quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O ver.

Sobre o ver. A metáfora grega predileta é a da visão. No ver distingui-se o que aparece do aparecido; o quem, uma espécie de para aonde o aparecer aparece, do quê, aquilo que se revela quando emerge aparecendo e a condição geral do aparecer das emergências singulares. Quatro são as questões presentes no ver: o que vem a superfície; o estatuto daquele que colhe a superfície e a condição mesma do emergir e colher, bem como, a diferença entre o aparecer e o colher de um aparecer específico. A palavra utilizada para esta relação foi alhéteia, traduzida, pelo vocábulo, abusivamente gasto, verdade. Caso tenhamos o interesse em vislumbrar a essência da verdade deveríamos navegar nas dobras e labirintos que cercam a condição que mantém a racionalidade do ver. Primeira distinção: aquilo que se revela, revela-se na sua totalidade, ou se oculta ao mesmo tempo em que se revela? A tensão derradeira reside na problemática do tempo, pois o revelar emerge em um dado espaço e tempo, que escapa e ininterruptamente foge. Penso que a metáfora ideal seria o relampejar. O relampejar emerge e foge. Um recolher-se, um retorno. O assombro reside aí. A precisão grega é tal que, para a compreensão deste evento, distinguiu-se o que ocorre daquilo que é a condição da ocorrência, mais não se confunde com a mesma, pois ultrapassa a singularidade específica do evento. A diferença entre a ocorrência é a sua condição fica latente no espaço de apreciação no qual dá-se o ver. Assim, o visto remete para algo que é a sua condição, porém mantém-se oculto. As nossas precisões soam pueris! Afinal, o que ocorre quando vejo? Que densidade revela-se. Embora, o dizer pretenda a verdade.

Marcos Vinícius.

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