Cripta.
Considerações sobre o interpretar.
Por Marcos Vinícius.
“Hoje, a doença das pessoas é que elas não sabem mais admirar, ou, então, são ‘contra’, aferem tudo por seus parâmetros, e tagarelam, e escrutam”., Deleuze, pg., 167.
O diagnóstico é preciso: parte-se de um lugar, de uma geografia, de uma perspectiva que debruça e retorna a um lugar que estava como escrita. No escrito, na tensão do pensado, paira a linguagem e a língua, como também pulsam as forças de um determinado fluxo. O sobrevôo do pensamento, acolhedor do acontecimento, se expressa como conceito. No tempo presente, habita uma marca, que propõe um modo de apreensão, expresso como doença. Por doença toma-se o subjugo por um pathos, que assume a esfera da determinação do sentido. Deleuze é categórico, afigura-se, no hoje, um não-saber fundamental, que inaugurará a possibilidade de contatos, de intensificação das apropriações.
Apropriar de modo a reduzir o apropriado é a marca da patologia do presente. Este modo de apropriação resulta da repulsa ao contato, ao impedir a expressão da diferença de dada singularidade. A patologia poderia ser descrita como a sanção, comandada pela vontade reativa, que sempre julga e condena, compreendendo que dominar é destruir, de modo a vir a se aliviar dos contatos. O signo desta patologia é a ausência do admirar. O admirar assenta-se na capacidade de extasiar. Por extasiar toma-se o fruir de um estar diante dê. A negação e ou afirmação do pró e do contra exprimem a ausência do extasiar, pois reduzem, a expressão do pensar de uma singularidade, ao seu querer. Duas ausências se expressam como presentes, não saber admirar, e a tudo submeter. “Não convém proceder assim”. Deleuze, pg., 167
Voltar é debruçar-se, de modo, a perceber o problema. O problema é o modo e a sua expressão. Lá se encontra a possibilidade de tonificar a sua potencialidade. Cabe ao pensar – extasiado, capaz de se admirar e não apenas se posicionar, “remontar aos problemas que são formulados por um autor de gênio, para chegar àquilo que ele não diz no que diz, para daí extrair alguma coisa que ainda lhe devemos, embora com o risco de fazê-la voltar com contra ele mesmo”. Pg, 167
Chegar aquilo que ele não diz no que diz. Como se chega àquilo que se diz no que não se disse? Perguntaríamos por algum esquecimento? Perguntaríamos por alguma deficiência da linguagem, quando algo lhe escapa? Perguntaríamos pelas intensidades, proporíamos uma genealogia? Proporíamos uma analítica da ideologia? Como apropriar-se de algo que estava lá e por mais que disséssemos continuaria não dito? Enquanto nos situarmos nas oposições próprias à imagem dogmática do pensamento, o sentido da questão nos escapará, pois os pares de claro e escuro, memória e esquecimento, essência e aparência, sujeito e objeto, linguagem ideal e fatos a serem representados não atingem o centro da questão, pois como “chegar àquilo que ele não diz no que diz”? Uma pista “um aforismo de Nietzsche é uma máquina de produzir sentido, em uma certa ordem, que é a do pensamento”. Pg 168.
Por ora, a maquinação que é o pensar, mesmo que dogmática, é dada ao pensamento, isto é, a ininterrupta possibilidade de fazer brotar do já pensado, algo a se pensar! Admirar é a expressão mesma do fazer pensar. Assim, a história da filosofia, já tornada morta, no tom tagarela da academia, faria pensar mais uma vez, reluzindo o que não foi dito no que foi dito: o a se pensar.
Provocações – seduzir é permitir se amar, amar é fazer brotar o que há, na sua exuberância. Longe de reduzir, interpretar é fazer luzir..
terça-feira, 8 de junho de 2010
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