Da
apropriação, na imanência da pletora dos sentidos.
Por: Marcos Vinícius.
“A linguagem sonha.”
Bachelard, G.
Trata-se
de uma indagação. De colocar-se diante de um questionado formulado em questão.
Por questão toma-se a violência que instaura um assombro em algo, com algo e
por algo – limite finito da afirmação que brota como aparência. É da condição
da aparência impor-se como assombro, estabelecendo-se como um possível em uma questão.
Jogar-se no assombro de um questionamento denomina-se também de pensamento. Um
dos modos do pensamento é se lançar na dança do pensar e se mover em um
questionamento – bailando nas vielas abertas por algum sentido. No caso,
trata-se da ocorrência da apropriação, do fato da apropriação. Como se dá a
apropriação e não como se deve dar uma apropriação - há um imbricação visível entre o fato da
apropriação e o seu assim se deve. O fato da apropriação apresenta-se no
visível do mundo, na sua emergência como ininterrupta aparência.
Trata-se
da apropriação. O remetimento
semântico indica uma relação de proximidade entre a apropriação e o significado
do termo próprio. O próprio - adj.
Pertencente, adequado. Carregado e imanente ao sentido do verbo - Ser
propriedade ou parte de. Do lat. Perteecer -
Adequar: adaptar, tornar próprio.
Pertencer, adequado. Ser propriedade ou parte de...
Não
se trata da propriedade de algo, de alguma essência. Indaga-se o fato da propriedade e das suas
condições, com fins a problematizar a questão de como se dá um possuir. Como
apresenta-se na paixão da posse a questão da apropriação? Posse, possessão e apropriação se dão como o a
se pensar do questionado da questão.
A
posse advém no entre de uma relação.
Possuidor e possuído se jogam no entre da sua relação. É da condição da
posse que aquilo que se passou a possuir lance-se anteriormente como o a se
possuir. É na relação do encontro que se estabelece o a se possuir que o jogo
da sua presentificação se fez no instante da possessão. Habitar o jogo da
possessão surge-nos como o mergulho no questionado da questão.
Por
propriedade toma-se também o pertencer a alguém. Um modo possível de ser da posse
– afundada nos limites de sentido da possessão. Por possessão compreende-se o estar
em profundo acordo com. Por acordo, denomina-se o submetimento ocorrido em um
conflito. O acordar dá-se no processo que se instaura e se insinua na relação
de possessão. É da ordem do acordo um jogar. No jogo, a ludicidade da afirmação,
encontra-se na tonalidade afetiva da sua aparência, no trânsito da sua querença;
No
pertencer a alguém expressa-se um modo do pertencimento. O dar-se como um
acessório – uma bolsa, uma caneta, uns óculos... Nesse caso, o pertencer se
dirige à superfície em algo ou de algo. Porém, pertencer, diz também, do mais
próprio. Nesse caso, o pertencido ressoa no próprio e com o próprio. Por
próprio toma-se o si mesmo. No si mesmo do próprio reside a condição da
possessão da posse. Para aquém do possuído e do possuidor há o encontro que se
instaura na relação da posse. Não se pode propor a posse sem o contato que a
institui como possível – os jogos das possessões.
Indagar
sobre a posse lembra-nos um possuidor. Indagar sobre o possuidor exige-nos um
próprio. Propor um próprio como condição da posse lança-nos na possessão. A
possessão se dá em uma relação, em um modo de se dar do encontro, em que as
submissões tomam forma. Por submissão nomea-se o exercitar-se das atuações. Por
atuações compreende-se o modo de se dar das ocorrências. De algum modo, as
ocorrências são a expressão de relações de possessão. Na possessão instaura-se
um efetivar em uma direção.
O apropriar-se é um submeter ou submeter
é condição do apropriar-se?
Habitamos
sob a influência de um determinado horizonte de sentido. Por sentido toma-se a
condição que instaura um conjunto finito de significados. Os significados
encarnam a sua forma na imersão em um sentido, do brotar em um sentido. A
relação entre o sentido e o significado não se dá por referência. A relação
entre os sentidos se dá por influência. Por influência, toma-se o modo de ser de alguma atuação. A condição da
influência dá-se no fluir. Do lat. Fluere. Dá-se como sentido é expressar-se
como fluxo. No fluxo dá-se um perpétuo jorrar. É da condição do sentido brotar
incessantemente com expressão do fluxo que se impõe. Um modo de ser do fluxo é
expressar-se como sentido. Por expressão toma-se a reincidência em um modo de
ser do sentido.
Do modo de ser na relação entre sentidos
no horizonte da apropriação.
Se
os sentidos impõem incessantemente, qual seu modo de interrelação? O que se
impõe almeja perdurar com fins a expandir o seu mesmo e a sua diferença. Por
existir toma-se o fato de emergir como sendo em uma aparência. De qualquer modo, na aparência teima a
presença de um sentido que se impõe. Em qualquer aparência expressa-se o
efetivar de um sentido, sua pretensão de compor um significado a partir de si.
A pletora de significados aponta para a divergente diversidade dos sentidos.
Na
apropriação mantém-se o jogo das imposições que carregam o destino de um
sentido. A imanência do sentido, quando da apropriação, instaura-se na pletora
dos afetos. Por afetos toma-se a brotação na qual emerge o significado de um
determinado horizonte de sentido. Afetos, sentidos e significados roçam a si
mesmos nos jogos do tempo e da eternidade. Para além do afeto nada há. Em
qualquer afeto mantém-se a afirmação da mesmidade da sua diferença. É da ordem
dos afetos fazer o dizer em um língua a aparência do que são. Nas aparências do mundo jogam-se e se dispõe
a pletora dos afetos.
Do encontro na gratidão.
Uma
das passagens possíveis aos afetos denomina-se linguagem. A linguagem pode se
dar como uma língua na composição com a cor, na composição com o olfato, na
composição com o som, e na composição com o tato, etc. A forma de uma língua
abriga-se em um horizonte de sentido possível. Trata-se nesse caso da
composição com o som. A língua fala... No encontro com a língua falada
depara-se com a imposição de um sentido que impõe-se na sua mesmidade e
diferença. No encontro com um texto advém o seu significado. Para aquém do dito
de um texto nada há – a imanência do seu impor-se funda-lhe. Encontrar-se com
textos é dar-se na possessão. Ser apropriado por, jogar-se em um mergulho, em
um sentido que permanentemente se impõe, é o destino do leitor. Gratidão é modo
de ser da relação do encontro com o texto, do leitor... As suas núpcias... A
sua fecundação... Por fecundação toma-se o submeter-se do próprio na
apropriação. É do signo da apropriação também dominar, de propor-se em um
salto, fecundar-se também é um
assimilar. Assimilar é fazer imperar em uma direção, propor um submeter.
O império do som e o destino da
apropriação.
Na
repetição de uma forma dá-se uma formação. A condição da repetição é afirmação
de um sentido em uma direção. A incorporação soa como a constituição em uma
repetição e a apropriação o modo de ser da repetição em uma direção. Apropriar
dá-se no jogo do sentido e da sua repetição nos jogos da pletora dos afetos. O
impedimento de uma apropriação se dá na soberania de uma forma, o que rompe é a
experiência da submissão.
Distantes
estão os pássaros de rapinagem,
sobrevoam as aldeias.
Quando
olham,
apequenam
e planificam a superfície do plano.
Outrora, mergulhavam
com rapidez.
Nas
garras, trazem suas presas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário