Educar para civilizar, ou...
Por Marcos Vinícius.
A construção de um grupo, povo ou nação na história dos humanos no planeta Terra sempre demandou a atividade de educar e de educadores. Em várias situações o saber acumulado precisou ser repassado com fins a manutenção de um determinado modo de ser e de estar no cotidiano.
Tomamos por cotidiano as vivências e práticas imediatamente disponíveis nos modos de ser e estar dos homens no mundo, resultantes do fazer da educação. No fundo as condições que mantém determinado grupo são exigidas como necessárias para a manutenção e o estabelecimento dos que acabam de chegar, os recém-chegados.
Em função da tensão entre os que aqui estão e os recém-chegados, o cuidado surge-nos como a questão derradeira da educação, pois o conflito básico entre os interesses dos que aqui estão e os dos que acabam de chegar, constitui-se, segundo julgo, como o pensar fundamental da educação e dos educadores.
O cuidado deve se estender para a potencialização dos que estão, como também, permitir que os novos possam vir a ser o que são. A preservação da eterna novidade do que brota é a razão do cuidado. Neste caráter duplo do cuidado emerge uma sociedade voltada para a civilização - formação; ou para a cultura – cultivo de si. Por cuidado toma-se a tarefa de auxiliar a desabrochar. Desabrochar é o realizar do que há.
Penso que no momento atual, o conflito de interesse, entre os que aqui estão e os recém-chegados, se acirrou, sobretudo, se levarmos em conta as variáveis, que a partir da modernidade, têm orientado os fins da educação. Apontamos duas grandes tendências: aquelas vinculadas aos interesses do Mercado e do mundo do trabalho, e aquelas vinculadas aos interesses do Estado.
Almejamos nessa exposição contrapor os interesses de mundo vinculados aos ideais civilizatórios e aqueles pensados com fins da cultura de um grupo, povo ou nação. Até que ponto os fins civilizatórios, apresentados pelas tendências do Mercado e do Estado, são um impedimento para a construção de um presente e um futuro que permitam o cultivo de si como fins de um grupo, um povo e uma nação?
As exigências do Mercado.
Para a manutenção do mercado exige-se a produção de sujeitos portadores de habilidades e competências que os permitam serem utilizáveis nos vários setores da produção do mundo moderno.
A exigência de utilidade estende-se a todos os níveis possíveis de atuação no mundo do trabalho em todas as suas demandas, quer sejam procedimentos teóricos, práticos ou teórico-práticos imediatamente aplicáveis ou não. Cabe à educação transferir, construir e desenvolver as habilidades e saberes necessários para a execução das tarefas do mundo do trabalho contemporâneo.
Cada vez mais atrela-se o sucesso da educação às exigências programáticas do mercado. Os fins desta tendência coadunam com o da empregabilidade e da sua manutenção permanente por parte dos educandos.
A noção de educação continuada coaduna com o afluxo de ciência e tecnologia atrelado à produção capitalista contemporânea no âmbito globalizado da produção em um também global mercado de trocas para as infindáveis disputas.
Cuidar, nesta perspectiva, significa submeter os recém-chegados às condições que os tornariam utilizáveis aos interesses do mercado e da sua reprodução. A coisificação e a otimização dos recursos e dos resultados, com fins ao aumento dos lucros, passam a ser os fins deste modo de civilizar, pois quanto mais produtores, mais consumidores, quanto mais consumidores, mais produtores, logo, mais lucros, acúmulo de riquezas e pagamento de impostos. Os artefatos da produção cultural também serão submetidos a essa lógica de ampliação de resultados e de maior consumo. Deste solo, emerge, a cultura de massa.
Os ideais do Estado.
A outra tendência prioriza os interesses do Estado. A cidadania apresenta-se como o fim geral da educação voltada para os interesses de um Estado.
Por cidadania compreende-se o exercício ativo dos sujeitos nos processos decisórios da esfera pública e política, bem como, a garantia dos direitos de livre associação e de liberdade de expressão na esfera privada, pública e política.
Os fins da cidadania recolhem-se no respeito à Lei, que em um Estado democrático de direito, pelo sistema de representação, fundada na vontade da maioria representada, apresenta-se como o dever de todos.
Em linhas gerais, a noção de cuidado, nessa acepção, visaria a construção do conjunto de habilidades e competências que permitiriam aos sujeitos a construção da sua cidadania. Para tal, as habilidade de convivência, bem como, a capacidade de compreensão dos signos lingüísticos, matemáticos, lógicos e tecnológicos coadunariam com os fins da educabilidade. A mobilidade da Lei dar-se-ia com a construção de uma participação ativa dos sujeitos de uma nação, quando, pela organização e defesa de seus ideais, poderiam vir a cristalizar os seus interesses na esfera da legalidade, na sua expressão como Lei. O respeito à Lei e às condições para a sua produção seriam os horizontes maiores do cuidado na esfera educacional, quando submetida aos interesses do Estado.
