quarta-feira, 20 de julho de 2011

Colégio Magister de Juiz de Fora

MAGISTER
A CASA, AS PESSOAS, AS IDÉIAS
CENA 1 – A ÁRVORE
Juiz de Fora, centro da cidade. De um lado, um Shopping center, do outro, um posto de gasolina. Em frente, um conjunto de prédios, "paredão" para os que o conhecem. E no meio desta paisagem tipicamente urbana, uma árvore centenária servindo de pórtico para uma casa. Esta "casa" tem painéis artísticos, um jardim com muitas árvores, uma piscina, uma quadra de esportes. Mas voltemos a árvore, afinal ela é o símbolo do que "funciona" dentro da casa. Dentro desta casa funciona um colégio. Colégio! Árvore! Colégio! Casa!
Árvore, árvore, árvore .... seria preciso escrever muitas vezes a palavra árvore para que quem não a conhece perceba a sua imponência. Suas raízes não estão ali apenas sustentando seus vários galhos, sua grande copa, seu tronco majestoso e os pássaros que nela se abrigam. Suas raízes estão ali como símbolo de um sonho. Um sonho de educação.
Árvore, escola, casa. A árvore tem solidez, tem a ousadia do céu, se expõe, acolhe, dá sombra. Educação não é isso? acolher, dar sombra, indicar caminhos ....

CENA 2 – AS PESSOAS
Secretaria da escola. Burocracia corriqueira. Transferência, matricula, notas. Entra um professor. Mãe pedindo a transferência do filho. Aluno reprovado, um ano perdido, mensalidade alta. O professor intervém.
- Por que tirar seu filho da escola?
- Vocês ensinaram, incentivaram muito meu filho. Ele se tomou mais companheiro, solícito, solidário, gente ... Atendia a todos os amigos, tinha tempo para todos, se envolvia ...
- Mas isso não é bom ?
- É! claro que é, mas o senhor sabe, também sou professora ... 2° ano, 2° grau, vestibular ... não pode ficar atendendo todo mundo ... ser assim tão amoroso.
- A senhora está dizendo que está tirando seu filho daqui porque eu e meus colegas o tomamos mais gente, mais pessoa?
- Sim!
O professor vira-se e sorri ....
CENA 3 – O GRUPO

"Descartes que me desculpe,
mas intuição é fundamental.
Eu sempre soube que estaria lá com eles."
(Professor do Colégio Magister)

Uma sala de professores. Pessoas, educação, diários, alunos, projetos .... igual a qualquer sala de professores, de qualquer colégio. Igual? Não, a sala de professores do Magister é diferente. Ocorre uma cumplicidade, nem sempre verbalizada e nem urgente, apesar de estarmos todos com pressa. Conversa-se sobre literatura, cinema, conjuntura nacional com a naturalidade própria de um grupo que representa a continuidade de um projeto desencadeado no inicio dos anos setenta e que tem como propósito explorar o potencial conscientizador e transformador da educação. Mas há também muito espaço para o afetivo, para o toque, para o olhar. Há inclusive os que não deixam marcas, mas muitos saem desta sala como amigos, cúmplices, pessoas... e continuam professores, professores muito melhores do que antes. Porque ali mais do que saber que disciplina se leciona, o importante, antes de tudo, é o que se pensa sobre o mundo, sobre a vida. Esta talvez seja uma das razões do porquê, para além da formalidade dos cumprimentos e comentários, passar pela sala dos professores do Magister é uma necessidade profissional, intelectual e afetiva. Enfim, uma experiência de prazer.
Mas espere um pouco. Isto aqui não é uma sala de professores? Quem está pensando assim? E pior... num intervalo. Não é hora de falar mal dos alunos, do salário, das condições de trabalho? E porque aquele professor de biologia está trocando referências literárias com o professor de literatura? Por que aquele professor de física está discutindo filosofia da educação como o professor de matemática? E a diretora da escola sugerindo um livro de Darcy Ribeiro para os professores? Já sei, é aquela árvore, sua sombra. Suas folhas estão realizando uma espécie de "fotossíntesse" em que os elementos não são compostos químicos da Natureza de Lavoisier, mas compostos afetivos da natureza de Rosseau, Paulo Freire, Piaget, Montessori , Vigotsky. A mesa redonda e o café reúne a todos. Aqui tudo se cria. Tudo se transforma. Forma-se gente.







CENA 04 – AS IDEIAS

"Eu não devia te dizer. Mas essa lua,
mas esse conhaque,
botam a gente comovido como o diabo."
( Drummond)

"Eu também não devia dizer.
Mas essa àrvore,
mas essa escola, o grupo,
botam a gente extremamente cúmplice."
(Professor do Colégio Magister)

Cúmplice de um projeto, de uma idéia, um imaginário.
Nós, professores, precisamos de duas coisas simples: credibilidade e liberdade. Nas nossas vidas profissionais, na maioria das vezes, na maioria das escolas, não temos encontrado nem uma e nem outra .... aqui, neste espaço, isto se realiza de forma tranqüila, eficiente ... e os alunos sabem e sentem isso. Afinal, é para eles que construímos e reconstruímos este imaginário real chamado Magister.
Este Colégio - e entenda-se por colégio "uma corporação de pessoas notáveis da mesma categoria, cujos membros têm a mesma dignidade" - irá sobreviver, independente da árvore e do espaço fisico.
Porém, é preciso perceber que acima das conveniências de mercado devem pairar nas sociedades civilizadas os valores da história, da cultura, da educação. Centros comerciais são feitos e desfeitos em poucos anos. Árvores e colégios -com todo seu simbolismo - são construídos ao longo dos tempos. Tempos da árvore e tempos de colégio.
Para além da frieza das leis, que nem sempre comportam os Homens, é preciso que se compreenda, parafraseando Brecht, não como são as coisas verdadeiras (aparência e lucro), mas como verdadeiramente devem ser as coisas ( essência e vida).
Derrubar uma casa, um Ficus centenário, um Magister é fácil. Derrubar idéias, projetos, sonhos, não.
Sobreviveremos. Talvez na frieza e impessoalidade de um conjunto de salas, num desses ícones do pós-modernismo. Mas e o imaginário,o simbolismo, dimensões do espírito humano, pilares da reflexão, onde ficarão? Onde estará a árvore que nos recebe a cada manhã? Onde estarão as alamedas por onde caminhamos, os painéis, os alunos, o aconchego das salas de aula?

Matam-se homens, derrubam-se colégios, cortam-se árvores, despejam-se escolas.
E propiciar o renascimento de homens, construir colégios, plantar árvores, refazer escolas ?


ADSON VARGAS

EDSON NUNES FERRAREZI

WANDERLUCE GOMES

Um comentário:

  1. Gente, alguém tem foto daquela árvore? Não tem um registro disponível na internet! Estudei minha 1° série lá (vejam que ainda eram "séries" e não "anos")

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