segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Na aurora do avizinhar-se. Contra o pessimismo da necrópole e seu hálito pestilento.
“Temos que novamente nos tornar vizinhos das coisas mais próximas e não menospreza-las como até agora fizemos, erguendo o olhar para nuvens e monstros noturnos”. Nietzsche, F. § 16 – HDH II. Pg., 174
O apelo da fala de Nietzsche exige uma resposta e uma certeza diante do nós a que se refere, pois o sujeito conclamado da ação futura remete para um quem. O quem se refere na escrita de Nietzsche a um nós que se construiu a partir de uma hierarquia de valores específica – em uma forma tipo homem.
A fala exige também, que, novamente, dever-se-ia re-instituir a aproximação ausente em função de um dado destino, expresso em orientações específicas de forças. Um possível, uma aurora que já se realizou outrora - nos tornarmo-nos vizinhos das coisas mais próximas. As coisas mais próximas serão os objetos? Ou, os nossos próprios estados, ou melhor, estados que nos tornam, no seu estabelecimento, capazes de nos abrir como próximos ou distantes, como fronteiriços. Delimitação da fronteira: o que está à frente.
Por vizinho é comum tomar o que está ou mora perto. A questão da distância, do limite e da fronteira marcam, assim, a compreensão do sentido do avizinhar-se. Está perto não é submeter ao puro estado do que se aproxima, como também, não é confundir-se com o que estava distante. Morar perto é um aproximar-se, um simpatizar. De alguma maneira, o morar determina-se por um abrigar. O abrigo é um receber. Avizinhar-se é abrigar pela simpatia o que está próximo. O que mais próximo de nós está é o próprio. O limite determina a condição de fronteira entre o estar e estar próximo. Assim, o avizinhar-se determina-se por uma atenção que desperta-se com o próximo. O limite garante a sujeição integral, porém parcial, não total, daí o seu caráter de fronteira: permanecer em, sem se confundir com.
Logo, por avizinhar-se toma-se o aproximar-se de algo, no nosso caso, o próprio. O próprio, o que diz imediatamente respeito. Imediatamente é o que emerge. O próprio é o emergente. O emergente propõe-se como exigência. O que exige é o vigorar. Avizinhar-se é submeter-se ao que imediatamente vigora.
Aproximar-se determina-se pelo limite. No limite reside a fronteira entre a sujeição pura e o aproximar-se. A fronteira é a condição do avizinhar-se. Neste caso, no avizinhar-se encontra-se o limite, o próprio e a fronteira. Avizinhar-se no estado é expressá-lo. Pensar o corpo como um avizinhar-se, tomá-lo como modos de atuação que se projetam, como estados permanentes de vigoração.
Afetado pela questão dá-se o questionamento, longe de uma pureza qualquer o estado mesmo é de des-subjetivação, pois há um des-locamento de um estado primeiro, para um estado segundo, que, em um primeiro momento, dá-se como um aguardar e um receber. A abertura no aguardar dá-sé como uma espera. Nomeia-se a espera como atenção, algo, que determinará, irá irromper como vigorando. Des-subjetivar é o estatuto da experiência.
É uma pura ilusão confundir o estado de atenção como uma ausência de corpo. As várias tensões perpassam. Tomamos o corpo como um conceito que remete para um agrupamento permanente de sujeições. Agora, determina-se como olhar, agora como tatear, agora como sentir, agora como pensar. Em todos os modos um querer. Toma-se o querer por um impor-se, um vigorar. Assim, avizinhar-se ao que é próximo é desdobrar-se como vontade de poder.
Longe de propor a sujeição a algum estado interior, temos que o avizinhar-se exige o vínculo com o próximo, porém, em função do limite que instaura uma fronteira, mantêm-se aberta a dinâmica do sentir. Na sujeição plena perde-se o sentir, pois destitui-se as condições mesmas de percepção dos estados. Porém, a percepção do estado exige-nos que estivéssemos próximos sem nos perder. Parce-nos que o avizinhar garante a des-substantivação contida na própria experiência, sem contudo perder-se na selvageria. Neste momento nos aproximamos do conceito de cultura, pois a forma deverá se aliar a um conteúdo, na linguagem nietzscheana, Apolo e Dionísio compostos em uma tensa harmonia.
