O intruso e o reino Azulado
(Conto infantil, por Júlia Ferreira)
“As idéias nascem puras, neutras. O homem lhes dá vida, força, vigor. E projeta suas faíscas, suas loucuras. É aí que se consuma a passagem da lógica à epilepsia. É assim que surgem as mitologias, as doutrinas, as farsas sangrentas; momentos de intolerância ou proselitismo que revelam as profundezas do entusiasmo”. (Breviário de decomposição, E.M. Cioran, Rio de Janeiro, 1989)
“... do meu ponto de vista essa produção se deu de modo experimental.” (M.V. L. em 06/12/2011)
Em uma terra distante, havia um reino azulado.
E nele um castelo. Não castelo de areia. Castelo de pedras – MEDIEVAL. Cercado por muralhas intransponíveis e porta de carvalho inglês.
Ali, habitava uma menina o alto de uma torre de onde tudo se vê.
Em cima deste reino (e não encima dele) pairava o Azul a tonalizar a vida.
Colorindo os traços dos planos.
Colorindo o revelar do toque .
Colorindo o amor que lhe permite ser Azul.
Do lado de dentro do castelo do reino azulado tudo era único e pleno - não havia segredos ou senhas. Um único canto a ser entoado.
E a menina que habita a torre de onde tudo se vê circulava pelo reino tocando e atravessando o Azul. Seu canto era ouvido nos mais longínquos cantos da terra.
Eles, a menina e o Azul compõem uma única força que mantém o devir da existência ... no castelo do reino azulado.
Ocorre que...
Um dia
Surgiu um intruso que, ao passar perto do reino e ver o brilho do Azul, encantou-se. Precisava daquele brilho para produzir algo de si. (não sabia produzir só em sua mediocridade)
Era um bordador de cabelos ralos.
E o bordador, encantado, desejou ter um pouco do Azul para si ignorando tudo aquilo que via: o Azul que o encantava só era supremo porque brilhava sobre o castelo da menina que habitava a torre de onde tudo se vê.
Mas o bordador de cabelos ralos colocou-se de plantão frente à porta de carvalho e gritou tão alto e dolorosamente que a menina na torre de onde tudo se vê, voltou seu olhar para aquele devaneio.
E o bordador prostrou-se perante a porta e aranhou o carvalho até arrancar as unhas e sangrar as pontas dos dedos.
A menina, assistia a tudo da torre, curiosamente...
E o Azul continuava a brilhar. As chagas e o expor do bordador de cabelos ralos não lhe diziam respeito.
Num outro dia,
O bordador, já sem dedos, teve a brilhante ideia de escrever cartas e enfiá-las pelas frestas da porta de carvalho. Nas cartas implorava ao Azul um pouco de tonalidade. Não sabia recolher-se ao silêncio, gostava de fazer diabruras.
A menina assustou-se porque não sabia que havia frestas no carvalho da porta. E o Azul não entendeu como um bordador pode ignorar a compreensão estética de seu brilho, teimando, na superficialidade de seu intelecto, em interpretar tudo psicologicamente.
Reconheceu o Azul o grande equívoco de suas trocas. Como compartilhar com alguém cuja maturidade ainda é larva? O experimento faliu.
E as cartas entravam e sujavam o pátio do castelo.
E ao ver a sujeira a se acumular, a menina, indignada, desceu da torre de onde tudo se vê e abriu a porta de carvalho.
Deparou-se então, frente a frente com o bordador de cabelos ralos. Era um guerreiro velho, frágil, carente, meio louco. Precisava ser visto a qualquer custo. Sacudia-se e falava alto. Estava nu na frente da menina, já não tinha dedos e chorava de angústia e raiva.
A menina ao vê-lo nu deixou rolar uma lágrima e ...
Sentiu compaixão:
Como pode um bordador que já atravessou os tempos acreditar que o Azul lhe coloriria?
O que arrebata o colorido azulado é justamente a história por se fazer.
Sentiu compaixão:
Como pode o bordador, na decrepitude adiantada de seu corpo, desejar o toque azulado?
O que arrebata o Azul é justamente o frescor da beleza em ascensão.
Sentiu compaixão:
Como pode um bordador que já vivera tantas eras ainda manter-se tão imaturo e leviano?
Pobre bordador!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Depois que caiu sua única lágrima, a menina recuperou-se de sua compaixão indesejada, fechou a porta de carvalho e tampou todas as frestas com âmbar.
Virou-se
Não haveria mais lixo no pátio de seu castelo.
O bordador de cabelos ralos, e agora nu e sem dedos, quebrou todos os copos da cristaleira, arrancou os últimos fios e recolheu-se ao silêncio do lixo.