Deste modo, os fins civilizatórios estariam contemplados na esfera da educação na construção de habilidades e competências exigidas pelas tendências de Mercado e trabalho e para o exercício da cidadania.
A inclusão digital.
A noção de inclusão digital remete-nos para as duas exigências do mundo contemporâneo que fazem eco na noção de cuidado na educação, pois a mesma tem sido convocada a resolver as demandas de otimização dos resultados e da produção na esfera do mercado, bem como, atender aos interesses do Estado na produção de uma cidadania ativa e participativa.
A tarefa da inclusão digital, como mais uma das atribuições da educação, nasce do subimento da educação aos interesses do Estado e aos do Mercado. Em ambos a necessidade da inclusão faz-se premente, pois a digitalização dos processos de produção e teorização vem se tornando uma prática comum ao Mercado e ao trabalho globalizado a partir da década de 90, tornando-se uma condição fundamental para o exercício da produção, do trabalho e da riqueza no mundo contemporâneo. Assim, se o Estado necessita da produção presente no Mercado, como forma de arrecadar recursos para a sua manutenção, é extremamente necessário que um segmento responsável pela construção das habilidades e competências para o seu pleno exercício se veja diretamente responsabilizada pela construção das condições que permitiram a inclusão do maior número de sujeitos no mundo digital, pois quanto maior o número de sujeitos hábeis no trato com as novas tecnologias, maior a produção, a empregabilidade, os lucros e os impostos de um grupo, de um povo ou de uma nação.
Em síntese, as tendências cristalizadas nos interesses do Mercado e do Estado têm a sua razão de ser na manutenção das condições que permitam a sua expansão e otimização dos seus resultados. Tanto o Mercado quanto a Estado visam à construção de sujeitos ideais, aqui compreendidos, como plenamente e satisfatoriamente utilizáveis, para que possam atingir os seus fins. Para o mercado a ampliação da produção em um custo cada vez menor, e, para o Estado a ampliação da sua esfera de legalidade para a manutenção das suas condições de exploração. Civilizar no interesse destas forças significa tornar permanente a determinação dos horizontes a partir dos quais o cuidado se dá, delimitado pela produção de sujeitos utilizáveis a qualquer momento e em qualquer situação, plenamente satisfeitos com as condições que mantém oculta a sua ininterrupta exploração.
Por uma fábula.
Não há nenhum fim em si. Todas as tendências querem fazer predominar o seu agir. Na base do seu agir há uma estratégia de fazer passar por verdade aquilo que é apenas um interesse momentâneo e particular de uma engrenagem e dispositivos de poder de um grupo específico. Os grupos que se impõem transitam em uma dada interpretação, construindo a sua volta mundo e povos, à luz das suas determinações.
Orientado pela cultura proponho um ideal de educação que tome o cuidado como um meio auxiliador e potencilizador do desabrochar daquilo que é próprio a um indivíduo, a um grupo, a um povo e a uma nação, com fins a estilizar, em um belo quadro, toda a sua força, jovialidade e beleza, quando na hierarquização dos seus afetos, venha a constituir um grande estilo. Uma singularidade capaz de vir a representar o melhor de um povo e até mesmo de vir a justificar todos os seus. O fim da cultura é a produção do sentido de um povo, pois enquanto expressão artística designa as suas moedas de valor, o seu incalculável e o seu desprezível.
A arte como expressão das lutas entre os afetos na determinação do seu atuar em uma dada direção, constitui a razão de ser do cuidado da educação com fins ao desenvolvimento de uma cultura.
O individuo que se dispôs na arte do cultivo de si expressa a sua diversidade sob a unidade de um estilo. Se o ideal da civilização é tornar regulável e utilizável, o ideal da cultura é tornar singularmente belo a tensão presente no existir concreto de um povo.
Na ausência da meta, submetemo-nos ao cotidiano calculável e utilizável das tendências presentes no ideal da civilização, por esta razão a eterna novidade, presente nos novos que chegam, oculta-se, ou até mesmo se perde, na fabricação de sujeitos iguais e utilizáveis. Na eterna tensão entre a cultura e a civilização é certo que os bárbaros no poder produzirão...
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Refutações
A refutação é impossível, pois não posso negar A por não-a, e nem sequer por B, pois a é a, não-a é não-a e b é b. Seria como negar a água pelo azul. Um cara desceu a escada e... O que importa é a implicação.. Implicação é o dar-se de algo sobre, é um sobrepor.
Circunferência
Ontem estava sentado, sentado estava ontem, ontem estava sentado, sentado estava ontem, ontem estava sentado, sentado estava ontem.
O estar
O estar.