O vaticino final de Nietzsche nos lembra dos esforços das avaliações típicas do ocidente em dirigir o seu olhar para os distantes céu e inferno. Quando em direção ao céu, o ser anjo foi esculpido como condição para planar nas alturas, um corpo leve, desencarnado foi exigido. Um corpo ficcional, condição para o pensamento. Por outro lado, quando próximo aos infernais monstros, a carne foi vista como incandescência pura, como fogo que queima e remete para o enxofre do inferno. Avizinhar-se é amar o próximo sem exigi-lo pena ou peso, sem desejos de vôos e rastejo, sem alturas ou incêndios, pois avizinhar-se é manter-se fiel a terra, elevando-a até ao céu.
Por Marcos Vinícius
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Reverter
Avizinhar-se ao que é próprio. Avizinhar é um modo de estar. O que vige no avizinhar é um aproximar-se. Aproximar-se é manter-se longe da distância. No percorrer da distância entre o que se separa reside o avizinhar-se. Separar é dividir. Divide-se quando retira-se do próprio o que vige. O modo de ser do dividir é o enfraquecer, espécie de isolar. Isolar, apenas um modo de conceber. Outrora tomou-se a divisão como o modo de ser do que vige no estar. O modo do cindir operou no acusar da concupiscência. Reverter é avizinhar-se ao que é próprio. Questão, quanto de próprio há no ver, ouvir, tocar, cheirar e palatizar? Avizinhar é re-habitar. Habitar o há é dar-se enquanto páthos.
Por ora cabe-nos aguardar um retorno possível.
Sair ao encontro do ainda-não, pois o presente foi tragado por uma interpretação fugaz. Na aurora do tempo reside um passado duramente instituído como corpo.
A minha filosofia irá perseguir o que vige no que há. Não no intuito de determiná-lo, mas de criar condições para que possa viger. A tradição impediu que o próprio se assumisse como possível, ou, o próprio assumido foi condicionado. Com a suposta invulnerabilidade atacada, tornou-se possível a análise dos graus e das hierarquias de valores que antecederam as interpretações que regularam os fins da Cultura Ocidental.
Reverter
Avizinhar-se ao que é próprio. Avizinhar é um modo de estar. O que vige no avizinhar é um aproximar-se. Aproximar-se é manter-se longe da distância. No percorrer da distância entre o que se separa reside o avizinhar-se. Separar é dividir. Divide-se quando retira-se do próprio o que vige. O modo de ser do dividir é o enfraquecer, espécie de isolar. Isolar, apenas um modo de conceber. Outrora tomou-se a divisão como o modo de ser do que vige no estar. O modo do cindir operou no acusar da concupiscência. Reverter é avizinhar-se ao que é próprio. Questão, quanto de próprio há no ver, ouvir, tocar, cheirar e palatizar? Avizinhar é re-habitar. Habitar o há é dar-se enquanto páthos.
Por ora cabe-nos aguardar um retorno possível.
Sair ao encontro do ainda-não, pois o presente foi tragado por uma interpretação fugaz. Na aurora do tempo reside um passado duramente instituído como corpo.
A minha filosofia irá perseguir o que vige no que há. Não no intuito de determiná-lo, mas de criar condições para que possa viger. A tradição impediu que o próprio se assumisse como possível, ou, o próprio assumido foi condicionado. Com a suposta invulnerabilidade atacada, tornou-se possível a análise dos graus e das hierarquias de valores que antecederam as interpretações que regularam os fins da Cultura Ocidental. Por ora, utilizaremos o martelo...
Reverter
Avizinhar-se ao que é próprio. Avizinhar é um modo de estar. O que vige no avizinhar é um aproximar-se. Aproximar-se é manter-se longe da distância. No percorrer da distância entre o que se separa reside o avizinhar-se. Separar é dividir. Divide-se quando retira-se do próprio o que vige. O modo de ser do dividir é o enfraquecer, espécie de isolar. Isolar, apenas um modo de conceber. Outrora tomou-se a divisão como o modo de ser do que vige no estar. O modo do cindir operou no acusar da concupiscência. Reverter é avizinhar-se ao que é próprio. Questão, quanto de próprio há no ver, ouvir, tocar, cheirar e palatizar? Avizinhar é re-habitar. Habitar o há é dar-se enquanto páthos.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Educar para civilizar, ou...
Por Marcos Vinícius.
A construção de um grupo, povo ou nação na história dos humanos no planeta Terra sempre demandou a atividade de educar e de educadores. Em várias situações o saber acumulado precisou ser repassado com fins a manutenção de um determinado modo de ser e de estar no cotidiano.
Tomamos por cotidiano as vivências e práticas imediatamente disponíveis nos modos de ser e estar dos homens no mundo, resultantes do fazer da educação. No fundo as condições que mantém determinado grupo são exigidas como necessárias para a manutenção e o estabelecimento dos que acabam de chegar, os recém-chegados.
Em função da tensão entre os que aqui estão e os recém-chegados, o cuidado surge-nos como a questão derradeira da educação, pois o conflito básico entre os interesses dos que aqui estão e os dos que acabam de chegar, constitui-se, segundo julgo, como o pensar fundamental da educação e dos educadores.
O cuidado deve se estender para a potencialização dos que estão, como também, permitir que os novos possam vir a ser o que são. A preservação da eterna novidade do que brota é a razão do cuidado. Neste caráter duplo do cuidado emerge uma sociedade voltada para a civilização - formação; ou para a cultura – cultivo de si. Por cuidado toma-se a tarefa de auxiliar a desabrochar. Desabrochar é o realizar do que há.
Penso que no momento atual, o conflito de interesse, entre os que aqui estão e os recém-chegados, se acirrou, sobretudo, se levarmos em conta as variáveis, que a partir da modernidade, têm orientado os fins da educação. Apontamos duas grandes tendências: aquelas vinculadas aos interesses do Mercado e do mundo do trabalho, e aquelas vinculadas aos interesses do Estado.
Almejamos nessa exposição contrapor os interesses de mundo vinculados aos ideais civilizatórios e aqueles pensados com fins da cultura de um grupo, povo ou nação. Até que ponto os fins civilizatórios, apresentados pelas tendências do Mercado e do Estado, são um impedimento para a construção de um presente e um futuro que permitam o cultivo de si como fins de um grupo, um povo e uma nação?
As exigências do Mercado.
Para a manutenção do mercado exige-se a produção de sujeitos portadores de habilidades e competências que os permitam serem utilizáveis nos vários setores da produção do mundo moderno.
A exigência de utilidade estende-se a todos os níveis possíveis de atuação no mundo do trabalho em todas as suas demandas, quer sejam procedimentos teóricos, práticos ou teórico-práticos imediatamente aplicáveis ou não. Cabe à educação transferir, construir e desenvolver as habilidades e saberes necessários para a execução das tarefas do mundo do trabalho contemporâneo.
Cada vez mais atrela-se o sucesso da educação às exigências programáticas do mercado. Os fins desta tendência coadunam com o da empregabilidade e da sua manutenção permanente por parte dos educandos.
A noção de educação continuada coaduna com o afluxo de ciência e tecnologia atrelado à produção capitalista contemporânea no âmbito globalizado da produção em um também global mercado de trocas para as infindáveis disputas.
Cuidar, nesta perspectiva, significa submeter os recém-chegados às condições que os tornariam utilizáveis aos interesses do mercado e da sua reprodução. A coisificação e a otimização dos recursos e dos resultados, com fins ao aumento dos lucros, passam a ser os fins deste modo de civilizar, pois quanto mais produtores, mais consumidores, quanto mais consumidores, mais produtores, logo, mais lucros, acúmulo de riquezas e pagamento de impostos. Os artefatos da produção cultural também serão submetidos a essa lógica de ampliação de resultados e de maior consumo. Deste solo, emerge, a cultura de massa.
Os ideais do Estado.
A outra tendência prioriza os interesses do Estado. A cidadania apresenta-se como o fim geral da educação voltada para os interesses de um Estado.
Por cidadania compreende-se o exercício ativo dos sujeitos nos processos decisórios da esfera pública e política, bem como, a garantia dos direitos de livre associação e de liberdade de expressão na esfera privada, pública e política.
Os fins da cidadania recolhem-se no respeito à Lei, que em um Estado democrático de direito, pelo sistema de representação, fundada na vontade da maioria representada, apresenta-se como o dever de todos.
