CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS
O bom profissional procura - sempre - o aperfeiçoamento de sua atividade.
A identificação de pontos vulneráveis e a busca de formas de corrigi-los é um caminho para se otimizar o trabalho e alcançar melhores resultados
Aprimorar o ensino e a aprendizagem do idioma materno deve ser um objetivo sempre presente para os professores de língua portuguesa.
Não pretendemos, neste artigo, tratar de todos os níveis de ensino, muito menos de todos os cursos.
Fixaremos nossa atenção no curso de Ciências Contábeis e faremos algumas reflexões na busca do aperfeiçoamento de nossa atividade docente.
Nosso objetivo é apontar alguns problemas do ensino da Língua Portuguesa nos cursos de Ciências Contábeis e mostrar que existem caminhos menos tortuosos para atingirmos nossos objetivos.
Um primeiro problema diz respeito aos programas de ensino. Temos observado que muitos programas de Língua Portuguesa ainda privilegiam a análise sintática tradicional. Não levam em conta os avanços do ensino de língua materna, a realidade do curso (carga horária reduzida, por exemplo) nem o perfil do aluno.
Os estudos lingüísticos das últimas' décadas já provaram que muito mais importante que saber "dissecar" um período (classificar suas orações e termos) é entender o funcionamento da linguagem na constituição do discurso. Suas nuanças semânticas e ideológicas. É claro que os estudos gramaticais podem nos ajudar muito nessa tarefa, mas transformar o acessório em fundamental é inverter os valores.
Também é sabido que os alunos que chegam à faculdade já passaram por, no mínimo, 7 anos de estudos morfológicos e sintáticos com até 5 aulas por semana. Se com toda essa carga horária ainda apresentam deficiências, não é num curso de Ciências Contábeis com 2 aulas semanais, por um período de 1 ano, que irão saná-las.
É preciso considerar também que o aluno do curso de Ciências Contábeis irá priorizar as matérias que estão ligadas diretamente a sua área de atuação como Contabilidade, Matemática, Estatística, Direito e outras. Considerará, como é comum é em todos os cursos, as outras matérias como estorvos no seu caminho acadêmico. Claro que não concordamos com tal postura e que existem as exceções de praxe. Mas fechar os olhos a isso é não querer enxergar um dos problemas que todo professor, de qualquer disciplina enfrenta - basta não estar ministrando aulas num curso específico da sua
Um segundo problema diz respeito ao material didático. Os livros geralmente têm características extremas. Ora apresentam todo conteúdo gramatical como se fosse viável trabalhá-lhos com a carga horária reduzida que temos; ora apresentam uma simplificação excessiva, com conteúdo fraco e inadequado ao ensino superior. Há ainda as apostilas, que muitas vezes não passam de uma compilação aleatória de alguns livros, o que as tornam também impróprias.
Um terceiro problema é a falta de integração entre as disciplinas. Nunca se falou tanto em interdisciplinariedade, multidisplinariedade, transversalidade. "Palavrões" tão apregoados, mas tão pouco praticados. A disciplina Língua Portuguesa é a que permite uma maior "flexibilidade" para trabalhos de natureza interdisciplinar. Mas o professor de Língua Portuguesa, num curso de Ciências Contábeis, ficará sempre na dependência dos docentes que ministram os conteúdos específicos do curso.
Sabemos que é muito mais fácil apontar falhas do que soluções. Mas, para não sermos levianos, apresentamos a seguir algumas sugestões que podem ajudar a resolver os problemas relacionados.
Quanto aos programas de ensino, acreditamos que a alternativa mais lógica é uma revisão dos conteúdos.
Para essa revisão devemos considerar os avanços, já citados, dos estudos lingüísticos. Priorizar a análise do discurso em seus aspectos semânticos e ideológicos. Os conhecimentos gramaticais seriam utilizados como "'ferramentas" para uma melhor compreensão dos textos estudados. Num primeiro momento, conceitos básicos da Teoria da Comunicação deveriam ser ministrados. Definições de língua falada, língua escrita, variação lingüística, norma culta, intencionalidade, opinião e argumento são importantes em qualquer curso. Serviriam como pretexto para discutirmos a importância do domínio da chamada norma culta e despertarmos nos discentes o interesse pelas questões relativas à linguagem.
Em relação aos livros, nós, professores, temos que buscar uma bibliografia mais adequada aos objetivos do curso e do programa previamente elaborado. Não podemos ficar presos aos tradicionais manuais de gramática, que têm seu valor, mas que pelo uso inadequado acabam servindo para reforçar, nos acadêmicos, uma ojeriza pelo estudo da língua materna que muitos trazem do ensino fundamental Em relação ao terceiro problema a falta de integração entre as disciplinas, já foi apontado anteriormente que isso foge ao controle do professor de Língua Portuguesa. Compete aos professores das disciplinas específicas do curso de Ciências Contábeis se mobilizarem para direcionar os trabalhos. O professor de português auxiliaria na elaboração dos textos. Como exemplo, citamos o trabalho desenvolvido em 1997, no 2° ano do curso de Ciências Contábeis da UNIPAC, em Juiz de Fora, juntamente com o professor Cleber do Carmo Antunes, na disciplina Contabilidade Comercial, quando realizamos um trabalho sobre Balanço Social e ecologia que obteve um ótimo rendimento. Vale registrar que nessa época não havia nem a obrigatoriedade, implantada posteriormente, da realização de trabalhos deste porte.
As considerações acima não têm a pretensão de serem definitivas. São reflexões que buscam aprimorar o estudo do idioma.
(Edson Nunes Ferrarezi. Professor de Língua Portuguesa da UNIPAC, em Juiz de Fora. Mestrando em Letras naUFJF)
domingo, 11 de setembro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário