sábado, 30 de julho de 2011

Divertimentos

A palavra anagrama é um anagrama de si mesmo?

Monogamia rima com monotonia ou com poligamia?

domingo, 24 de julho de 2011

fanatismo

O atirador norueguês é um cristão fundamentalista.
Se continuar assim, os ateus terão que sair às praças
para explicar aos "crentes" a mensagem do Cristo.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Coisas inúteis

“Que tolice! Ensinar coisas inúteis, quando o tempo nos é avaramente medido”.
(Sêneca).

E quantas coisas inúteis fazemos. A começar pelas aulas. Vejamos: os professores de química querendo que os meninos aprendam sobre átomos e moléculas, quando eles estão buscando compreender outras “ligações” que não as covalentes, muito mais interessantes a serem feitas. Os professores de história explicando a importância da Via Ápia, quando o que interessa é saber qual o caminho mais curto entre a sua casa e o shoping. Os professores de matemática ensinando equações, vetores, forças, incógnitas quando para eles o único X que importa é o de Matrix ou do X-Man. Nas ciências, os professores ainda não entenderam que o crescimento das sementes, os fenômenos físico-químicos da digestão e a fotossíntese são tão interessantes quanto uma salada de chuchu, que o que importa mesmo é o que está ocorrendo lá no fundo da sala. A geografia querendo despertar o interesse pelo que acontece em Bagdá ou no Nordeste, quando a janela da sala de aula é o horizonte mais distante. Professores de português querem ensinar o gosto pela literatura e a conjugar verbos quando o único verbo que lhes interessa é o verbo ficar. Os professores de educação física, os únicos que estão no caminho certo, pois os jovens adoram a física dos corpos. Os coordenadores conversando com cada um, com a mesma paciência, na esperança de que eles acatem seus “sábios e bondosos conselhos”.
Viram como “somos inútil”.
Mas... Mas... Também sabemos que nossos alunos podem aprender química, história, matemática, ciências, geografia, português, física em qualquer escola – e quando quiserem. Sabemos também que eles não se preocupam apenas com futilidades, que estão vivendo o tempo deles. E se o tempo deles é de shoping, de ficar, de muita balada, é também um tempo de terrorismo, de seqüestro-relâmpago, de insegurança e incertezas. Cabe a nós, professores, conscientes disso, darmos a eles algo mais.
Por isso, os professores de química falam não apenas de átomos e moléculas, mas mostram que as ligações mais importantes são aquelas que não são vistas a olho nu; que não existe uma fórmula para o amor, mas os componentes aí estão, compete a cada um de nós “misturá-los” para sentirmos o seu agradável perfume; que mais importante que as reações químicas são as ações humanas. Os professores de história ensinam que a ignorância é o caminho mais curto para qualquer lugar, mas que o caminho do conhecimento é longo e tortuoso; que o mesmo país que gerou um energúmeno como G. W. Bush, também gerou um Thoreau. No século XIX, esse “avô dos hippes” foi preso por se recusar a pagar imposto para sustentar uma guerra civil. Escreveu um ensaio chamado Desobediência Civil no qual propõem a resistência aos governos injustos e que influenciou homens como Ghandi. Os professores de exatas ensinam que somar, dividir, multiplicar, diminuir não são apenas operações matemáticas, mas formas de nos relacionarmos com as coisas e com o mundo. Assim, como na parábola dos talentos, não devemos enterrar os dons que Deus no deu, mas multiplicá-los; que devemos dividir não apenas o que temos em excesso, mas também o pouco que temos; que “a alegria é a prova dos nove” e que “o resto é sempre maior que o principal”; que a maior incógnita não é a morte, mas a vida; que se eu somar erros o resultado será sempre negativo, mas somando erros e acertos eu poderei ter um número positivo. Os professores de ciências mostram que o maior de todos os fenômenos é a própria vida – “mesmo que seja uma vida como esta, Severina”. A geografia mostra a eles que mais importante e difícil que conhecer outros países é conhecer a si mesmos. Nas aulas de língua portuguesa e literatura eles aprendem que não importa a conjugação do verbo ficar, mas os seus complementos; que a poesia esta aí, basta “ouvir o rio correr”. Nas aulas de educação física eles descobrem o que os gregos antigos já sabiam: mente e corpo devem estar em equilíbrio. Os coordenadores fazem aquilo que só os pais são capazes de fazer: multiplicar o seu amor incondicional para os seus filhos, sem distinção, pois “qual o pai que dá uma pedra ao filho que lhe pede pão?”.
Preferimos ensinar coisas inúteis aos nossos alunos. Coisas que não os tornam mais ricos, ou mais bonitos, ou mais fortes. Ensinamos coisas que os tornam mais inteligentes, mais solidários, mais felizes. Não fazemos o jogo de um mundo pragmático, onde tudo tem que ter um valor imediato, monetário e... descartável. Continuaremos ensinando coisas inúteis. Só assim garantiremos aos nossos alunos a “soberania de Ser mais do que Ter”.