Em linhas gerais, a noção de cuidado, nessa acepção, visaria a construção do conjunto de habilidades e competências que permitiriam aos sujeitos a construção da sua cidadania. Para tal, as habilidade de convivência, bem como, a capacidade de compreensão dos signos lingüísticos, matemáticos, lógicos e tecnológicos coadunariam com os fins da educabilidade. A mobilidade da Lei dar-se-ia com a construção de uma participação ativa dos sujeitos de uma nação, quando, pela organização e defesa de seus ideais, poderiam vir a cristalizar os seus interesses na esfera da legalidade, na sua expressão como Lei. O respeito à Lei e às condições para a sua produção seriam os horizontes maiores do cuidado na esfera educacional, quando submetida aos interesses do Estado.
Deste modo, os fins civilizatórios estariam contemplados na esfera da educação na construção de habilidades e competências exigidas pelas tendências de Mercado e trabalho e para o exercício da cidadania.
A inclusão digital.
A noção de inclusão digital remete-nos para as duas exigências do mundo contemporâneo que fazem eco na noção de cuidado na educação, pois a mesma tem sido convocada a resolver as demandas de otimização dos resultados e da produção na esfera do mercado, bem como, atender aos interesses do Estado na produção de uma cidadania ativa e participativa.
A tarefa da inclusão digital, como mais uma das atribuições da educação, nasce do subimento da educação aos interesses do Estado e aos do Mercado. Em ambos a necessidade da inclusão faz-se premente, pois a digitalização dos processos de produção e teorização vem se tornando uma prática comum ao Mercado e ao trabalho globalizado a partir da década de 90, tornando-se uma condição fundamental para o exercício da produção, do trabalho e da riqueza no mundo contemporâneo. Assim, se o Estado necessita da produção presente no Mercado, como forma de arrecadar recursos para a sua manutenção, é extremamente necessário que um segmento responsável pela construção das habilidades e competências para o seu pleno exercício se veja diretamente responsabilizada pela construção das condições que permitiram a inclusão do maior número de sujeitos no mundo digital, pois quanto maior o número de sujeitos hábeis no trato com as novas tecnologias, maior a produção, a empregabilidade, os lucros e os impostos de um grupo, de um povo ou de uma nação.
Em síntese, as tendências cristalizadas nos interesses do Mercado e do Estado têm a sua razão de ser na manutenção das condições que permitam a sua expansão e otimização dos seus resultados. Tanto o Mercado quanto a Estado visam à construção de sujeitos ideais, aqui compreendidos, como plenamente e satisfatoriamente utilizáveis, para que possam atingir os seus fins. Para o mercado a ampliação da produção em um custo cada vez menor, e, para o Estado a ampliação da sua esfera de legalidade para a manutenção das suas condições de exploração. Civilizar no interesse destas forças significa tornar permanente a determinação dos horizontes a partir dos quais o cuidado se dá, delimitado pela produção de sujeitos utilizáveis a qualquer momento e em qualquer situação, plenamente satisfeitos com as condições que mantém oculta a sua ininterrupta exploração.
Por uma fábula.
Não há nenhum fim em si. Todas as tendências querem fazer predominar o seu agir. Na base do seu agir há uma estratégia de fazer passar por verdade aquilo que é apenas um interesse momentâneo e particular de uma engrenagem e dispositivos de poder de um grupo específico. Os grupos que se impõem transitam em uma dada interpretação, construindo a sua volta mundo e povos, à luz das suas determinações.
Orientado pela cultura proponho um ideal de educação que tome o cuidado como um meio auxiliador e potencilizador do desabrochar daquilo que é próprio a um indivíduo, a um grupo, a um povo e a uma nação, com fins a estilizar, em um belo quadro, toda a sua força, jovialidade e beleza, quando na hierarquização dos seus afetos, venha a constituir um grande estilo. Uma singularidade capaz de vir a representar o melhor de um povo e até mesmo de vir a justificar todos os seus. O fim da cultura é a produção do sentido de um povo, pois enquanto expressão artística designa as suas moedas de valor, o seu incalculável e o seu desprezível.
A arte como expressão das lutas entre os afetos na determinação do seu atuar em uma dada direção, constitui a razão de ser do cuidado da educação com fins ao desenvolvimento de uma cultura.
O individuo que se dispôs na arte do cultivo de si expressa a sua diversidade sob a unidade de um estilo. Se o ideal da civilização é tornar regulável e utilizável, o ideal da cultura é tornar singularmente belo a tensão presente no existir concreto de um povo.
Na ausência da meta, submetemo-nos ao cotidiano calculável e utilizável das tendências presentes no ideal da civilização, por esta razão a eterna novidade, presente nos novos que chegam, oculta-se, ou até mesmo se perde, na fabricação de sujeitos iguais e utilizáveis. Na eterna tensão entre a cultura e a civilização é certo que os bárbaros no poder produzirão...
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Refutações
Circunferência
O estar
Para além de lá. Para aquém de ir. Para além daqui para lá. O estar ressoa como emergência. Emergência é um brotar. O brotar do que brota vige no estar. O é do estar dá-se brotando. Brotando não remete para um além daqui, nem muito menos em um para lá, ou, um para a onde. Fluir é o nome do que brota no quando do vigir do estar. Não há algo que flui no fluir, há o fluir do que vige quando flui. Mesmo se optar-se por um estando, subrepticiamente, manter-se-ia, uma essência? O vigir vige. O que se permiti dizer e falar: o vigir do que vige no estar vige quando o estar se dá vigindo: a emergência. O que emerge não vem de lá, nem daqui, o emergir vige. Vigir brotando. Para além do vigir não há. O vigor do vigir dá-se como vigorando. Vigorar é vigir. O o, a, é, são limites inequívocos? Como é possível dizer e pensar o vigir do que vige sem substantivá-lo? Sem submetê-lo às condições inerentes a uma dada linguagem, que se proposicional, postulará, sempre, um sujeito e uma predicação? Aqui reside o limite do dizer e as condições de expressão de um pensar? Para além da questão reside a expressão: estar é um modo do vir do que vige. Do que, aqui, não é uma essência, nem muito menos remete para tal, é apenas um limite para expressar o pensamento que afirma que vigir, no sentido que pretendemos alcançar, não pode ser dito sem ser substantivado. Todas as alternativas remeterão para o indizível que aqui não pode ser dito sem incompreensões, pois a própria palavra vigir supõe o vigir como uma essência? Penso que o remetimento para a afirmação de que com a noção do vigir não apelo à essência, seria satisfatório para o opositor que acusaria a afirmação de metafísica. Por metafísica toma-se a consideração das essências, como puras em si e todo o dualismo que daí se processa e as suas implicações para uma filosofia da afirmação do puro vigir. O vigir, deste modo, não é a essência, nem muito menos uma substância, mas apenas um conceito que aponta para a equivalência entre o estar é a sua condição mesma de expressão em uma dada linguagem. Por outro lado, não se trata de dizer que por esta razão estamos na verdade do conceito e da sua referência, pelo contrário, apenas postulando-se a necessidade de se continuar a impor condições que nos permitam expressar a condição na qual estamos. O vigir dá-se como emergência ininterrupta. Deste modo, não cabe aqui indagar se esta expressão é verdadeira ou falsa, se é adequada ou não, ou se remete para algo que existe ou poderia existir. O derradeiro reside: a expressão potencializa a afirmação: fazer atuar o que vige nas dinâmicas de todos os vigires do estar (es).
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
O sorriso
Abstênio: sóbrio. Aquele que se abstém. Do Lat abstemius.
Sobre o abster-se. Abster-se é um retirar-se. É um deslocar de um modo possível de estar, para uma outra região, para um ir de encontro, para um determinado lá. Quando imerso no que lhe falta o abstido é um disparate. A longa história do abster-se se denomina moral.
