha sido instituída. O sentido da coincidência é, DERRADEIRAMENTE, fruto do desejo de que o re-velar tenha algum sentido para além da sua ininterrupta aparição gratuita.

Marcos Vinicius.


segunda-feira, 29 de junho de 2009

cortês

Delicado, cerimonioso, educado. Adjetivo comum aos dois gêneros.

Santa Clara, no mal tempo/sustentai nossas asas./A salvo de árvores, casas/E penedos, nossas asas/Governai.

Santa Clara foi trazida para o Brasil pelos Portugueses. Clara teria o poder de garantir o dia seguinte limpo e com sol. Para o sol nascer no dia seguinte, deve-se fazer uma das quatro coisas: 1) gritar "Santa Clara, clareai o dia"; 2) colocar uma barra de sabão na janela para que ela possa lavar o céu à noite; 3) colocar farinha para a Santa em um lugar tranqüilo da casa; 4) colocar ao relento um prato com água e um terço.

Clara e Francisco eram corteses?

por Arthur Barroso

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Sobre o limite e do pipoqueiro.

“Linha de demarcação, raia, fronteira, termo”. Fazer o milho estourar.

A lógica do processo é um rumar em direção a. Para alguns pôr-se a caminho é destinar-se para um melhor. O caminho é um deslocar-se para frente, deixando o que nos impulsiona para trás. O impulsionar é o estado presente do passado. Na extremidade de um caminho encontra-se o limite. O limite carrega uma ambigüidade, pois pode ser o fim, ou o alcançar de um máximo em um exato instante-lugar. A arte da educação é elevar até o limite. Elevar é fazer realizar o possível daquele instante.

Naquele dia, não teve pipoca quentinha; não teve queijinho; nem ‘trás uma pra mim’. O dia em que o pipoqueiro não estava foi a noite do terno e da gravata, da roupa bonita e da bem amada, do brilho no olho, da satisfação de seguir, de ir... Na noite sem pipoca, o estouro soou no romper do limite, do festejar da conquista, do alcançar da meta. Foi o instante em que o ninguém da margem ousou sair.

Por Marcos Vinícius.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Sobre o amor.

Amar é o desejo de dois serem um. O amor retira a distância que separa os amantes no mundo, submetendo-os a si mesmos. A condição do amor é a atração. A atração é o nome de algo que não compreendemos bem. Uma força, um impulso, um deixar ir para lá. O lá do amor é o destino dos dois. O encontro entre o ir e o vir da atração é o orgasmo do amor. O amor é a fusão dos dois em um gozo. No gozo habita o um. O sentido do amor é o restabelecimento momentâneo da totalidade, é a expressão da carência do um, do seu sentimento de falta. A descoberta da falta é a atração. A atração é um deslocamento em direção ao que não se é, mas lhe diz respeito. No vigir da atração apela o encontro. Só há amor no encontro. No encontro, os corpos se dão à sedução: o olho toca a boca, que toca o peito, que afaga com a mão, que toca os lábios, já umedecidos e quentes, prenhes do perfume e das tensões do virá, do possuir, do deixe-me ser seu, sua. Gozo é o nome daquilo que o desejo buscava na palavra amor.

Por, Marcos Vinícius.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Porque querer a Ideia de platão?
Se toda pureza e beleza,
No universo estão


Por, lucas
Sobre o errar e coisas afins.

O errar supõe o desvio de algo? Errar é um deslocar-se de um lugar esperado, de uma convergência, para um distante, um indizível. O errar não pode ser definido em si, apenas sê-lo em referência a algo que era o destino do ido. Semanticamente o errar propõe um problema, pois enquanto erro o errar não pode ser definido intrinsecamente, pois foge ao errar a certeza. Errar só é possível se sabe-se o caminho do não-errar? O errar mesmo é impossível, pois supõe, por definição, a sua própria ausência? A rigor, errar é apenas uma forma eufemística de dizer o seu contrário? O acertar é o não-errar? O errar mesmo é um assombro. Porém, é possível acertar sem errar? Como pode o errar ter como meta o acertar?

Por um viver na errância. A errância é um ir-se, um descolar do não-mais em direção ao ainda-não. A essência da errância é o fruir. O fruir é o perpétuo esvair do sendo. O acontecimento é o esvair do sendo. Não é um antes, também não é um depois.

O errar aponta para lugar algum. O errar é um desafio para as tentativas de definição, pois se esconde. O nada é a condição para se pensar o errar, mas não é o nada um impossível? Se é impossível o nada, como condição da estruturação da negação, é possível apreender em sua significância o errar? O errar é o vivo. O VIVO NÃO ACERTA, ERRA.