Professor Edson Nunes Ferrarezi

Colégio Magister de Juiz de Fora

MAGISTER
A CASA, AS PESSOAS, AS IDÉIAS
CENA 1 – A ÁRVORE
Juiz de Fora, centro da cidade. De um lado, um Shopping center, do outro, um posto de gasolina. Em frente, um conjunto de prédios, "paredão" para os que o conhecem. E no meio desta paisagem tipicamente urbana, uma árvore centenária servindo de pórtico para uma casa. Esta "casa" tem painéis artísticos, um jardim com muitas árvores, uma piscina, uma quadra de esportes. Mas voltemos a árvore, afinal ela é o símbolo do que "funciona" dentro da casa. Dentro desta casa funciona um colégio. Colégio! Árvore! Colégio! Casa!
Árvore, árvore, árvore .... seria preciso escrever muitas vezes a palavra árvore para que quem não a conhece perceba a sua imponência. Suas raízes não estão ali apenas sustentando seus vários galhos, sua grande copa, seu tronco majestoso e os pássaros que nela se abrigam. Suas raízes estão ali como símbolo de um sonho. Um sonho de educação.
Árvore, escola, casa. A árvore tem solidez, tem a ousadia do céu, se expõe, acolhe, dá sombra. Educação não é isso? acolher, dar sombra, indicar caminhos ....

CENA 2 – AS PESSOAS
Secretaria da escola. Burocracia corriqueira. Transferência, matricula, notas. Entra um professor. Mãe pedindo a transferência do filho. Aluno reprovado, um ano perdido, mensalidade alta. O professor intervém.
- Por que tirar seu filho da escola?
- Vocês ensinaram, incentivaram muito meu filho. Ele se tomou mais companheiro, solícito, solidário, gente ... Atendia a todos os amigos, tinha tempo para todos, se envolvia ...
- Mas isso não é bom ?
- É! claro que é, mas o senhor sabe, também sou professora ... 2° ano, 2° grau, vestibular ... não pode ficar atendendo todo mundo ... ser assim tão amoroso.
- A senhora está dizendo que está tirando seu filho daqui porque eu e meus colegas o tomamos mais gente, mais pessoa?
- Sim!
O professor vira-se e sorri ....
CENA 3 – O GRUPO

"Descartes que me desculpe,
mas intuição é fundamental.
Eu sempre soube que estaria lá com eles."
(Professor do Colégio Magister)