O Azul, que vira as conseqüências de suas brincadeiras, finalmente entendera que seu brilho não deve ser aspergido em qualquer direção. Pode ofuscar a compreensão dos fracos e dos loucos.
E o reino continuou coberto pelo Azul a tonalizar a menina que habita a torre de onde tudo se vê.
E nele um castelo. Não castelo de areia. Castelo de pedras – MEDIEVAL. Cercado por muralhas intransponíveis e porta de carvalho inglês.
Ali, habitava uma menina o alto de uma torre de onde tudo se vê.
Em cima deste reino (e não encima dele) pairava o Azul a tonalizar a vida.
Colorindo os traços dos planos.
Colorindo o revelar do toque .
Colorindo o amor que lhe permite ser Azul.
Do lado de dentro do castelo do reino azulado tudo era único e pleno - não havia segredos ou senhas. Um único canto a ser entoado.
E a menina que habita a torre de onde tudo se vê circulava pelo reino tocando e atravessando o Azul. Seu canto era ouvido nos mais longínquos cantos da terra.
Eles, a menina e o Azul compõem uma única força que mantém o devir da existência ... no castelo do reino azulado.
Ocorre que...
Um dia
Surgiu um intruso que, ao passar perto do reino e ver o brilho do Azul, encantou-se. Precisava daquele brilho para produzir algo de si. (não sabia produzir só em sua mediocridade)
Era um bordador de cabelos ralos.
E o bordador, encantado, desejou ter um pouco do Azul para si ignorando tudo aquilo que via: o Azul que o encantava só era supremo porque brilhava sobre o castelo da menina que habitava a torre de onde tudo se vê.
Mas o bordador de cabelos ralos colocou-se de plantão frente à porta de carvalho e gritou tão alto e dolorosamente que a menina na torre de onde tudo se vê, voltou seu olhar para aquele devaneio.
E o bordador prostrou-se perante a porta e aranhou o carvalho até arrancar as unhas e sangrar as pontas dos dedos.
A menina, assistia a tudo da torre, curiosamente...
E o Azul continuava a brilhar. As chagas e o expor do bordador de cabelos ralos não lhe diziam respeito.
Num outro dia,
O bordador, já sem dedos, teve a brilhante ideia de escrever cartas e enfiá-las pelas frestas da porta de carvalho. Nas cartas implorava ao Azul um pouco de tonalidade. Não sabia recolher-se ao silêncio, gostava de fazer diabruras.
A menina assustou-se porque não sabia que havia frestas no carvalho da porta. E o Azul não entendeu como um bordador pode ignorar a compreensão estética de seu brilho, teimando, na superficialidade de seu intelecto, em interpretar tudo psicologicamente.
Reconheceu o Azul o grande equívoco de suas trocas. Como compartilhar com alguém cuja maturidade ainda é larva? O experimento faliu.
E as cartas entravam e sujavam o pátio do castelo.
E ao ver a sujeira a se acumular, a menina, indignada, desceu da torre de onde tudo se vê e abriu a porta de carvalho.
Deparou-se então, frente a frente com o bordador de cabelos ralos. Era um guerreiro velho, frágil, carente, meio louco. Precisava ser visto a qualquer custo. Sacudia-se e falava alto. Estava nu na frente da menina, já não tinha dedos e chorava de angústia e raiva.
A menina ao vê-lo nu deixou rolar uma lágrima e ...
Sentiu compaixão:
Como pode um bordador que já atravessou os tempos acreditar que o Azul lhe coloriria?
O que arrebata o colorido azulado é justamente a história por se fazer.
Sentiu compaixão:
Como pode o bordador, na decrepitude adiantada de seu corpo, desejar o toque azulado?
O que arrebata o Azul é justamente o frescor da beleza em ascensão.
Sentiu compaixão:
Como pode um bordador que já vivera tantas eras ainda manter-se tão imaturo e leviano?
Pobre bordador!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Depois que caiu sua única lágrima, a menina recuperou-se de sua compaixão indesejada, fechou a porta de carvalho e tampou todas as frestas com âmbar.
Virou-se
Não haveria mais lixo no pátio de seu castelo.
O bordador de cabelos ralos, e agora nu e sem dedos, quebrou todos os copos da cristaleira, arrancou os últimos fios e recolheu-se ao silêncio do lixo.
O Azul, que vira as conseqüências de suas brincadeiras, finalmente entendera que seu brilho não deve ser aspergido em qualquer direção. Pode ofuscar a compreensão dos fracos e dos loucos.
E o reino continuou coberto pelo Azul a tonalizar a menina que habita a torre de onde tudo se vê.
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