D’ele.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Poema sobre a decadência.

Decadência é o estado do que decai, declinação, abatimento, corrupção. Cair - ir ao chão. Vulgar. Decair é ir de encontro ao chão. No chão, há terra. Decair é voltar, é prostrar no chão. No chão, habita o vulgo. O vulgo é o povo. Povo – poblo, poboo. Do lat. põpùlus.

Decair é desidentificar-se, perde-se do seu próprio. Distanciar-se de si próprio é o cindido. Cindido é o que perdido perde-se do próprio. Anulado pelos muitos, que distantes fundem-se no um. O povo é o um. O um dá-se na massa. A massa é um espremer e fazer sucumbir o próprio. Decair - ir daqui que sou para o lá do impróprio. O próprio pensa, o um fala. Decair é prostrar-se no um. A condição do decair é o orgulho. Fazer sucumbir o si próprio diante do olhar do um. Ir para o fim do próprio é decair.

Para o ponto tudo converge. O convergir é a essência do decair. Habita, hoje, a vergonha. Em nome do orgulho, vige a vergonha. A vergonha é a essência do ir ao chão. No chão, confundo-se tudo no pisado. O que está abaixo da sola. Abaixo da sola está o mandado. O mandado é o decaído.

Rumamos para a exuberância da decadência. Os seus sinais estão visivelmente presentes. A impessoalidade, o isolamento e o império da forma e do gosto. Na tipificação do riso e do gozo, dos gostos, dos toques, dos rostos.Tudo é um. O um é o mando. Obedecer...

Por, Marcos Vinícius Leite.

sábado, 20 de junho de 2009

O DIA DO SAPATO DO CONTADOR

Contador Cleber do Carmo Antunes

Confesso que durante esses mais de cinqüenta anos de vida imaginava que já tinha conhecido todas as utilidades do bom e velho sapato. Lembro até que, em época não muito recente o famoso “sapato velho” era comumente usado lá em casa, principalmente porque era eu o caçula e, por isso mesmo, só ficava com as sobras dos demais irmãos.

Do conhecido vulcabrás que possuía uma chapinha na ponta para durar mais. Passando por aqueles que insistiam em permanecer intactos, mesmo depois de um sem números de meia sola. Até aqueles colocados na época da infância na janela para esperar o bom velhinho chegar e mais recentemente os de couro de pele de animais em extinção, que quase enfartam os ecologistas, muitas foram e são as utilidades da velha peça do vestuário.

Sem qualquer tipo de apologia ou até mesmo a tentativa de satirizar os conflitos no Oriente Médio, confesso que gostei de assistir à nova utilidade do utensílio, e senti até mesmo um pouco de inveja quando o jornalista Muntander Al Zaide ao pronunciar as palavras “É o seu beijo de despedida do povo iraquiano seu cachorro. Isso é pelas viúvas, órfãos e pelos que foram mortos no Iraque”, atirou na direção do todo poderoso George W. Bush seus pesados sapatos de sola de borracha.

Como o episódio me fez lembrar de minha infância e de um número incontável de pessoas que, caso tivesse eu essa idéia esplendida, muita gente até hoje iriam lembrar da voracidade do meu velho e surrado vulcabrás.

No entanto, como esse tempo não volta mais, mas logicamente nossos desafetos continuam agora na profissão contábil e, considerando que no Brasil se comemora tudo, inclusive o dia do “amigo” fazemos a seguinte proposição: (Sem citar nomes porque a matéria ficaria muito extensa).

Criação do “dia do sapato do contador”, quando então, em nossa plenária iremos todos jogar os nossos sapatos em alguns representantes do legislativo, que teimam em não entender a importância da pequena e micro empresa para o nosso país. E, por isso mesmo tomam decisões em seus gabinetes, na maioria das vezes sem sequer ouvir os profissionais da contabilidade que podem contribuir para a eficácia e a eficiência da Lei. Sem esquecer de reservar uma pequena quantidade para serem jogados nos representantes do Copom, (Comitê de Política Monetária do Banco Central) que insiste em manter os juros mais altos do mundo sem se preocupar que esses procedimentos estão matando lentamente as maiores geradoras de emprego e renda de nossa terra. E finalmente, mesmo que sejam poucos pares possamos jogar alguns nos representantes da Petrobrás que, apesar do preço do barril do petróleo estar quase que 70% menor do que o ano passado, mesmo assim, não diminui o preço da gasolina.

Ac, que o dia do sapato seja instituído o mais breve possível. Segue a minha reflexão.

