quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Antes tudo era claro, não quer dizer que agora paira o escuro.

Um abraço para os escritores das cartas...

Voltei.

Agora, novamente, estou de volta. Distante das cartas estive, voltei. Voltar remete para um estar que habita na ausência. Estado de ausência é a condição pela qual instaura-se o silêncio. No silênio as flores brotam e as gotas de chuva das pétalas das rosas podem tocar o chão. Afinal, distante estamos todos daquilo que mais nos faz ser o que somos. Pois então, boa tarde meus amigos!!

sábado, 5 de novembro de 2011

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

ALITERAÇÃO

A coisa anda tão feia que nem as frases de efeito têm feito efeito.

domingo, 11 de setembro de 2011

CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS
O bom profissional procura - sempre - o aperfeiçoamento de sua atividade.
A identificação de pontos vulneráveis e a busca de formas de corrigi-los é um caminho para se otimizar o trabalho e alcançar melhores resultados
Aprimorar o ensino e a aprendizagem do idioma materno deve ser um objetivo sempre presente para os professores de língua portuguesa.
Não pretendemos, neste artigo, tratar de todos os níveis de ensino, muito menos de todos os cursos.
Fixaremos nossa atenção no curso de Ciências Contábeis e faremos algumas reflexões na busca do aperfeiçoamento de nossa atividade docente.
Nosso objetivo é apontar alguns problemas do ensino da Língua Portuguesa nos cursos de Ciências Contábeis e mostrar que existem caminhos menos tortuosos para atingirmos nossos objetivos.
Um primeiro problema diz respeito aos programas de ensino. Temos observado que muitos programas de Língua Portuguesa ainda privilegiam a análise sintática tradicional. Não levam em conta os avanços do ensino de língua materna, a realidade do curso (carga horária reduzida, por exemplo) nem o perfil do aluno.
Os estudos lingüísticos das últimas' décadas já provaram que muito mais importante que saber "dissecar" um período (classificar suas orações e termos) é entender o funcionamento da linguagem na constituição do discurso. Suas nuanças semânticas e ideológicas. É claro que os estudos gramaticais podem nos ajudar muito nessa tarefa, mas transformar o acessório em fundamental é inverter os valores.
Também é sabido que os alunos que chegam à faculdade já passaram por, no mínimo, 7 anos de estudos morfológicos e sintáticos com até 5 aulas por semana. Se com toda essa carga horária ainda apresentam deficiências, não é num curso de Ciências Contábeis com 2 aulas semanais, por um período de 1 ano, que irão saná-las.
É preciso considerar também que o aluno do curso de Ciências Contábeis irá priorizar as matérias que estão ligadas diretamente a sua área de atuação como Contabilidade, Matemática, Estatística, Direito e outras. Considerará, como é comum é em todos os cursos, as outras matérias como estorvos no seu caminho acadêmico. Claro que não concordamos com tal postura e que existem as exceções de praxe. Mas fechar os olhos a isso é não querer enxergar um dos problemas que todo professor, de qualquer disciplina enfrenta - basta não estar ministrando aulas num curso específico da sua
Um segundo problema diz respeito ao material didático. Os livros geralmente têm características extremas. Ora apresentam todo conteúdo gramatical como se fosse viável trabalhá-lhos com a carga horária reduzida que temos; ora apresentam uma simplificação excessiva, com conteúdo fraco e inadequado ao ensino superior. Há ainda as apostilas, que muitas vezes não passam de uma compilação aleatória de alguns livros, o que as tornam também impróprias.
Um terceiro problema é a falta de integração entre as disciplinas. Nunca se falou tanto em interdisciplinariedade, multidisplinariedade, transversalidade. "Palavrões" tão apregoados, mas tão pouco praticados. A disciplina Língua Portuguesa é a que permite uma maior "flexibilidade" para trabalhos de natureza interdisciplinar. Mas o professor de Língua Portuguesa, num curso de Ciências Contábeis, ficará sempre na dependência dos docentes que ministram os conteúdos específicos do curso.
Sabemos que é muito mais fácil apontar falhas do que soluções. Mas, para não sermos levianos, apresentamos a seguir algumas sugestões que podem ajudar a resolver os problemas relacionados.
Quanto aos programas de ensino, acreditamos que a alternativa mais lógica é uma revisão dos conteúdos.

Para essa revisão devemos considerar os avanços, já citados, dos estudos lingüísticos. Priorizar a análise do discurso em seus aspectos semânticos e ideológicos. Os conhecimentos gramaticais seriam utilizados como "'ferramentas" para uma melhor compreensão dos textos estudados. Num primeiro momento, conceitos básicos da Teoria da Comunicação deveriam ser ministrados. Definições de língua falada, língua escrita, variação lingüística, norma culta, intencionalidade, opinião e argumento são importantes em qualquer curso. Serviriam como pretexto para discutirmos a importância do domínio da chamada norma culta e despertarmos nos discentes o interesse pelas questões relativas à linguagem.
Em relação aos livros, nós, professores, temos que buscar uma bibliografia mais adequada aos objetivos do curso e do programa previamente elaborado. Não podemos ficar presos aos tradicionais manuais de gramática, que têm seu valor, mas que pelo uso inadequado acabam servindo para reforçar, nos acadêmicos, uma ojeriza pelo estudo da língua materna que muitos trazem do ensino fundamental Em relação ao terceiro problema a falta de integração entre as disciplinas, já foi apontado anteriormente que isso foge ao controle do professor de Língua Portuguesa. Compete aos professores das disciplinas específicas do curso de Ciências Contábeis se mobilizarem para direcionar os trabalhos. O professor de português auxiliaria na elaboração dos textos. Como exemplo, citamos o trabalho desenvolvido em 1997, no 2° ano do curso de Ciências Contábeis da UNIPAC, em Juiz de Fora, juntamente com o professor Cleber do Carmo Antunes, na disciplina Contabilidade Comercial, quando realizamos um trabalho sobre Balanço Social e ecologia que obteve um ótimo rendimento. Vale registrar que nessa época não havia nem a obrigatoriedade, implantada posteriormente, da realização de trabalhos deste porte.
As considerações acima não têm a pretensão de serem definitivas. São reflexões que buscam aprimorar o estudo do idioma.
(Edson Nunes Ferrarezi. Professor de Língua Portuguesa da UNIPAC, em Juiz de Fora. Mestrando em Letras naUFJF)

O menino é o pai do homem

O MENINO É O PAI DO HOMEM (Machado de Assis e Marilena Chaui)

