sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O sorriso

Absurdo: disparatado, insensato. Do lat. absurdus. Absurdo é o estado do que é. Não por uma ausência de, ou por uma falta de, mas por um constante e desproporcional ímpeto de agir. Agir é o estar do afetar. Afetar e ser afetado é a condição do absurdo.

Abstênio: sóbrio. Aquele que se abstém. Do Lat abstemius.

Sobre o abster-se. Abster-se é um retirar-se. É um deslocar de um modo possível de estar, para uma outra região, para um ir de encontro, para um determinado lá. Quando imerso no que lhe falta o abstido é um disparate. A longa história do abster-se se denomina moral.


O niilismo. Por uma valoração moral da veracidade atingiu-se as condições que exigiram a postulação da Verdade. A Verdade desmascarada revelou-se como um desejo de nada, um escapar para a região do ideal, que pensado como oposição ao que é, havia se instituído como o topos judicativo, como juiz do jogo inocente do devir. O conceito de A Verdade nasce diante da incomensurável potência do que é, no seu inocente acontecer. O que acontece determina-se por si mesmo, nas suas internas tensões de duração. Longe deste ir e vir, de descomunal potencial de ação, surgiu o Homem. Feito do mesmo material do que é, composto pelas suas inerentes tensões e desdobrado no bojo do devir do acontecer, porém desconfiado da capacidade inerente ao que é, de propor-se como sendo. Bastaria continuar o processo de ação que afigura como o em si de tudo que é, porém, a inocente afirmação soou como pouco, como falta aos olhos de determinados tipos humanos. Não seria possível que bastasse apenas um sim, um sorriso, para permanecer no reino da pura atividade e da exuberante necessidade. A falta acabou por desdobrar-se como o Mal, e se sente-se mal, logo buscou-se uma razão para o mal estar. Neste momento entrou em cena a culpa, afinal, se a falta é um mal, a culpa a explicará. Assim, existira um lugar para além daqui que livraria o sentir da dor da falta diante do inocente devir do acontecer, da ausência que se percebeu no puro e constante agir. O acesso a este lugar passou a ser perseguido, como condição do restabelecimento da dívida que se contraiu. O encontro com este lugar revelou-se como a aquisição dA Verdade de todas as coisas, que acabou por se instituir como um critério para se contrapor ao Mal que se sentia diante das condições pelas quais se via e se interpretava. Porém, o acesso dar-se-ia por uma via que deveria esquivar-se da condição do Mal. O Mal estava aqui, na parte que participa do acontecer. Assim, na invenção do além, como o lugar da verdade e depósito do bem, ligou-se à ideia de que uma parte do Homem não seria composta dos elementos que vigem e determinam o acontecer. Agora, séculos depois, por amor a verdade, A Verdade se revelou – por longos anos depreciou-se o acontecer do mundo em nome de um ideal, e agora depreciamos aquilo que sobre nós pairou, afinal, o mundo do ideal foi visto por dentro. Cabe agora, não vergar diante do vazio, - Bem entendido, propor novas avaliações.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Para Larissa e Rodrigo

O sentido prevalece como a condição de qualquer dizer. A designação, a manifestação e a significação são posteriores ao sentido, que em si mesmo é problemático. As soluções são dadas dentro de uma referência possível, mas a condição mesma da referência é dada anteriormente. A anterioridade expressa-se como um acontecimento. O acontecimento delimita-se pela distância infnita que separa os horizontes possíveis de apresentação. Dentro de um dado, o dado apresenta-se como possível. Mesmo o Eu, já se expressa como uma formulação posterior. O passado, o presente e o futuro demandam, para a sua possibilidade, uma anterioridade que não se alinha ao sentido dado ao tempo pela percepção de um eu.





Pensar a radicalidade da vida significa submeter-se a torrente que nos constitui. Um devir que se desdobra como um conjunto de relações complexas de atuação. O atuar dá-se como tempo. Não há o atuar, mas atuações, sempre dinâmicas e complexas. Por atuações compreende-se a imanência em si do que atua. O atuar move-se em uma atuação que se desdobra como um confronto. É necessário pensar apenas a atuação como atuando nas suas infinitas realizações. Um evento é um desdobrar das atuações. O sujeito mesmo é a realização de uma dinâmica de atuações. Atuar é manter-se em constante atuação. Força é o nome dado a qualidade do que atua. A qualificação da força é a manutenção mesma da atuação. A qualidade do atuar é a força, a qualidade da força é o seu agir. Agir é o modo de ser daquilo que atua. Não é possível ultrapassar a atuação, é muito menos acessar um Nada, um ponto de equilíbrio, uma constância. A noção de permanência, de identidade e mesmidade é resultado de um modo gramatical de pensar, sempre na suposição da predicação de um sujeito que é. Atuar - permanência múltipla.

Por Marcos Vinicius.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Para além do profundo e aquém do céu.

As questões filosóficas se dirigiram para um além daqui ou para um aquém daqui. Toda uma coloração, modos e estados do entre, permaneceu ausente diante da necessidade de ir daqui para traz ou daqui para frente. Porém, o entre não é um fixo, um estado de lucidez plena, de extrema clareza, nem mesmo, a obscuridade em si, a loucura ou a mobilidade. Os pares de opostos sempre nos instalam em algum ponto da escala da profundeza ou da altura. A dificuldade foi a de não permitir o entre como infundado, mas efetivo. O entre não vem de um antes, nem caminha para um depois. O entre não está para ser definido, nem muito menos, a espera da semelhança. Foge ao entre ser e não-ser. “Se não tens bastão, lhe tomo. Se tens bastão, lhe dou outro”.