Uma sala de professores. Pessoas, educação, diários, alunos, projetos .... igual a qualquer sala de professores, de qualquer colégio. Igual? Não, a sala de professores do Magister é diferente. Ocorre uma cumplicidade, nem sempre verbalizada e nem urgente, apesar de estarmos todos com pressa. Conversa-se sobre literatura, cinema, conjuntura nacional com a naturalidade própria de um grupo que representa a continuidade de um projeto desencadeado no inicio dos anos setenta e que tem como propósito explorar o potencial conscientizador e transformador da educação. Mas há também muito espaço para o afetivo, para o toque, para o olhar. Há inclusive os que não deixam marcas, mas muitos saem desta sala como amigos, cúmplices, pessoas... e continuam professores, professores muito melhores do que antes. Porque ali mais do que saber que disciplina se leciona, o importante, antes de tudo, é o que se pensa sobre o mundo, sobre a vida. Esta talvez seja uma das razões do porquê, para além da formalidade dos cumprimentos e comentários, passar pela sala dos professores do Magister é uma necessidade profissional, intelectual e afetiva. Enfim, uma experiência de prazer.
Mas espere um pouco. Isto aqui não é uma sala de professores? Quem está pensando assim? E pior... num intervalo. Não é hora de falar mal dos alunos, do salário, das condições de trabalho? E porque aquele professor de biologia está trocando referências literárias com o professor de literatura? Por que aquele professor de física está discutindo filosofia da educação como o professor de matemática? E a diretora da escola sugerindo um livro de Darcy Ribeiro para os professores? Já sei, é aquela árvore, sua sombra. Suas folhas estão realizando uma espécie de "fotossíntesse" em que os elementos não são compostos químicos da Natureza de Lavoisier, mas compostos afetivos da natureza de Rosseau, Paulo Freire, Piaget, Montessori , Vigotsky. A mesa redonda e o café reúne a todos. Aqui tudo se cria. Tudo se transforma. Forma-se gente.







CENA 04 – AS IDEIAS

"Eu não devia te dizer. Mas essa lua,
mas esse conhaque,
botam a gente comovido como o diabo."
( Drummond)

"Eu também não devia dizer.
Mas essa àrvore,
mas essa escola, o grupo,
botam a gente extremamente cúmplice."
(Professor do Colégio Magister)

Cúmplice de um projeto, de uma idéia, um imaginário.
Nós, professores, precisamos de duas coisas simples: credibilidade e liberdade. Nas nossas vidas profissionais, na maioria das vezes, na maioria das escolas, não temos encontrado nem uma e nem outra .... aqui, neste espaço, isto se realiza de forma tranqüila, eficiente ... e os alunos sabem e sentem isso. Afinal, é para eles que construímos e reconstruímos este imaginário real chamado Magister.
Este Colégio - e entenda-se por colégio "uma corporação de pessoas notáveis da mesma categoria, cujos membros têm a mesma dignidade" - irá sobreviver, independente da árvore e do espaço fisico.
Porém, é preciso perceber que acima das conveniências de mercado devem pairar nas sociedades civilizadas os valores da história, da cultura, da educação. Centros comerciais são feitos e desfeitos em poucos anos. Árvores e colégios -com todo seu simbolismo - são construídos ao longo dos tempos. Tempos da árvore e tempos de colégio.
Para além da frieza das leis, que nem sempre comportam os Homens, é preciso que se compreenda, parafraseando Brecht, não como são as coisas verdadeiras (aparência e lucro), mas como verdadeiramente devem ser as coisas ( essência e vida).
Derrubar uma casa, um Ficus centenário, um Magister é fácil. Derrubar idéias, projetos, sonhos, não.
Sobreviveremos. Talvez na frieza e impessoalidade de um conjunto de salas, num desses ícones do pós-modernismo. Mas e o imaginário,o simbolismo, dimensões do espírito humano, pilares da reflexão, onde ficarão? Onde estará a árvore que nos recebe a cada manhã? Onde estarão as alamedas por onde caminhamos, os painéis, os alunos, o aconchego das salas de aula?

Matam-se homens, derrubam-se colégios, cortam-se árvores, despejam-se escolas.
E propiciar o renascimento de homens, construir colégios, plantar árvores, refazer escolas ?


ADSON VARGAS

EDSON NUNES FERRAREZI

WANDERLUCE GOMES