sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Da apropriação, na imanência da pletora dos sentidos.


Da apropriação, na imanência da pletora dos sentidos.
Por:  Marcos Vinícius.
“A linguagem sonha.”
Bachelard, G.

Trata-se de uma indagação. De colocar-se diante de um questionado formulado em questão. Por questão toma-se a violência que instaura um assombro em algo, com algo e por algo – limite finito da afirmação que brota como aparência. É da condição da aparência impor-se como assombro, estabelecendo-se como um possível em uma questão. Jogar-se no assombro de um questionamento denomina-se também de pensamento. Um dos modos do pensamento é se lançar na dança do pensar e se mover em um questionamento – bailando nas vielas abertas por algum sentido. No caso, trata-se da ocorrência da apropriação, do fato da apropriação. Como se dá a apropriação e não como se deve dar uma apropriação -  há um imbricação visível entre o fato da apropriação e o seu assim se deve. O fato da apropriação apresenta-se no visível do mundo, na sua emergência como ininterrupta aparência.   
Trata-se da apropriação. O remetimento semântico indica uma relação de proximidade entre a apropriação e o significado do termo próprio.  O próprio - adj. Pertencente, adequado. Carregado e imanente ao sentido do verbo - Ser propriedade ou parte de. Do lat.  Perteecer -  Adequar: adaptar, tornar próprio.  Pertencer, adequado. Ser propriedade ou parte de...
Não se trata da propriedade de algo, de alguma essência.  Indaga-se o fato da propriedade e das suas condições, com fins a problematizar a questão de como se dá um possuir. Como apresenta-se na paixão da posse a questão da apropriação?  Posse, possessão e apropriação se dão como o a se pensar do questionado da questão.
A posse advém no entre de uma relação.  Possuidor e possuído se jogam no entre da sua relação. É da condição da posse que aquilo que se passou a possuir lance-se anteriormente como o a se possuir. É na relação do encontro que se estabelece o a se possuir que o jogo da sua presentificação se fez no instante da possessão. Habitar o jogo da possessão surge-nos como o mergulho no questionado da questão.  
Por propriedade toma-se também o pertencer a alguém. Um modo possível de ser da posse – afundada nos limites de sentido da possessão. Por possessão compreende-se o estar em profundo acordo com. Por acordo, denomina-se o submetimento ocorrido em um conflito. O acordar dá-se no processo que se instaura e se insinua na relação de possessão. É da ordem do acordo um jogar. No jogo, a ludicidade da afirmação, encontra-se na tonalidade afetiva da sua aparência, no trânsito da sua querença;   
No pertencer a alguém expressa-se um modo do pertencimento. O dar-se como um acessório – uma bolsa, uma caneta, uns óculos... Nesse caso, o pertencer se dirige à superfície em algo ou de algo. Porém, pertencer, diz também, do mais próprio. Nesse caso, o pertencido ressoa no próprio e com o próprio. Por próprio toma-se o si mesmo. No si mesmo do próprio reside a condição da possessão da posse. Para aquém do possuído e do possuidor há o encontro que se instaura na relação da posse. Não se pode propor a posse sem o contato que a institui como possível – os jogos das possessões.
Indagar sobre a posse lembra-nos um possuidor. Indagar sobre o possuidor exige-nos um próprio. Propor um próprio como condição da posse lança-nos na possessão. A possessão se dá em uma relação, em um modo de se dar do encontro, em que as submissões tomam forma. Por submissão nomea-se o exercitar-se das atuações. Por atuações compreende-se o modo de se dar das ocorrências. De algum modo, as ocorrências são a expressão de relações de possessão. Na possessão instaura-se um efetivar em uma direção.
O apropriar-se é um submeter ou submeter é condição do apropriar-se?
Habitamos sob a influência de um determinado horizonte de sentido. Por sentido toma-se a condição que instaura um conjunto finito de significados. Os significados encarnam a sua forma na imersão em um sentido, do brotar em um sentido. A relação entre o sentido e o significado não se dá por referência. A relação entre os sentidos se dá por influência. Por influência, toma-se o  modo de ser de alguma atuação. A condição da influência dá-se no fluir. Do lat. Fluere. Dá-se como sentido é expressar-se como fluxo. No fluxo dá-se um perpétuo jorrar. É da condição do sentido brotar incessantemente com expressão do fluxo que se impõe. Um modo de ser do fluxo é expressar-se como sentido. Por expressão toma-se a reincidência em um modo de ser do sentido.  
Do modo de ser na relação entre sentidos no horizonte da apropriação.
Se os sentidos impõem incessantemente, qual seu modo de interrelação? O que se impõe almeja perdurar com fins a expandir o seu mesmo e a sua diferença. Por existir toma-se o fato de emergir como sendo em uma aparência.  De qualquer modo, na aparência teima a presença de um sentido que se impõe. Em qualquer aparência expressa-se o efetivar de um sentido, sua pretensão de compor um significado a partir de si. A pletora de significados aponta para a divergente diversidade dos sentidos.  
Na apropriação mantém-se o jogo das imposições que carregam o destino de um sentido. A imanência do sentido, quando da apropriação, instaura-se na pletora dos afetos. Por afetos toma-se a brotação na qual emerge o significado de um determinado horizonte de sentido. Afetos, sentidos e significados roçam a si mesmos nos jogos do tempo e da eternidade. Para além do afeto nada há. Em qualquer afeto mantém-se a afirmação da mesmidade da sua diferença. É da ordem dos afetos fazer o dizer em um língua a aparência do que são.  Nas aparências do mundo jogam-se e se dispõe a pletora dos afetos.
Do encontro na gratidão.   
Uma das passagens possíveis aos afetos denomina-se linguagem. A linguagem pode se dar como uma língua na composição com a cor, na composição com o olfato, na composição com o som, e na composição com o tato, etc. A forma de uma língua abriga-se em um horizonte de sentido possível. Trata-se nesse caso da composição com o som. A língua fala... No encontro com a língua falada depara-se com a imposição de um sentido que impõe-se na sua mesmidade e diferença. No encontro com um texto advém o seu significado. Para aquém do dito de um texto nada há – a imanência do seu impor-se funda-lhe. Encontrar-se com textos é dar-se na possessão. Ser apropriado por, jogar-se em um mergulho, em um sentido que permanentemente se impõe, é o destino do leitor. Gratidão é modo de ser da relação do encontro com o texto, do leitor... As suas núpcias... A sua fecundação... Por fecundação toma-se o submeter-se do próprio na apropriação. É do signo da apropriação também dominar, de propor-se em um salto,  fecundar-se também é um assimilar. Assimilar é fazer imperar em uma direção, propor um submeter. 
O império do som e o destino da apropriação.
Na repetição de uma forma dá-se uma formação. A condição da repetição é afirmação de um sentido em uma direção. A incorporação soa como a constituição em uma repetição e a apropriação o modo de ser da repetição em uma direção. Apropriar dá-se no jogo do sentido e da sua repetição nos jogos da pletora dos afetos. O impedimento de uma apropriação se dá na soberania de uma forma, o que rompe é a experiência da submissão.


Distantes estão os pássaros de rapinagem, 
sobrevoam as aldeias.
Quando olham,
apequenam e planificam a  superfície do plano.
Outrora, mergulhavam com rapidez.
Nas garras, trazem suas presas.

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