De acordo a mitologia grega, Cronos, cujo nome significa "o Tempo" era filho de Urano, o Céu, e de Gaia, a Terra. Era casado com Réia. Ocupou o trono do pai, mas Gaia profetizou que Cronos seria destronado por um filho; assim, ele devorava os filhos logo que nasciam; mas quando nasceu Zeus (deus dos raios, trovões e tempestades), Réia deu a Cronos uma pedra envolta em cueiros, salvando assim o filho. O menino cresceu numa caverna da ilha de Creta. Em um ano tomou-se o mais forte dos deuses e destronou o pai, ocupando seu lugar.
No século XIX, Karl Marx, afirmou em uma de suas obras que o mito de Zeus não mais poderia funcionar numa sociedade que inventou o pára-raios, isto é, descobriu cientificamente a eletricidade. Mas o próprio Marx mostrou como tal sociedade cria novos mitos, adaptados à era da máquina e da tecnologia.
Em seguida, já no início do século XX, Freud mostrou que o homem sofreu três grandes feridas em seu narcisismo, durante a modernidade
A primeira foi a que nos infligiu Copérnico, ao provar que a terra não estava no centro do Universo e que os homens não eram o centro do mundo. A segunda foi causada por Darwin, ao provar que os homens descendem de um primata, que são apenas um elo na evolução das espécies e não seres especiais, criados por Deus para dominar a Natureza. A terceira foi causada pela psicanálise, ao mostrar que a consciência é a menor parte e mais fraca de nossa vida. De acordo com Freud, nosso aparelho psíquico é constituído por três instâncias: o ID, que são os instintos e impulsos orgânicos e desejos inconscientes; o SUPEREGO, que são as censuras e as regras morais que a sociedade e a cultura impõem ao Id. Tanto o Id quanto o superego são inconscientes. Já o EGO ou EU, terceira parte de nossa estrutura psíquica, seria a consciência, -submetida aos desejos do Id e a repressão do superego. O Ego, diz Freud é um "pobre coitado", espremido entre três escravidões: os desejos insaciáveis do Id, a severidade repressiva do superego e os perigos do mundo exterior.
Caminhando um pouco mais no tempo e no espaço, em 1928, no Brasil, Oswald de Andrade lança, em maio de 1928, o Movimento Antropofágico. Oswald valeu-se da antropofagia como metáfora do que deveria ser culturalmente repudiado, assimilado e superado para que alcançássemos uma verdadeira independência cultural. Ele desenvolveu filosoficamente o conceito de antropofagia. Num trocadilho, explicava que o ócio a que todo homem tinha direito fora desapropriado pelos poderosos e se perdera entre o sacerdócio (ócio sagrado) e o negócio (negação do ócio) Para recuperá-lo, propunha a volta ao primitivismo indígena livre das repressões da sociedade civilizada. Contra a cultura messiânica fundada na autoridade paterna, ma propriedade privada e no Estado, pregava a sociedade matriarcal sem classes que surgira do progresso tecnológico.
O que há em comum entre autores tão díspares no tempo e no espaço?
Três coisas os ligam: a relação entre mito e ciência, a questão do tempo e o papel do pai.
Sobre a relação mito/ciência, hoje sabe-se que o mito não é, como se pensou durante muito tempo, um pensamento pré-científico, mas uma linguagem simbólica para explicar o mundo. Não é por acaso que Freud foi buscar na mitologia os termos hoje consagrados pela psicanálise.
Relacionando o mito de Cronos e Zeus com a história de "POR QUE ALMOCEI MEU PAI" podemos compreender um pouco melhor o pensamento mítico, a questão do tempo e o papel do Pai primordial.
Tanto do ponto de vista mítico quanto psicanalítico a história de Cronos é muito expressiva. Cronos, como vimos, é o tempo. O tempo nos cria, o tempo nos mata. É preciso "vencer" o tempo antes que ele nos "mate". Talvez por isso, Edward, o homem macaco tenha tanta pressa.
Mas, quanto mais rápido evoluímos, menos tempo temos. Perdemos contato com nossos impulsos primordiais e nossos instintos naturais não encontram satisfação. Assim, o cenário para o Pai, o superego, guardião da cultura e da civilização, está pronto (Nesse sentido é interessante ver as criticas que Tio Vanya faz a Edward logo no primeiro capítulo do livro.)
É sintomático que Edward, nosso pai primordial, nunca fica parado, ele nega o ócio. Quando está quieto, está "matutando" como acelerar a evolução. Apesar de Edward ter um filho caçador chamado Oswald, dificilmente ele e Oswald de Andrade compartilhariam o mesmo pernil de zebra ou um omelete de ovos de avestruz.
O desejo de Edward de chegar rapidamente ao Homo sapiens é o mesmo desejo que tem o homem contemporâneo de chegar rapidamente ao futuro. Mas há uma diferença fundamental; Edward sabia onde queria chegar, nós estamos correndo rapidamente para o futuro (matamos Cronos a todo instante) mas não sabemos onde queremos chegar.
"Procurem deixar um mundo um pouco melhor' do que o encontraram e dêem a seus filhos um começo um pouco melhor do o que de vocês.”
Se quisermos atender ao apelo final de Edward temos que recuperar o ócio primordial, aquele que nos permite filosofar ou simplesmente divagar. Temos que parar de matar Cronos. Como? No encontro do homem consigo mesmo, no presente.
Cada homem deve viver o momento presente como se ele fosse eterno, ou como queria Nietzsche, como se ele fosse retomar infinitamente.
É impossível refazer o passado e o futuro é o que ainda não existe, portanto, só temos o presente.
O resto é saudade ou pré-ocupação.

domingo, 4 de setembro de 2011

DICIONÁRIOS

“A palavra falada tem o ar por corpo, a língua por mãe, e a boca por berço, mas com tão instantâneo descanso, que apenas nascida voa, e com tão breve vida, que logo nos ouvidos dos circunstantes se sepulta”
Rafael Bluteau

domingo, 21 de agosto de 2011

Além do nosso eu

Para Nietzche não se trata de "conhecer a si mesmo" mas de construir a si mesmo.
Essa "é uma tarefa árdua que exige dedicação e rigorosa disciplina para organizar e direcionar os conflitantes impulsos que constituem o corpo" (Tiago Barros)

sábado, 30 de julho de 2011

Divertimentos

A palavra anagrama é um anagrama de si mesmo?