Para além de lá. Para aquém de ir. Para além daqui para lá. O estar ressoa como emergência. Emergência é um brotar. O brotar do que brota vige no estar. O é do estar dá-se brotando. Brotando não remete para um além daqui, nem muito menos em um para lá, ou, um para a onde. Fluir é o nome do que brota no quando do vigir do estar. Não há algo que flui no fluir, há o fluir do que vige quando flui. Mesmo se optar-se por um estando, subrepticiamente, manter-se-ia, uma essência? O vigir vige. O que se permiti dizer e falar: o vigir do que vige no estar vige quando o estar se dá vigindo: a emergência. O que emerge não vem de lá, nem daqui, o emergir vige. Vigir brotando. Para além do vigir não há. O vigor do vigir dá-se como vigorando. Vigorar é vigir. O o, a, é, são limites inequívocos? Como é possível dizer e pensar o vigir do que vige sem substantivá-lo? Sem submetê-lo às condições inerentes a uma dada linguagem, que se proposicional, postulará, sempre, um sujeito e uma predicação? Aqui reside o limite do dizer e as condições de expressão de um pensar? Para além da questão reside a expressão: estar é um modo do vir do que vige. Do que, aqui, não é uma essência, nem muito menos remete para tal, é apenas um limite para expressar o pensamento que afirma que vigir, no sentido que pretendemos alcançar, não pode ser dito sem ser substantivado. Todas as alternativas remeterão para o indizível que aqui não pode ser dito sem incompreensões, pois a própria palavra vigir supõe o vigir como uma essência? Penso que o remetimento para a afirmação de que com a noção do vigir não apelo à essência, seria satisfatório para o opositor que acusaria a afirmação de metafísica. Por metafísica toma-se a consideração das essências, como puras em si e todo o dualismo que daí se processa e as suas implicações para uma filosofia da afirmação do puro vigir. O vigir, deste modo, não é a essência, nem muito menos uma substância, mas apenas um conceito que aponta para a equivalência entre o estar é a sua condição mesma de expressão em uma dada linguagem. Por outro lado, não se trata de dizer que por esta razão estamos na verdade do conceito e da sua referência, pelo contrário, apenas postulando-se a necessidade de se continuar a impor condições que nos permitam expressar a condição na qual estamos. O vigir dá-se como emergência ininterrupta. Deste modo, não cabe aqui indagar se esta expressão é verdadeira ou falsa, se é adequada ou não, ou se remete para algo que existe ou poderia existir. O derradeiro reside: a expressão potencializa a afirmação: fazer atuar o que vige nas dinâmicas de todos os vigires do estar (es).
Para além de lá. Para aquém de ir. Para além daqui para lá. O estar ressoa como emergência. Emergência é um brotar. O brotar do que brota vige no estar. O é do estar dá-se brotando. Brotando não remete para um além daqui, nem muito menos em um para lá, ou, um para a onde. Fluir é o nome do que brota no quando do vigir do estar. Não há algo que flui no fluir, há o fluir do que vige quando flui. Mesmo se optar-se por um estando, subrepticiamente, manter-se-ia, uma essência? O vigir vige. O que se permiti dizer e falar: o vigir do que vige no estar vige quando o estar se dá vigindo: a emergência. O que emerge não vem de lá, nem daqui, o emergir vige. Vigir brotando. Para além do vigir não há. O vigor do vigir dá-se como vigorando. Vigorar é vigir. O o, a, é, são limites inequívocos? Como é possível dizer e pensar o vigir do que vige sem substantivá-lo? Sem submetê-lo às condições inerentes a uma dada linguagem, que se proposicional, postulará, sempre, um sujeito e uma predicação? Aqui reside o limite do dizer e as condições de expressão de um pensar? Para além da questão reside a expressão: estar é um modo do vir do que vige. Do que, aqui, não é uma essência, nem muito menos remete para tal, é apenas um limite para expressar o pensamento que afirma que vigir, no sentido que pretendemos alcançar, não pode ser dito sem ser substantivado. Todas as alternativas remeterão para o indizível que aqui não pode ser dito sem incompreensões, pois a própria palavra vigir supõe o vigir como uma essência? Penso que o remetimento para a afirmação de que com a noção do vigir não apelo à essência, seria satisfatório para o opositor que acusaria a afirmação de metafísica. Por metafísica toma-se a consideração das essências, como puras em si e todo o dualismo que daí se processa e as suas implicações para uma filosofia da afirmação do puro vigir. O vigir, deste modo, não é a essência, nem muito menos uma substância, mas apenas um conceito que aponta para a equivalência entre o estar é a sua condição mesma de expressão em uma dada linguagem. Por outro lado, não se trata de dizer que por esta razão estamos na verdade do conceito e da sua referência, pelo contrário, apenas postulando-se a necessidade de se continuar a impor condições que nos permitam expressar a condição na qual estamos. O vigir dá-se como emergência ininterrupta. Deste modo, não cabe aqui indagar se esta expressão é verdadeira ou falsa, se é adequada ou não, ou se remete para algo que existe ou poderia existir. O derradeiro reside: a expressão potencializa a afirmação: fazer atuar o que vige nas dinâmicas de todos os vigires do estar (es).
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