Sobre o aguardar e coisas afins.

Aguardar deriva-se de guardar – proteger, conservar, cumprir. Do lat. Medieval guardãre. Do francês: esgart – ato de olhar, de vigir.

O aguardar dirige-se ao aguardado, ao que virá. A condição do aguardar é a espera. Esperar é o aguardar do aguardado. A condição do esperar é o cuidado. Cuido para que o aguardar receba adequadamente o aguardado. No cuidado do aguardado reside o aguardar. A condição do cuidado é abrir-se para o que vem de lá, do que não está aqui. O cuidado está sendo no tempo. No aguardar reside o quê do tempo: o estar em direção a...

Estou no ponto de ônibus. Ali converge tudo que fui e sou, como tudo o que é e está sendo. Na espera, aguardo, sendo o que sou e atualizando o que sou A espera do que sei que virá. O que virá é aguardado como estando a vir. Aguardando espero... Quando chega, paro de aguardar.

Espero encontrá-lo bem. Aguardando serenamente o que virá. Entre nós manifestar-se-á uma vigília. Esperaremos encontrar no futuro os nossos encontros, grafados em algum lugar, e à espera dos que virão a conhecê-los. O que virá ninguém sabe, suspeita-se de que virão aqueles que nos dizem respeito, que são os nossos mais féis ou temerosos inimigos: os nossos pensamentos. Que o presente nos brinde com o que aguardando virá no futuro.


por: Marcos Vinícius

“Que tolice! Ensinar coisas inúteis, quando o tempo nos é avaramente medido”.

(Sêneca).

E quantas coisas inúteis fazemos. A começar pelas aulas. Vejamos: os professores de química querendo que os meninos aprendam sobre átomos e moléculas, quando eles estão buscando compreender outras “ligações” que não as covalentes, muito mais interessantes a serem feitas. Os professores de história explicando a importância da Via Ápia, quando o que interessa é saber qual o caminho mais curto entre a sua casa e o shoping. Os professores de matemática ensinando equações, vetores, forças, incógnitas quando para eles o único X que importa é o de Matrix ou do X-Man. Nas ciências, os professores ainda não entenderam que o crescimento das sementes, os fenômenos físico-químicos da digestão e a fotossíntese são tão interessantes quanto uma salada de chuchu, que o que importa mesmo é o que está ocorrendo lá no fundo da sala. A geografia querendo despertar o interesse pelo que acontece em Bagdá ou no Nordeste, quando a janela da sala de aula é o horizonte mais distante. Professores de português querem ensinar o gosto pela literatura e a conjugar verbos quando o único verbo que lhes interessa é o verbo ficar. Os professores de educação física, os únicos que estão no caminho certo, pois os jovens adoram a física dos corpos. Os coordenadores conversando com cada um, com a mesma paciência, na esperança de que eles acatem seus “sábios e bondosos conselhos”.

Viram como “somos inútil”.

Mas... Mas... Também sabemos que nossos alunos podem aprender química, história, matemática, ciências, geografia, português, física em qualquer escola – e quando quiserem. Sabemos também que eles não se preocupam apenas com futilidades, que estão vivendo o tempo deles. E se o tempo deles é de shoping, de ficar, de muita balada, é também um tempo de terrorismo, de seqüestro-relâmpago, de insegurança e incertezas. Cabe a nós, professores, conscientes disso, darmos a eles algo mais.

Por isso, os professores de química falam não apenas de átomos e moléculas, mas mostram que as ligações mais importantes são aquelas que não são vistas a olho nu; que não existe uma fórmula para o amor, mas os componentes aí estão, compete a cada um de nós “misturá-los” para sentirmos o seu agradável perfume; que mais importante que as reações químicas são as ações humanas. Os professores de história ensinam que a ignorância é o caminho mais curto para qualquer lugar, mas que o caminho do conhecimento é longo e tortuoso; que o mesmo país que gerou um energúmeno como G. W. Bush, também gerou um Thoreau. No século XIX, esse “avô dos hippes” foi preso por se recusar a pagar imposto para sustentar uma guerra civil. Escreveu um ensaio chamado Desobediência Civil no qual propõem a resistência aos governos injustos e que influenciou homens como Ghandi. Os professores de exatas ensinam que somar, dividir, multiplicar, diminuir não são apenas operações matemáticas, mas formas de nos relacionarmos com as coisas e com o mundo. Assim, como na parábola dos talentos, não devemos enterrar os dons que Deus no deu, mas multiplicá-los; que devemos dividir não apenas o que temos em excesso, mas também o pouco que temos; que “a alegria é a prova dos nove” e que “o resto é sempre maior que o principal”; que a maior incógnita não é a morte, mas a vida; que se eu somar erros o resultado será sempre negativo, mas somando erros e acertos eu poderei ter um número positivo. Os professores de ciências mostram que o maior de todos os fenômenos é a própria vida – “mesmo que seja uma vida como esta, Severina”. A geografia mostra a eles que mais importante e difícil que conhecer outros países é conhecer a si mesmos. Nas aulas de língua portuguesa e literatura eles aprendem que não importa a conjugação do verbo ficar, mas os seus complementos; que a poesia esta aí, basta “ouvir o rio correr”. Nas aulas de educação física eles descobrem o que os gregos antigos já sabiam: mente e corpo devem estar em equilíbrio. Os coordenadores fazem aquilo que só os pais são capazes de fazer: multiplicar o seu amor incondicional para os seus filhos, sem distinção, pois “qual o pai que dá uma pedra ao filho que lhe pede pão?”.

Preferimos ensinar coisas inúteis aos nossos alunos. Coisas que não os tornam mais ricos, ou mais bonitos, ou mais fortes. Ensinamos coisas que os tornam mais inteligentes, mais solidários, mais felizes. Não fazemos o jogo de um mundo pragmático, onde tudo tem que ter um valor imediato, monetário e... descartável. Continuaremos ensinando coisas inúteis. Só assim garantiremos aos nossos alunos a “soberania de Ser mais do que Ter”.

por: Edson Nunes Ferrarezi

Não sei se consigo aguardar serenamente. Tenho sentimentos talvez pretensiosos de direcionar minha vida. Mesmo que seja uma vida, como diz o Edson, "Severina".
Além disso, projetar um futuro não seria o mesmo que "cuidar do aguardado"?
Será que, enquanto humanos, estamos fadados a uma permanente e eterna inquietude ou insatisfação?
Será que a ignorância nos traz paz?
Penso que não há caminho de volta para nenhum de nós e, ao mesmo tempo, também não vejo luz no fim do túnel.
Semana passada, algum de vocês me disse que eu queria salvar o mundo. Acho que quero só me salvar. A salvação do mundo fica por conta do Edson. Abraço a todos!

por: Petrônio

Esgotado – gota . Do latin gûtta. Esgotado. Méd. Diátase caracterizada por perturbações viscerais ou articulares com depósitos de uratos. Diátase: afastamento de dois ossos que eram contíguos sem que haja propriamente luxação. O esgotado é o afastado. Afastar é o deixar de estar em um lugar que é próprio em direção ao nada. A condição do afastar reside na fuga do si mesmo, pois afastar é por de lado, distanciar. Quando esgotado, distante estou da transcendência que mantém o ímpeto. O ímpeto do esgotar é o falir. O pólo do ser é o nada.

A vontade é um rumar, rumar para o que lhe é próprio. O esgotamento revela o momento da vontade para o nada, para o aniquilamento. À vontade no nada, assim reclama o ímpeto do esgotado. O que mais incomoda o esgotado é o ímpeto. O peso do ímpeto no esgotado reclama o nada ansiar, como se mesmo aí, não houvesse anseio.

Caro amigo, não há alternativa diante do querer que nos é próprio, mesmo que seja o ansiar o nada. Salvar-se é mergulhar na propriedade do próprio. È no ouvir o ser próprio que reside a salvação. Para mim, não há salvação fora da vontade, mesma que seja o salto no seu próprio absurdo. Ao esgotado cabe esgotar.


por: marcos vinícius

Tópicos ao correr da pena


Caridade, hombridade, amor ao próximo, honestidade, senso de justiça e afins sempre foram virtudes reclamadas por pessoas religiosas e de elevada grandeza espiritual e que tais. No entanto, estas virtudes estão muito mais disseminadas entre ateus, agnósticos ou aqueles que têm uma crença no divino não mediada por religiões instituídas.

Quando se aproxima um religioso só há duas atitudes: uma mão na carteira e a outra na cartucheira.

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Da sabedoria popular: “coruja que gaba o toco, fogo nela”.

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Em homenagem ao ilustre acadêmico Petrônio Granato, uma citação de Victor Hugo: “quem poupa o lobo sacrifica o cordeiro”. Não só os espíritas gostam do autor, os nazistas também o citam.




Como diz o cartaz do XEROX de nossa nobre instituição de ensino, deixe seu cd em casa, pois sem ele a gravação de seus dados é mais barata.

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Para encerrar, em forma de Hai-kai:

A parede

Do dente

Ainda resistente

Arthur Barroso