“Ele era um homem de seu tempo”. A frase era usada por um velho professor de latim para se referir àqueles a quem ele considerava especiais. Achava uma frase de efeito, mas – confesso - não atinava bem o que o mestre de nossa língua mãe queria dizer. Hoje, com o distanciamento que meus 51 anos de vida permitem, começo a enxergar algo de significativo nessas palavras.
O que me levou a tal reflexão foram os poemas do livro de dois jovens poetas. Parecem ter aprendido rapidamente a lição que levei tanto tempo para absorver e resolveram “ser homens de seu tempo”.
Em umquatrozero o tom confessional, o subjetivismo exacerbado - “romântico” - diriam alguns -, foi controlado pela métrica curta, contida, na maior parte dos poemas. Em estilo quase telegráfico, “twitteiro”, “as palavras entram voando” e são recolhidas “no papel branco da vida”.
“Volta Redonda” de onde “... saem dantescas/ colunas de fumaça e sisudez,/ que atingem os olhos/de minha namoradinha” teria destaque em uma antologia de poesia contemporânea.
Ferreira Gullar, em um de seus poemas cujo título é A Poesia, pergunta:
Onde está
a poesia? Indaga-se
por toda parte. E a poesia
vai à esquina comprar jornal.
Parece que os dois estiveram na mesma esquina por onde a poesia passou. As referências óbvias aos grandes bardos como Drummond, Vinícius, Bandeira indicam que eles não apenas conhecem os cânones da poesia, mas buscaram atualizar o discurso para o seu tempo. Essa busca de atualização e de uma dicção própria é explicitada em Universidade II onde “... jaz a alma de uma aluno/que de tanto citar/virou doutor.”
A simplicidade de alguns poemas expressa a procura honesta daqueles que investigam o seu tempo e não temem “as verdades de pedra”. Se Paul Valéry já há muito afirmava que “... Não podemos mais tolerar o que dura”; se aprendemos com Zygmunt Bauman que a modernidade é “leve”, “liquida”, "fluida”, com os dois jovens poetas aprendemos que a “efêmera vida” nos obriga a perguntar sempre: “quantas incertezas/São necessárias/Para afundar um navio?
Se mais não digo é para não ser incoerente com o que foi escrito acima.
Edson Nunes Ferrarezi
segunda-feira, 13 de junho de 2011
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