Citarei, também.
Sobre a completude. O que falta? Falta a permanência eterna? O que é a falta? A Falta é um sentimento. Um sentimento é um estado. O estado é um modo de sentir. O sentir do estar da falta é uma ausência. A ausência é um não estar, ou um retirar-se, ou um aguardar. Em um retirar-se algo que estava escapa. O escapado é a forma constante do retirar-se. Neste caso a ausência aponta para um era que não está mais. Por outro lado, é possível pensar a falta, não como uma antes que não está, mas como uma presença constante. Neste modo, o assombro vem, pois é a falta reveladora da angústia. Podemos vê-la como indicando um estar que aponta para a necessidade de preenchimento pelo futuro. O que virá, irá preencher. Porém, o advir e o antes não respondem adequadamente o sentido da ausência. A falta, derradeira, é percebida na permanência e pela permanência. Não se preenche a Falta com um era, ou com um virá, pois a falta revela-se no há, do aqui e do agora. A ausência, no aqui e no agora, dá-se no ultrapassar do que vige. No contínuo, falta-lhe o antes e o depois. Falta-lhe, sobretudo, o sentido, a meta. Porém, a experiência do fluir não é, em si mesmo, suficiente? Precisamos, peremptoriamente, ir além da experiência do estar pleno, no fruir do sendo? Prefiro abraçá-lo alegremente, a chorá-lo culposamente. Que os fragmentos que se seguem revelem a suave alegria dos equilibristas, ou os sôfregos lamentos dos amantes do sentido.
“Embora de início nos seja angustiante, essa meditação sobre nossa mortalidade acaba nos fortalecendo. Recolha-se em si mesmo, leitor, e imagine um lento desfazer-se em você mesmo, em que a luz se apague, as coisas emudeçam e não lhe dêem sons, envolvendo-o em silêncio, derretam entre as suas mãos os objetos que você segura, escorra sob seus pés o chão, desvaneçam como num desmaio as recordações, tudo se vá dissipando em nada, dissipando a você também, e em que nem mesmo a consciência do nada lhe reste, nem sequer como fantástica âncora de uma sombra”. Unamuno.
72 – “Desproporção do homem – Que o homem, voltado a si, considere aquilo que é diante do que existe; que se veja como um ser desencaminhado neste ponto afastado da natureza, e que, da pequena cela onde está preso, isto é, do universo, aprenda a avaliar em seu valor preciso a Terra, os reinos, as cidades e ele mesmo. Que é um homem dentro do infinito?
Que é o homem dentro da natureza, afinal? Nada em relação ao infinito; tudo em relação ao nada; um ponto intermediário entre tudo e nada. Infinitamente incapaz de compreender os extremos; tanto o fim das coisas como seu princípio mantêm-se ocultos num segredo impenetrável, e é-lhe igualmente impossível ver o nada de onde saiu e o infinito que o envolve.”
205 – “Quando reflito sobre a breve duração de minha vida, absorvida na eternidade anterior e na eternidade posterior, no pequeno espaço que ocupo, e mesmo no que vejo, fundido na imensidão dos espaços que ignoro e que me ignoram, aterro-me e assombro-me de ver-me aqui e não em outro parte, uma vez que não existe motivo algum para que eu esteja aqui e não alhures, neste momento e não em outro momento qualquer. Quem me colocou em tais condições? Por ordem e obra de quem me foram designados este lugar e este momento?”
206 – “O silêncio eterno desses espaços infinitos me apavora.” Pascal.
Liso gelo,
Paraíso
Para quem sabe dançar bem. Nietzsche.
Para o meu querido amigo Petrônio.
Sobre a completude. O que falta? Falta a permanência eterna? O que é a falta? A Falta é um sentimento. Um sentimento é um estado. O estado é um modo de sentir. O sentir do estar da falta é uma ausência. A ausência é um não estar, ou um retirar-se, ou um aguardar. Em um retirar-se algo que estava escapa. O escapado é a forma constante do retirar-se. Neste caso a ausência aponta para um era que não está mais. Por outro lado, é possível pensar a falta, não como uma antes que não está, mas como uma presença constante. Neste modo, o assombro vem, pois é a falta reveladora da angústia. Podemos vê-la como indicando um estar que aponta para a necessidade de preenchimento pelo futuro. O que virá, irá preencher. Porém, o advir e o antes não respondem adequadamente o sentido da ausência. A falta, derradeira, é percebida na permanência e pela permanência. Não se preenche a Falta com um era, ou com um virá, pois a falta revela-se no há, do aqui e do agora. A ausência, no aqui e no agora, dá-se no ultrapassar do que vige. No contínuo, falta-lhe o antes e o depois. Falta-lhe, sobretudo, o sentido, a meta. Porém, a experiência do fluir não é, em si mesmo, suficiente? Precisamos, peremptoriamente, ir além da experiência do estar pleno, no fruir do sendo? Prefiro abraçá-lo alegremente, a chorá-lo culposamente. Que os fragmentos que se seguem revelem a suave alegria dos equilibristas, ou os sôfregos lamentos dos amantes do sentido.
“Embora de início nos seja angustiante, essa meditação sobre nossa mortalidade acaba nos fortalecendo. Recolha-se em si mesmo, leitor, e imagine um lento desfazer-se em você mesmo, em que a luz se apague, as coisas emudeçam e não lhe dêem sons, envolvendo-o em silêncio, derretam entre as suas mãos os objetos que você segura, escorra sob seus pés o chão, desvaneçam como num desmaio as recordações, tudo se vá dissipando em nada, dissipando a você também, e em que nem mesmo a consciência do nada lhe reste, nem sequer como fantástica âncora de uma sombra”. Unamuno.
72 – “Desproporção do homem – Que o homem, voltado a si, considere aquilo que é diante do que existe; que se veja como um ser desencaminhado neste ponto afastado da natureza, e que, da pequena cela onde está preso, isto é, do universo, aprenda a avaliar em seu valor preciso a Terra, os reinos, as cidades e ele mesmo. Que é um homem dentro do infinito?
Que é o homem dentro da natureza, afinal? Nada em relação ao infinito; tudo em relação ao nada; um ponto intermediário entre tudo e nada. Infinitamente incapaz de compreender os extremos; tanto o fim das coisas como seu princípio mantêm-se ocultos num segredo impenetrável, e é-lhe igualmente impossível ver o nada de onde saiu e o infinito que o envolve.”
205 – “Quando reflito sobre a breve duração de minha vida, absorvida na eternidade anterior e na eternidade posterior, no pequeno espaço que ocupo, e mesmo no que vejo, fundido na imensidão dos espaços que ignoro e que me ignoram, aterro-me e assombro-me de ver-me aqui e não em outro parte, uma vez que não existe motivo algum para que eu esteja aqui e não alhures, neste momento e não em outro momento qualquer. Quem me colocou em tais condições? Por ordem e obra de quem me foram designados este lugar e este momento?”
206 – “O silêncio eterno desses espaços infinitos me apavora.” Pascal.
Liso gelo,
Paraíso
Para quem sabe dançar bem. Nietzsche.
Para o meu querido amigo Petrônio.
Marcos Vinícius.
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