Monogamia rima com monotonia ou com poligamia?

domingo, 24 de julho de 2011

fanatismo

O atirador norueguês é um cristão fundamentalista.
Se continuar assim, os ateus terão que sair às praças
para explicar aos "crentes" a mensagem do Cristo.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Coisas inúteis

“Que tolice! Ensinar coisas inúteis, quando o tempo nos é avaramente medido”.
(Sêneca).

E quantas coisas inúteis fazemos. A começar pelas aulas. Vejamos: os professores de química querendo que os meninos aprendam sobre átomos e moléculas, quando eles estão buscando compreender outras “ligações” que não as covalentes, muito mais interessantes a serem feitas. Os professores de história explicando a importância da Via Ápia, quando o que interessa é saber qual o caminho mais curto entre a sua casa e o shoping. Os professores de matemática ensinando equações, vetores, forças, incógnitas quando para eles o único X que importa é o de Matrix ou do X-Man. Nas ciências, os professores ainda não entenderam que o crescimento das sementes, os fenômenos físico-químicos da digestão e a fotossíntese são tão interessantes quanto uma salada de chuchu, que o que importa mesmo é o que está ocorrendo lá no fundo da sala. A geografia querendo despertar o interesse pelo que acontece em Bagdá ou no Nordeste, quando a janela da sala de aula é o horizonte mais distante. Professores de português querem ensinar o gosto pela literatura e a conjugar verbos quando o único verbo que lhes interessa é o verbo ficar. Os professores de educação física, os únicos que estão no caminho certo, pois os jovens adoram a física dos corpos. Os coordenadores conversando com cada um, com a mesma paciência, na esperança de que eles acatem seus “sábios e bondosos conselhos”.
Viram como “somos inútil”.
Mas... Mas... Também sabemos que nossos alunos podem aprender química, história, matemática, ciências, geografia, português, física em qualquer escola – e quando quiserem. Sabemos também que eles não se preocupam apenas com futilidades, que estão vivendo o tempo deles. E se o tempo deles é de shoping, de ficar, de muita balada, é também um tempo de terrorismo, de seqüestro-relâmpago, de insegurança e incertezas. Cabe a nós, professores, conscientes disso, darmos a eles algo mais.
Por isso, os professores de química falam não apenas de átomos e moléculas, mas mostram que as ligações mais importantes são aquelas que não são vistas a olho nu; que não existe uma fórmula para o amor, mas os componentes aí estão, compete a cada um de nós “misturá-los” para sentirmos o seu agradável perfume; que mais importante que as reações químicas são as ações humanas. Os professores de história ensinam que a ignorância é o caminho mais curto para qualquer lugar, mas que o caminho do conhecimento é longo e tortuoso; que o mesmo país que gerou um energúmeno como G. W. Bush, também gerou um Thoreau. No século XIX, esse “avô dos hippes” foi preso por se recusar a pagar imposto para sustentar uma guerra civil. Escreveu um ensaio chamado Desobediência Civil no qual propõem a resistência aos governos injustos e que influenciou homens como Ghandi. Os professores de exatas ensinam que somar, dividir, multiplicar, diminuir não são apenas operações matemáticas, mas formas de nos relacionarmos com as coisas e com o mundo. Assim, como na parábola dos talentos, não devemos enterrar os dons que Deus no deu, mas multiplicá-los; que devemos dividir não apenas o que temos em excesso, mas também o pouco que temos; que “a alegria é a prova dos nove” e que “o resto é sempre maior que o principal”; que a maior incógnita não é a morte, mas a vida; que se eu somar erros o resultado será sempre negativo, mas somando erros e acertos eu poderei ter um número positivo. Os professores de ciências mostram que o maior de todos os fenômenos é a própria vida – “mesmo que seja uma vida como esta, Severina”. A geografia mostra a eles que mais importante e difícil que conhecer outros países é conhecer a si mesmos. Nas aulas de língua portuguesa e literatura eles aprendem que não importa a conjugação do verbo ficar, mas os seus complementos; que a poesia esta aí, basta “ouvir o rio correr”. Nas aulas de educação física eles descobrem o que os gregos antigos já sabiam: mente e corpo devem estar em equilíbrio. Os coordenadores fazem aquilo que só os pais são capazes de fazer: multiplicar o seu amor incondicional para os seus filhos, sem distinção, pois “qual o pai que dá uma pedra ao filho que lhe pede pão?”.
Preferimos ensinar coisas inúteis aos nossos alunos. Coisas que não os tornam mais ricos, ou mais bonitos, ou mais fortes. Ensinamos coisas que os tornam mais inteligentes, mais solidários, mais felizes. Não fazemos o jogo de um mundo pragmático, onde tudo tem que ter um valor imediato, monetário e... descartável. Continuaremos ensinando coisas inúteis. Só assim garantiremos aos nossos alunos a “soberania de Ser mais do que Ter”.

Professor Edson Nunes Ferrarezi

Colégio Magister de Juiz de Fora

MAGISTER
A CASA, AS PESSOAS, AS IDÉIAS
CENA 1 – A ÁRVORE
Juiz de Fora, centro da cidade. De um lado, um Shopping center, do outro, um posto de gasolina. Em frente, um conjunto de prédios, "paredão" para os que o conhecem. E no meio desta paisagem tipicamente urbana, uma árvore centenária servindo de pórtico para uma casa. Esta "casa" tem painéis artísticos, um jardim com muitas árvores, uma piscina, uma quadra de esportes. Mas voltemos a árvore, afinal ela é o símbolo do que "funciona" dentro da casa. Dentro desta casa funciona um colégio. Colégio! Árvore! Colégio! Casa!
Árvore, árvore, árvore .... seria preciso escrever muitas vezes a palavra árvore para que quem não a conhece perceba a sua imponência. Suas raízes não estão ali apenas sustentando seus vários galhos, sua grande copa, seu tronco majestoso e os pássaros que nela se abrigam. Suas raízes estão ali como símbolo de um sonho. Um sonho de educação.
Árvore, escola, casa. A árvore tem solidez, tem a ousadia do céu, se expõe, acolhe, dá sombra. Educação não é isso? acolher, dar sombra, indicar caminhos ....

CENA 2 – AS PESSOAS
Secretaria da escola. Burocracia corriqueira. Transferência, matricula, notas. Entra um professor. Mãe pedindo a transferência do filho. Aluno reprovado, um ano perdido, mensalidade alta. O professor intervém.
- Por que tirar seu filho da escola?
- Vocês ensinaram, incentivaram muito meu filho. Ele se tomou mais companheiro, solícito, solidário, gente ... Atendia a todos os amigos, tinha tempo para todos, se envolvia ...
- Mas isso não é bom ?
- É! claro que é, mas o senhor sabe, também sou professora ... 2° ano, 2° grau, vestibular ... não pode ficar atendendo todo mundo ... ser assim tão amoroso.
- A senhora está dizendo que está tirando seu filho daqui porque eu e meus colegas o tomamos mais gente, mais pessoa?
- Sim!
O professor vira-se e sorri ....
CENA 3 – O GRUPO

"Descartes que me desculpe,
mas intuição é fundamental.
Eu sempre soube que estaria lá com eles."
(Professor do Colégio Magister)

Uma sala de professores. Pessoas, educação, diários, alunos, projetos .... igual a qualquer sala de professores, de qualquer colégio. Igual? Não, a sala de professores do Magister é diferente. Ocorre uma cumplicidade, nem sempre verbalizada e nem urgente, apesar de estarmos todos com pressa. Conversa-se sobre literatura, cinema, conjuntura nacional com a naturalidade própria de um grupo que representa a continuidade de um projeto desencadeado no inicio dos anos setenta e que tem como propósito explorar o potencial conscientizador e transformador da educação. Mas há também muito espaço para o afetivo, para o toque, para o olhar. Há inclusive os que não deixam marcas, mas muitos saem desta sala como amigos, cúmplices, pessoas... e continuam professores, professores muito melhores do que antes. Porque ali mais do que saber que disciplina se leciona, o importante, antes de tudo, é o que se pensa sobre o mundo, sobre a vida. Esta talvez seja uma das razões do porquê, para além da formalidade dos cumprimentos e comentários, passar pela sala dos professores do Magister é uma necessidade profissional, intelectual e afetiva. Enfim, uma experiência de prazer.
Mas espere um pouco. Isto aqui não é uma sala de professores? Quem está pensando assim? E pior... num intervalo. Não é hora de falar mal dos alunos, do salário, das condições de trabalho? E porque aquele professor de biologia está trocando referências literárias com o professor de literatura? Por que aquele professor de física está discutindo filosofia da educação como o professor de matemática? E a diretora da escola sugerindo um livro de Darcy Ribeiro para os professores? Já sei, é aquela árvore, sua sombra. Suas folhas estão realizando uma espécie de "fotossíntesse" em que os elementos não são compostos químicos da Natureza de Lavoisier, mas compostos afetivos da natureza de Rosseau, Paulo Freire, Piaget, Montessori , Vigotsky. A mesa redonda e o café reúne a todos. Aqui tudo se cria. Tudo se transforma. Forma-se gente.







