segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Sobre o palco e o delírio

Os Nós, o acaso e a escultura de si.

Por Marcos Vinícius Leite.


Correlações: completo e incompleto, concorde e discorde, harmonia e desarmonia, e de todas as coisas, um, e de um, todas as coisas. Heráclito – Frag 10. Diels e Kranz.

Sobre nós e encontros. Um nó. 1 - Conjunto de linhas que se cruzam em determinado espaço-tempo. 2 - Conjunto de constantes químicas que se sobrepõe em um determinado espaço-tempo. 3 - Vidas que se cruzam em um dado espaço-tempo. 4 - Ação de atuações que se sobrepujam configurando-se como espaço-tempo. 5 - Império vigoroso da repetição na atuação das suas infinitas diferenças. 1 - Aleatoriamente endereçadas e esculpidas por mãos que causalmente traçam os encontros desafortunados das linhas, no vigir da tecedura. 2. Incertezas que se cristalizam em um instante formando um ponto de convergência de intenções e necessidades. 3 – Nós que se compuseram e se determinam como ação ininterrupta das atuações. 4 – Milagre da atuação e da re-petição incessante da necessidade, na sua aleatoriedade. Processo ininterrupto de atuação constituidor do tempo e do espaço no sues movimentos. 5- Vigor incessante que faz construí-destruir permanentes.
Na convergência que atua no nó esconde-se a dinamicidade do acaso. Por acaso toma-se o império da necessidade jogada no simples regozijo de si mesma. A necessidade dá-se como o atuar do que vige. A vigência do nó. No nó. Nervura milagrosa dos encontros.
Que se sobrepujam..

A paisagem do encontro. Uma linha, uma equação química, a vida, o outro e a repetição da atuação do que vige. No encontro esculpi-se o nó. No nó torna-se visível o belicoso do encontro daquilo que teima em fazer vigir a vigência do que há. Paradoxo de Heráclito: o uno é múltiplo. A harmonia é o combate. Por combate toma-se o encontro que realiza-se como nó. A condição ética do encontro: afirmar o acaso no nó do encontro: da linha, da química, da vida, do outro e da repetição do que teima e faz vigir o que há.

“Tudo se faz por contraste; da luta (polémos) dos contrários nasce a mais bela harmonia” Heráclito.

Eles não compreendem como, separando-se, podem harmonizar-se: harmonia de forças contrárias, como o arco e a lira. Heráclito.

No nó dá-se a harmonia. Tensões que se sobrepõe e mantém tenso o laço. A tensão do laço como a expressão do acaso que afirma a necessidade da configuração belicosa

O nó e a impermanência. O nó das linhas se mantém na tensão da não separação. O nó exige a convergência das necessidades na fundação do espaço-tempo que brota do encontro da dinamicidade da afirmação belicosa. Ponto de interseção onde afirma-se a passagem das forças que atuam na necessidade da sua vigência. Como a belicosidade é a configuração do que vige o nó é o modo de ser da atuação do vigir. A cada instante um nó se joga e se estabelece no grande ano do acaso. Por acaso toma-se não a ausência de ordem, mas o império da afirmação da irrestrita necessidade.

Nó, laço, parte mais rija da madeira. Articulação dos dedos. Do lat. nõdus.


Sobre o palco e a emergência do nó.


O tosco: o que pode o tosco? Pode o tosco ultrapassar o mar? Pode o tosco engalfinhar-se em si mesmo? Pode o tosco livrar-se daquilo que não é seu? Pode o tosco diante de convite desejar boas vindas? Pode o tosco corrigir a si mesmo? Pode o tosco desejar a luz e se ver vestido de branco, uivando na lua cheia? Pode o tosco, em um sonoro riso, afirmar a si e a capacidade de dizer a si o sim que lhe é devido? Pode o tosco em um salto desafortunado olhar para trás e dizer um assim eu quis – afirmando a eternidade do tudo de novo e mais outra vez? Quanto de solidão há no tosco, que distante dos limites ousa desembainhar-se de si mesmo! A solidão do tosco é a sua fortuna. Fortuna de transitar em um delicioso amor de si. O encantamento do eu não é capaz de garantir as fronteiras eternamente, pois distante do que impera, paira um voraz outro que exige a instauração de mundos e coisas outras. Como pode o tosco almejar ultrapassar os castelos de arreia da hierarquia vigente e ultrapassada do eu? A todo instante o tosco depara-se com o organizado. Um antigo caos que se afirmou como ordem. Para aquém da ordem do eu afirma-se o tosco. O tosco e sua candura e sua ingenuidade. A ingenuidade do tosco é a afirmação pura da sua necessidade. O que pode o velho hábito da linguagem diante do vigor do tosco? O que pode o velho hábito da moral que institui o eu diante do tosco? Poderá algum dia o tosco nos livrar daquilo que nos tornamos? Ou sucumbiremos ao velho e inveterado hábito de considerar a conservação da memória o único critério a partir do qual possamos dizer que vivemos e ainda ansiamos? Quanto de cristalização suportamos diante das exigências de mesmidade, emanadas dos urros da identidade? Que o tosco retorne, do seu distante lar, para livrar-nos do mim o do eu mesmo.

O tosco no palco.

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