O niilismo. Por uma valoração moral da veracidade atingiu-se as condições que exigiram a postulação da Verdade. A Verdade desmascarada revelou-se como um desejo de nada, um escapar para a região do ideal, que pensado como oposição ao que é, havia se instituído como o topos judicativo, como juiz do jogo inocente do devir. O conceito de A Verdade nasce diante da incomensurável potência do que é, no seu inocente acontecer. O que acontece determina-se por si mesmo, nas suas internas tensões de duração. Longe deste ir e vir, de descomunal potencial de ação, surgiu o Homem. Feito do mesmo material do que é, composto pelas suas inerentes tensões e desdobrado no bojo do devir do acontecer, porém desconfiado da capacidade inerente ao que é, de propor-se como sendo. Bastaria continuar o processo de ação que afigura como o em si de tudo que é, porém, a inocente afirmação soou como pouco, como falta aos olhos de determinados tipos humanos. Não seria possível que bastasse apenas um sim, um sorriso, para permanecer no reino da pura atividade e da exuberante necessidade. A falta acabou por desdobrar-se como o Mal, e se sente-se mal, logo buscou-se uma razão para o mal estar. Neste momento entrou em cena a culpa, afinal, se a falta é um mal, a culpa a explicará. Assim, existira um lugar para além daqui que livraria o sentir da dor da falta diante do inocente devir do acontecer, da ausência que se percebeu no puro e constante agir. O acesso a este lugar passou a ser perseguido, como condição do restabelecimento da dívida que se contraiu. O encontro com este lugar revelou-se como a aquisição dA Verdade de todas as coisas, que acabou por se instituir como um critério para se contrapor ao Mal que se sentia diante das condições pelas quais se via e se interpretava. Porém, o acesso dar-se-ia por uma via que deveria esquivar-se da condição do Mal. O Mal estava aqui, na parte que participa do acontecer. Assim, na invenção do além, como o lugar da verdade e depósito do bem, ligou-se à ideia de que uma parte do Homem não seria composta dos elementos que vigem e determinam o acontecer. Agora, séculos depois, por amor a verdade, A Verdade se revelou – por longos anos depreciou-se o acontecer do mundo em nome de um ideal, e agora depreciamos aquilo que sobre nós pairou, afinal, o mundo do ideal foi visto por dentro. Cabe agora, não vergar diante do vazio, - Bem entendido, propor novas avaliações.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Para Larissa e Rodrigo
Pensar a radicalidade da vida significa submeter-se a torrente que nos constitui. Um devir que se desdobra como um conjunto de relações complexas de atuação. O atuar dá-se como tempo. Não há o atuar, mas atuações, sempre dinâmicas e complexas. Por atuações compreende-se a imanência em si do que atua. O atuar move-se em uma atuação que se desdobra como um confronto. É necessário pensar apenas a atuação como atuando nas suas infinitas realizações. Um evento é um desdobrar das atuações. O sujeito mesmo é a realização de uma dinâmica de atuações. Atuar é manter-se em constante atuação. Força é o nome dado a qualidade do que atua. A qualificação da força é a manutenção mesma da atuação. A qualidade do atuar é a força, a qualidade da força é o seu agir. Agir é o modo de ser daquilo que atua. Não é possível ultrapassar a atuação, é muito menos acessar um Nada, um ponto de equilíbrio, uma constância. A noção de permanência, de identidade e mesmidade é resultado de um modo gramatical de pensar, sempre na suposição da predicação de um sujeito que é. Atuar - permanência múltipla.
Por Marcos Vinicius.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Para além do profundo e aquém do céu.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Ode a diferença.
terça-feira, 8 de junho de 2010
Para um novo Filósofo, amigo de enigmas.
Considerações sobre o interpretar.
Por Marcos Vinícius.
“Hoje, a doença das pessoas é que elas não sabem mais admirar, ou, então, são ‘contra’, aferem tudo por seus parâmetros, e tagarelam, e escrutam”., Deleuze, pg., 167.
O diagnóstico é preciso: parte-se de um lugar, de uma geografia, de uma perspectiva que debruça e retorna a um lugar que estava como escrita. No escrito, na tensão do pensado, paira a linguagem e a língua, como também pulsam as forças de um determinado fluxo. O sobrevôo do pensamento, acolhedor do acontecimento, se expressa como conceito. No tempo presente, habita uma marca, que propõe um modo de apreensão, expresso como doença. Por doença toma-se o subjugo por um pathos, que assume a esfera da determinação do sentido. Deleuze é categórico, afigura-se, no hoje, um não-saber fundamental, que inaugurará a possibilidade de contatos, de intensificação das apropriações.
Apropriar de modo a reduzir o apropriado é a marca da patologia do presente. Este modo de apropriação resulta da repulsa ao contato, ao impedir a expressão da diferença de dada singularidade. A patologia poderia ser descrita como a sanção, comandada pela vontade reativa, que sempre julga e condena, compreendendo que dominar é destruir, de modo a vir a se aliviar dos contatos. O signo desta patologia é a ausência do admirar. O admirar assenta-se na capacidade de extasiar. Por extasiar toma-se o fruir de um estar diante dê. A negação e ou afirmação do pró e do contra exprimem a ausência do extasiar, pois reduzem, a expressão do pensar de uma singularidade, ao seu querer. Duas ausências se expressam como presentes, não saber admirar, e a tudo submeter. “Não convém proceder assim”. Deleuze, pg., 167
Voltar é debruçar-se, de modo, a perceber o problema. O problema é o modo e a sua expressão. Lá se encontra a possibilidade de tonificar a sua potencialidade. Cabe ao pensar – extasiado, capaz de se admirar e não apenas se posicionar, “remontar aos problemas que são formulados por um autor de gênio, para chegar àquilo que ele não diz no que diz, para daí extrair alguma coisa que ainda lhe devemos, embora com o risco de fazê-la voltar com contra ele mesmo”. Pg, 167
Chegar aquilo que ele não diz no que diz. Como se chega àquilo que se diz no que não se disse? Perguntaríamos por algum esquecimento? Perguntaríamos por alguma deficiência da linguagem, quando algo lhe escapa? Perguntaríamos pelas intensidades, proporíamos uma genealogia? Proporíamos uma analítica da ideologia? Como apropriar-se de algo que estava lá e por mais que disséssemos continuaria não dito? Enquanto nos situarmos nas oposições próprias à imagem dogmática do pensamento, o sentido da questão nos escapará, pois os pares de claro e escuro, memória e esquecimento, essência e aparência, sujeito e objeto, linguagem ideal e fatos a serem representados não atingem o centro da questão, pois como “chegar àquilo que ele não diz no que diz”? Uma pista “um aforismo de Nietzsche é uma máquina de produzir sentido, em uma certa ordem, que é a do pensamento”. Pg 168.
Por ora, a maquinação que é o pensar, mesmo que dogmática, é dada ao pensamento, isto é, a ininterrupta possibilidade de fazer brotar do já pensado, algo a se pensar! Admirar é a expressão mesma do fazer pensar. Assim, a história da filosofia, já tornada morta, no tom tagarela da academia, faria pensar mais uma vez, reluzindo o que não foi dito no que foi dito: o a se pensar.
Provocações – seduzir é permitir se amar, amar é fazer brotar o que há, na sua exuberância. Longe de reduzir, interpretar é fazer luzir..
terça-feira, 25 de maio de 2010
Tensão entre a indefinição e o nada como domínio.
Como um raio virá o amanhã e o depois de amanhã. Como uma luz ascenderá e iluminará o pórtico, do agora. Eis a inscrição: sob o hoje determinar-se-á todas as formas do futuro. O critério deveria ser a exuberância e não a conservação e a permanência de uma forma e de um sentido. Agora, caberá ao presente determinar o futuro. Escapará algo a esta determinação? A manipulação estende-se sobre todas as formas de vida possíveis e assenhora-se do mundo. O artificial far-se-á como não-mais um sonho, mais a divisa, a partir da qual, a totalidade dos seres será subjugada. Pena saber que o critério será conservação e a permanência de um determinado tipo, que no receio dos inimigos, que fariam a espécie ultrapassar a si mesma, como invenção permanente, reduzirá a Terra ao controle total. Caso ocorra agora o possível... A divisa não deveria ser o medo, transposto como a manutenção de condições que tornariam o hiato entre nadas - nós humanos - como o critério decisivo do futuro.Não é de agora que a permanência e o medo são os signatários do destino.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Tensão.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Para o Plabo.
terça-feira, 18 de maio de 2010
O encontro.
Por Marcos Vinícius.
Por Marcos Vinícius.
Efetivar-se e a imitação.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Sobre o antes - a memória.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
As três intuições básicas.
terça-feira, 9 de março de 2010
Resignação
renúncia voluntária de uma graça ou de um cargo. Conformar-se. Adquirir a forma dê.. Espécie derradeira de ausência. Já, estaremos mortos??
Marcos