CENA 04 – AS IDEIAS

"Eu não devia te dizer. Mas essa lua,
mas esse conhaque,
botam a gente comovido como o diabo."
( Drummond)

"Eu também não devia dizer.
Mas essa àrvore,
mas essa escola, o grupo,
botam a gente extremamente cúmplice."
(Professor do Colégio Magister)

Cúmplice de um projeto, de uma idéia, um imaginário.
Nós, professores, precisamos de duas coisas simples: credibilidade e liberdade. Nas nossas vidas profissionais, na maioria das vezes, na maioria das escolas, não temos encontrado nem uma e nem outra .... aqui, neste espaço, isto se realiza de forma tranqüila, eficiente ... e os alunos sabem e sentem isso. Afinal, é para eles que construímos e reconstruímos este imaginário real chamado Magister.
Este Colégio - e entenda-se por colégio "uma corporação de pessoas notáveis da mesma categoria, cujos membros têm a mesma dignidade" - irá sobreviver, independente da árvore e do espaço fisico.
Porém, é preciso perceber que acima das conveniências de mercado devem pairar nas sociedades civilizadas os valores da história, da cultura, da educação. Centros comerciais são feitos e desfeitos em poucos anos. Árvores e colégios -com todo seu simbolismo - são construídos ao longo dos tempos. Tempos da árvore e tempos de colégio.
Para além da frieza das leis, que nem sempre comportam os Homens, é preciso que se compreenda, parafraseando Brecht, não como são as coisas verdadeiras (aparência e lucro), mas como verdadeiramente devem ser as coisas ( essência e vida).
Derrubar uma casa, um Ficus centenário, um Magister é fácil. Derrubar idéias, projetos, sonhos, não.
Sobreviveremos. Talvez na frieza e impessoalidade de um conjunto de salas, num desses ícones do pós-modernismo. Mas e o imaginário,o simbolismo, dimensões do espírito humano, pilares da reflexão, onde ficarão? Onde estará a árvore que nos recebe a cada manhã? Onde estarão as alamedas por onde caminhamos, os painéis, os alunos, o aconchego das salas de aula?

Matam-se homens, derrubam-se colégios, cortam-se árvores, despejam-se escolas.
E propiciar o renascimento de homens, construir colégios, plantar árvores, refazer escolas ?


ADSON VARGAS

EDSON NUNES FERRAREZI

WANDERLUCE GOMES

segunda-feira, 13 de junho de 2011

umquatrozero

“Ele era um homem de seu tempo”. A frase era usada por um velho professor de latim para se referir àqueles a quem ele considerava especiais. Achava uma frase de efeito, mas – confesso - não atinava bem o que o mestre de nossa língua mãe queria dizer. Hoje, com o distanciamento que meus 51 anos de vida permitem, começo a enxergar algo de significativo nessas palavras.
O que me levou a tal reflexão foram os poemas do livro de dois jovens poetas. Parecem ter aprendido rapidamente a lição que levei tanto tempo para absorver e resolveram “ser homens de seu tempo”.
Em umquatrozero o tom confessional, o subjetivismo exacerbado - “romântico” - diriam alguns -, foi controlado pela métrica curta, contida, na maior parte dos poemas. Em estilo quase telegráfico, “twitteiro”, “as palavras entram voando” e são recolhidas “no papel branco da vida”.
“Volta Redonda” de onde “... saem dantescas/ colunas de fumaça e sisudez,/ que atingem os olhos/de minha namoradinha” teria destaque em uma antologia de poesia contemporânea.
Ferreira Gullar, em um de seus poemas cujo título é A Poesia, pergunta:
Onde está
a poesia? Indaga-se
por toda parte. E a poesia
vai à esquina comprar jornal.
Parece que os dois estiveram na mesma esquina por onde a poesia passou. As referências óbvias aos grandes bardos como Drummond, Vinícius, Bandeira indicam que eles não apenas conhecem os cânones da poesia, mas buscaram atualizar o discurso para o seu tempo. Essa busca de atualização e de uma dicção própria é explicitada em Universidade II onde “... jaz a alma de uma aluno/que de tanto citar/virou doutor.”
A simplicidade de alguns poemas expressa a procura honesta daqueles que investigam o seu tempo e não temem “as verdades de pedra”. Se Paul Valéry já há muito afirmava que “... Não podemos mais tolerar o que dura”; se aprendemos com Zygmunt Bauman que a modernidade é “leve”, “liquida”, "fluida”, com os dois jovens poetas aprendemos que a “efêmera vida” nos obriga a perguntar sempre: “quantas incertezas/São necessárias/Para afundar um navio?

Se mais não digo é para não ser incoerente com o que foi escrito acima.

Edson Nunes Ferrarezi

domingo, 8 de maio de 2011

metáforas da vida ou crise de identidade

metáforas da vida ou crise de identidade

Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa



pés
marmelada laranja vinagre maçã
avião alfinete
rio alho
metáfora

e eu que pensava que era uma metáfora descubro que sou uma
catacrese

SOBRE CHOCOLATES E NÚMEROS

SOBRE CHOCOLATES E NÚMEROS

A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) divulgou no dia 20/04 – uma quarta-feira que antecedeu o feriado de páscoa – as notas dos módulos I e II e PISM.
A antecipação das notas foi uma surpresa, já que pelo cronograma a data prevista para publicação dos resultados era 03/05.
O que deveria servir para quebrar a ansiedade de muitos, pois a pontuação era aguardada com muita expectativa, acabou retirando o doce sabor da páscoa para a maioria. Apesar dos estudos indicarem que o chocolate amargo é o que faz bem ao corpo, muita gente ainda prefere umas calorias a mais.
Sem ser um chocólatra, mas com uma preferência por tudo aquilo que é doce, quero registrar algumas reflexões que podem ajudar a tirar o travo desse “chocolate amargo” de nossas bocas.
Depois de mais de duas décadas acompanhando o vestibular da UFJF posso afirmar – categoricamente – que ainda precisamos de mais dados para analisar os resultados. Temos apenas os números brutos e algumas especulações:

“Na prova de matemática do Pism I, por exemplo, do total de 9.104 inscritos, 5.027 não pontuaram nas questões discursivas, ou seja, 55,21%%. Os exames das áreas de Exatas são os que acumulam maior número de zeros. No entanto, em Literatura, houve 1.927 (21,16%) candidatos que não obtiveram ponto em questões discursivas zeradas (sic*) do Pism I.” (site da UFJF – 20/04/11)

È verdade que a partir desses números, mais o resultado individual, cada um já pode avaliar o desempenho e projetar suas chances. Mas ainda há outras varáveis a serem consideradas. Cito apenas duas delas: 1 - com resultados pífios como esses as médias do triênio em curso tendem a baixar; 2 – como ficará a distribuição de vagas para os próximos anos já que as mudanças tem sido muitas e profundas? (vide ENEM E REUNI)

Outra variável importante é que não sabemos como a UFJF pretende “organizar” o próximo processo seletivo. Em retrospecto, tivemos nos últimos três anos mudanças profundas. No vestibular, o Enem foi usado de duas formas diferentes nos dois concursos anteriores, por exemplo.

Uma última consideração. Enquanto Fuvest, Unesp, Unicamp, Unifesp, ITA e PUC já divulgaram calendário unificado para vestibular 2012, a UFJF ainda não tem data. Infelizmente o calendário da Universidade tem um “ritmo” que desafina totalamente do ritmo exigido pelo ensino médio – tanto no aspecto legal quanto no aspecto pedagógico. A escola e os alunos investem tempo, energia e dinheiro para se preparem para os vários concursos. Isso exige planejamento. Talvez esteja na hora de a UFJF “descer o morro” e ver o que acontece aqui embaixo.

Professor Edson Nunes Ferrarezi – coordenador de Vestibulares

* “... candidatos que não obtiveram ponto em questões discursivas zeradas (sic*) do Pism I.”

A Universidade deveria tomar mais cuidado com o que escreve em seu site oficial.